07/05/2008 - 7:00
IMAGINE UMA REGIÃO SITUADA A MAIS DE 700 metros do nível do mar, onde a temperatura predominante gira em torno de 17º C. Imagine também que neste local o cultivo de parreira está em toda parte e o vinho tinto produzido ali começa a agradar os consumidores de diversos cantos do mundo. O mais surpreendente é que no rótulo desse vinho esteja grafada a seguinte frase: Made in Brazil. É na Serra Gaúcha que a maioria dessas vinícolas está localizada. No ano passado, 31 vinícolas ? das quais 90% concentram-se na Serra ? exportaram 50 milhões de litros de vinhos finos, somando quase US$ 2,4 milhões em exportações para países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, República Tcheca e, mais recentemente, Japão. A Ásia é o próximo mercado em que essas empresas querem fincar suas bandeiras. Somando todas as qualidades de vinho exportadas, o Brasil fechou 2007 na casa dos US$ 4 milhões. Atualmente, 85% da produção brasileira é de vinhos de mesa. Mas os produtores estão de olho na qualidade e querem ser reconhecidos pelo alto valor agregado de seus produtos. Se comparado a países como França ? que exporta 48 milhões de hectolitros por ano ?, o volume ainda é incipiente. No entanto, a participação do vinho fino nacional no mercado internacional apresenta crescimento de quase 200% desde que as exportações oficialmente tiveram início, em 2002. Na ocasião, seis vinícolas uniram-se, com o apoio do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex), a fim de prospectar os clientes estrangeiros e montaram o projeto Wines from Brazil. ?A idéia é potencializar a exportação do setor?, afirma o gestor do programa pela Apex, Marcos Soares. A Apex subsidia parte do orçamento destinado à participação em feiras e eventos no Exterior. Para os próximos dois anos, estão previstos investimentos de R$ 3,8 milhões, dos quais a agência entra com R$ 1,8 milhão. Com esimportas ações, até 2009, a indústria pretende exportar US$ 5 milhões.
Miolo e Aurora estão entre as poucas empresas de porte médio que participam desta empreitada. A maioria é microempresa. De olho no mercado externo, a Miolo investiu, nos últimos oito anos, R$ 90 milhões. Até 2012, a vinícola pretende produtador. Foi o caso da Boscato. ?Sentimos necessidade de ampliar o nosso escopo e com eles conseguimos participar de feiras no Exterior, reduzindo nosso custo em até 40% por participação?, explica Clóvis Boscato, proprietário. Entre seus consumidores estão República Tcheca e Alemanha. A vinícola tem capacidade de produzir 12 milhões de litros de vinho. Em 2007, eles ficaram na casa dos 6,5 milhões de litros, registrando faturamento de R$ 70 milhões. Desse montante, US$ 1,2 milhão veio da exportação. Nesse campo, a Aurora é mais experiente. Na década de 90, a empresa chegou a exportar US$ 15 milhões, representando 97% das vendas externas totais do produto. ?A mudança no perfil do consumidor, que antes preferia o vinho branco, nos obrigou a readaptar nossos vinhedos para voltar a exportar?, explica o superintendente da Aurora, Alem Guerra. No ano passado, a vinícola exportou US$ 800 mil só de vinhos finos. Esse valor representou apenas 1% do faturamento da empresa.
Para melhorar a qualidade do vinho nacional, alguns empreendedores recebem a ajuda do Sebrae, que pretende investir, até 2010, R$ 2,5 milhões, beneficiando 600 empresas. Outras empresas acabaram aderindo ao Wines from Brazil porque foram procuradas diretamente pelo imporzir 400 mil litros por ano e comercializa cerca de 280 mil litros por ano.
França e Itália são os principais alvos da Don Laurindo, vinícola que produz 150 mil garrafas por ano. ?Qualidade para competir nós temos. Falta apenas conseguir mostrar nosso produto?, afirma o diretor Ademir Brandelli. Com faturamento anual de R$ 3 milhões, a empresa quer destinar 20% de sua produção para a exportação. Mas não quer ampliá-la. ?Somos uma empresa familiar. Meu pai, Laurindo, aos 77 anos, até hoje trabalha no cultivo dos vinhedos. Queremos ser conhecidos pela qualidade e não pela quantidade.? Sonho de todos esses empreendedores, tanto no mercado externo como no interno.