Segundo o Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner, há ‘incentivos perversos’ no modelo de remuneração dominante na medicina brasileira atualmente – cenário que preocupa e deve ser debatido por todas as partes envolvidas, segundo o médico e executivo.

+IPO da Max Titanium? CEO do Grupo Supley fala sobre eventual entrada na bolsa de valores

+‘Já tentei ter fábrica no Brasil, mas a conta não fecha’, diz Caito Maia, da Chilli Beans

Ao Dinheiro Entrevista, o Presidente do Albert Einstein relata que esse panorama, inclusive, favorece pedidos de exames desnecessários.

“O modelo de remuneração preponderante no Brasil é um modelo que remunera o serviço. Se eu estou querendo manter a população mais saudável e eu remunero quem tá doente, existe um estímulo escondido, perverso, de que eu tenho que tratar doenças. Então, quanto mais gente doente, melhor”, observa Sidney Klajner.

“Quando a gente passar a remunerar o valor do tratamento ou o número de pessoas saudáveis, eu vou ter um estímulo ao contrário. Eu não vou estimular a fazer exame desnecessário. Eu não vou ficar tentado a fazer procedimentos que não precisam ser feitos. Então, o modelo em que a gente vive, não tô falando só de Brasil, que é o que remunera o serviço, ele é perverso para que exista mais serviço”, completa.

O médico defende um investimento e uma atenção maior na saúde preventiva, e que é necessária uma remuneração maior para isso.

“Isso é um desafio grande às organizações, você passar a modelos de remuneração que remuneram o valor. E não dá para fazer isso sozinho. Isso tem que ser uma virada de chave, porque quem começar esse movimento sozinho não vai ter condições de sobreviver, porque o sistema não é assim. Então, o modelo de remuneração, ele tem que ser voltado a manter saúde das pessoas.”

Albert Einstein faz investimentos de olho em alta de casos de câncer

Em um cenário de envelhecimento da população e de expectativa de aumento do número de casos de câncer nos próximos anos, Klajner avalia que o sistema de saúde – tanto público quanto privado – deve redobrar investimentos e aumentar a prioridade com a oncologia.

“A expectativa é que 19 milhões de novos casos [de câncer] apareçam ao ano no mundo até 2030, e isso acontece também pelo envelhecimento e pela própria qualidade de vida”, comenta.

Nesse sentido, frisa que o Albert Einstein está caminhando para ter um centro dedicado à oncologia – que inclusive irá centralizar os tratamentos oncológicos da instituição, com 200 leitos.

O empreendimento em questão está sendo construído no Parque Global, um novo bairro planejado na Zona Sul de São Paulo, entre Cidade Jardim e Parque Burle Marx, às margens da Marginal Pinheiros.

A visão da instituição é de que o centro “mudará drasticamente o paradigma do tratamento do câncer” e deve posicionar o Albert Einstein entre os 10 melhores hospitais oncológicos do mundo até o ano de 2030. O centro deva balizar 12 mil atendimentos ao ano.

O centro estará localizado em uma área de 38 mil metros quadrados e inclui:

  • 10 salas cirúrgicas (das quais uma sala híbrida e duas salas de cirurgia robótica)
  • 160 leitos automatizados
  • 20 UTIs
  • 20 semi-intensivas
  • 120 clínicas médicas cirúrgicas
  • 84 consultórios
  • 36 salas de quimioterapia
  • 15 postos de laboratório

Além dos casos de câncer, Klajner frisa que, de um modo geral, o sistema de saúde do Brasil necessita de aportes mais robustos de capital e de modernização, dado o cenário de inversão da pirâmide etária.

Parcerias público-privadas e SUS

Klajner também comenta que enxerga as parcerias público-privadas não como ‘único caminho’, mas ‘sem dúvida um dos caminhos’ para melhorar a qualidade dos atendimentos do SUS.

“Eu não tenho dúvidas que diante dos desafios que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem, a parceria público-privada consegue vencer esses desafios de uma forma mais rápida, eficaz e produtiva, dependendo muito da área de atuação, por exemplo, em alta complexidade, em atendimentos, ou na medicina que adota novas tecnologias, e na eficiência do giro de leitos.”

A visão do presidente do Albert Einstein é de que esse cenário tem se concretizado, dado que ‘cada vez mais o Ministério da Saúde tem tido oportunidade de interagir com organizações privadas’.