07/10/2015 - 19:07
Um drône sobrevoando o estádio exaltou os sentimentos nacionalistas: a Albânia recebe a Sérvia em partida válida pelas eliminatórias para a Eurocopa-2016, uma revanche da alta tensão de um duelo que terminou numa crise política, há um ano.
Nesta quarta-feira, um dos ônibus que levava a delegação sérvia a Tirana foi apedrejado, mas ninguém ficou ferido, informou o presidente da Federação Sérvia de Futebol (FSS), Tomislav Karadzic.
A polícia albanesa, em comunicado, minimizou o incidente: “Foi constatada uma pequena fissura no ônibus (…), o que supõe que o veículo foi atingido por uma pedra lançada de longe”.
O ambiente entre ambos os países é tenso desde a partida de ida, em outubro passado em Belgrado, quando o jogo precisou ser suspenso pouco antes do intervalo pela confusão que resultou num incidente diplomático.
O que está em jogo vai muito além do futebol, apesar da Albânia ainda buscar uma classificação histórica e inédita para a fase final de um grande torneio.
Cerca de 1.500 policiais serão encarregados de garantir que nenhum incidente aconteça no estádio de Elbasan, 50 km ao sul de Tirana. A delegação sérvia será escoltada por 350 policiais e os moradores dos prédios nos arredores do estádio foram proibidos de receber convidados para assistir à partida.
Os ingressos para o jogo são numerados e levam uma mensagem incentivando “o fair play, o respeito ao adversário”.
Como já aconteceu em Belgrado, onde a partida ficou marcada por graves incidentes, foi proibida a presença de torcedores visitantes nas arquibancadas, com a exceção simbólica de um grupo de 70 estudantes sérvios que se encontram na Albânia participando de um projeto europeu sobre os Bálcãs.
Do lado albanês, é preciso evitar qualquer incidente que possa prejudicar novamente as relações entre os dois países e, principalmente, que possa colocar em risco a classificação histórica da seleção ao torneio continental.
Atualmente na 3ª colocação do Grupo I, a Albânia enfrentará no dia 11 de outubro a Armênia na última partida, enquanto a Dinamarca 2ª colocada com um ponto a mais, termina sua participação nas eliminatórias nesta quinta-feira contra Portugal, líder da chave.
“As provocações e as tensões não interessam à Albânia”, reiterou o presidente da federação, Armando Duka. Através da imprensa, os jogadores também fizeram campanha pelo respeito: “Não ao racismo, respeitem os hinos, não provoquem incidentes”.
Do lado sérvio, nutre-se um sentimento de revanche, já que, esportivamente, a seleção não tem mais chances de classificação. O país ainda não conseguiu digerir a punição aplicada em julho pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), que tirou três pontos dos sérvios pelos incidentes que suspenderam a partida de ida.
“Todos queremos estragar os planos (da Albânia), vencer e impedir que eles se classifiquem”, admitiu recentemente o goleiro sérvio Vladimir Stojkovic.
Este confronto diplomático-esportivo começou em 14 de outubro de 2014, em Belgrado, quando um drône sobrevoou o estádio durante o jogo. O aparelho carregava uma bandeira com um mapa da ‘Grande Albânia’, um projeto nacionalista que busca reagrupar num mesmo Estado as diferentes comunidades albanesas que vivem nos Bálcãs.
O responsável pelo incidente, Ismail Morina, de 33 anos, pessoa que pilotava o drône e que pretendia assistir à partida de volta, não estará presente no estádio de Elbasán, depois de ser preso na terça-feira em Tirana por porte ilegal de arma.
O episódio do drône causa uma revolta na torcida sérvia, que lançou sinalizadores e objetos no gramado para protestar. Em seguida, houve invasões do campo e cenas de pugilismo entre os espectadores e jogadores. A partida foi suspensa aos 41 minutos, quando o placar ainda apontava 0 a 0.
As autoridades sérvias condenaram o sobrevoo do drône e denunciaram uma “provocação política premeditada”. Já Tirana garantiu que os incidentes começaram antes, quando os torcedores sérvios gritaram “morte aos albaneses”.
Sérvios e albaneses mantêm relações hostis históricas. O último capítulo dessa tensão relação aconteceu em fevereiro de 2008 com a proclamação unilateral de independência de Kosovo, ex-província sérvia habitada majoritariamente por albaneses.
O incidente do drône serviu para alimentar as tensões entre ambos os países e obrigou o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, a adiar a visita agendada para Belgrado, a primeira de um chefe do governo de Tirana à capital sérvia em 68 anos, em três semanas.
Apesar de tudo, as autoridades de ambos os países tentaram acalmar as relações por pressão de Bruxelas, que aproveitou o fato de Albânia e Sérvia aspiraram um lugar na União Europeia.
Rama finalmente visitou Belgrado e Aleksandar Vucic, primeiro-ministro sérvio, viajou em seguida a Tirana. Os dois mandatários se comprometeram a esquecer o incidente ocorrido, com o objetivo de manter a estabilidade na região.
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