País planeja entregar nos próximos meses uma estratégia nacional para proteger população civil em caso de ataque. Expectativa é ampliar capacidade de abrigos de emergência para um milhão de pessoas.A Alemanha acelerou as preparações para modernizar e expandir sua rede de bunkers sob o temor de que a incursão russa na Ucrânia se expanda para outros países europeus. O objetivo do governo é garantir que a infraestrutura de abrigos de emergência no país possa receber ao menos um milhão de pessoas em caso de um ataque.

O Departamento Federal de Proteção Civil e Assistência a Desastres da Alemanha (BBK, na sigla em alemão) calcula que, em um cenário de conflito ampliado, o país se tornaria o centro de mobilização e logística em tempo de guerra e, portanto, alvo prioritário de Moscou.

O chefe de Defesa da Alemanha, General Carsten Breuer, também alertou recentemente que a Rússia poderia estar em posição de “lançar um ataque em larga escala contra o território da Otan” até 2029.

Diante deste cenário, o presidente da BBK, Ralph Tiesler, prometeu acelerar a entrega de um plano nacional discutido pelo governo alemão desde julho de 2024 para proteger civis em caso de ataques. A estratégia deve ser apresentada nos próximos meses.

“Por muito tempo, houve uma crença generalizada na Alemanha de que a guerra não era um cenário para o qual precisávamos nos preparar. Isso mudou. Estamos preocupados com o risco de uma grande guerra de agressão na Europa”, disse Tiesler ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, em entrevista publicada nesta sexta-feira (06/07).

A estratégia prevê a adaptação da infraestrutura já existente para ampliar a capacidade dos abrigos de emergência. “Como solução mais rápida, o governo pretende adaptar túneis, estações de metrô, garagens subterrâneas e porões de prédios públicos para servirem como abrigos emergenciais. Criaremos rapidamente um milhão de vagas para abrigos”, completou Tiesler.

Esses novos abrigos deverão oferecer condições mínimas para permanência temporária, com alimentos, banheiros e camas de campanha. “É essencial que as pessoas saibam rapidamente onde encontrar proteção”, afirmou.

Rede reduzida e precária

Atualmente, segundo o Ministério do Interior, existem 579 bunkers em todo o país, com capacidade para acolher cerca de 478 mil pessoas. No entanto, muitos desses espaços estão deteriorados, pois não recebem manutenção há décadas.

A pasta também confirmou que há potencial para ampliar a proteção civil aproveitando túneis e porões, que podem oferecer boa resistência a explosões, destroços e estilhaços.

Parte dessas estruturas, no entanto, pertence à iniciativa privada. Segundo Tiesler, serão necessários investir ao menos 10 bilhões de euros (R$ 63 bilhões) nos próximos quatro anos para implementar o plano nacional, e o investimento total pode chegar a 30 bilhões de euros (R$ 190 bilhões) até o fim da próxima década.

A expectativa é que o superpacote de gastos aprovado pelo chanceler federal alemão Friedrich Merz permita uma alocação maior para implementar o plano.

Ao Süddeutsche Zeitung, Tiesler ainda confirmou que a estratégia vai incluir a ampliação da rede de sirenes de emergência – hoje, 40 mil equipamentos estão distribuídos pelo país.

Além disso, até o final do ano, a Alemanha deverá contar com 400 veículos adaptados para registrar níveis de radiação e detectar a presença de armas químicas e biológicas. Outros 500 deverão ser adquiridos ao custo de 160 milhões de euros.

Aproximação com Ucrânia irrita Moscou

O recente anúncio de Merz de que o país vai produzir armas de longo alcance de forma conjunta com a Ucrânia também aumentou as tensões entre Berlim e Moscou.

Neste sábado (07/06), o presidente do parlamento russo, Vyacheslav Volodin, afirmou que os líderes alemães estão criando condições que podem levar a um confronto.

“Vocês mesmos sabem aonde isso pode levar”, disse ele em referência à expansão militar alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, a Rússia não quer levar a guerra à Alemanha. “[Mas] se chegar a esse ponto, então estamos prontos para isso”, continuou.

O Escritório Federal de Compras Militares da Alemanha também prepara uma ampliação logística em caso de conflito. Segundo a chefe do departamento, Annette Lehnigk-Emde, as forças armadas alemãs têm três anos para adquirir o equipamento necessário para combater um possível ataque russo ao território da Otan.

“Tudo o que for necessário para estar totalmente preparado para defender o país deve ser adquirido até 2028”, disse ela ao jornal alemão Tagesspiegel. Lehnigk-Emde avalia que a prioridade seria a aquisição de equipamentos pesados, como tanques antiaéreos Skyranger.

gq (afp, ots)