03/12/2025 - 20:55
Uma ala de caminhoneiros ameaça uma greve geral no País a partir desta quinta-feira, 04. O movimento é capitaneado pela União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC). A maior parte da categoria, entretanto, diverge da manifestação e teme uso político de uma eventual paralisação. Entidades que representam transportadores autônomos refutam uma adesão formal ao movimento, apontam para anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro como pano de fundo e afirmam que os caminhoneiros não serão utilizados como “massa de manobra”.
A UBC estima que haverá adesão de aproximadamente 20% da categoria em mobilização inicial. “É uma proposição nacional para os cerca de 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do País. Vemos grande aderência neste movimento, mas as pessoas são livres para dizer se querem vir participar ou não. Fizemos embasamento legal para o movimento ter legalidade”, disse o representante da entidade, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão caminhoneiro, ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, nesta quarta-feira, quando transitava nos corredores da Câmara dos Deputados.
N terça, a entidade protocolou uma petição quanto à greve junto à Presidência da República. A UBC lista 18 pleitos da categoria. Entre eles, a estabilidade contratual do caminhoneiro; a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas; atualização do piso mínimo do frete especialmente para veículos de nove eixos; congelamento das dívidas de caminhoneiros autônomos pelo prazo de 12 meses; aposentadoria especial após 25 anos de atividade; isenção de pesagem entre eixos; linha de crédito de até R$ 200 mil para caminhoneiros; destinação de 30% das cargas de empresas estatais para caminhoneiros autônomos. Outra demanda da categoria é a adoção de medidas administrativas que regularizem a situação de motoristas autônomos envolvidos em mobilizações anteriores. No documento, a entidade pede uma resposta formal às reivindicações da categoria até quinta, antes da mobilização nacional.
Chicão negou qualquer tipo de ligação da greve com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro ou com a pauta da anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. “A anistia que estava na petição era relacionada a processos que sofremos sanções em greves anteriores, como eu que ainda possuo contas bloqueadas”, relatou. “Nós não podemos misturar as coisas, com movimento político. Estamos falando somente da questão de transporte”, afirmou Chicão, que participou da paralisação nacional de maio de 2018, que motivou a criação da tabela do frete na gestão do então presidente Michel Temer.
A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) negam indicativo de paralisação da categoria neste momento.
O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, refuta a participação de caminhoneiros liderando manifestações de cunho político ou partidário. “A pauta da anistia será chamada em meio a essa mobilização. Não é justo levantarmos uma pauta dessa, porque é uma pauta política, de fato”, disse Chorão à reportagem. “Existe de fato um movimento velado para induzir transportador a parar o País por outra pauta, trazer os caminhoneiros a entrar na manifestação e depois ampliar a pauta para tom político. Não apoiamos isso e orientamos que os caminhoneiros não adiram para não serem prejudicados”, relatou Chorão.
A CNTTL também não vai apoiar eventuais indicativos de greve com viés político, segundo o diretor da confederação, Carlos Litti. “Não apoiaremos, pois se trata de uma pauta política por anistia. Há pautas setoriais justas apresentadas, mas no meio um pedido de anistia para crimes cometidos nos últimos dez anos, o que é um absurdo”, afirmou Litti.
As entidades reconhecem, contudo, que lideranças mais inflamadas da categoria podem mobilizar ações localizadas e regionais conforme as preferências políticas e partidárias individuais dos transportadores autônomos. A categoria foi um dos segmentos de maior apoio à eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018. Em julho deste ano, a oposição tentou articular mobilização de caminhoneiros em meio ao recesso parlamentar em um movimento “pró-Bolsonaro”, que acabou frustrado.