14/04/2019 - 11:36
Com a desaceleração da economia global e sinais de que serão necessárias medidas de incentivo, economistas têm pressionado a Alemanha e outros países que têm condições de prover estímulos mas não estão adotando medidas neste sentido até o momento. Políticas de estímulo à economia estiveram no centro das discussões dos encontros do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, Estados Unidos, neste fim de semana. Em seu relatório anual sobre políticas fiscais globais, o FMI destacou a Alemanha, a Coreia do Sul e a Austrália como países onde estímulos fiscais poderiam fazer sentido. No início deste mês, o FMI pediu à Suíça que aumentasse os gastos públicos.
O FMI, apoiado pelos EUA, tem pressionado os alemães e outros países com superávits orçamentários a cortar impostos ou aumentar os gastos a fim de sustentar o crescimento. Países com excedentes orçamentários “certamente deveriam fazer uso disso para investir e participar do desenvolvimento econômico e do crescimento”, disse a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. “Mas não foi feito o suficiente nessa área”, acrescentou.
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, afirmou concordar com a posição do FMI em relação a países superavitários, como a Alemanha. Os EUA estão, no momento, com grandes déficits. A ideia por trás do estímulo é que, quando as economias estão fracas, os governos substituem a falta de demanda privada por meio de gastos ou cortes de impostos. Em tempos de intenso estresse, como a crise financeira global de uma década atrás, os economistas concordam que os governos devem fazer todo o possível para impulsionar o crescimento.
Mas o uso de estímulos fiscais em larga escala encontra resistência da Alemanha, que administra uma política econômica conservadora. O ministro das Finanças do país, Olaf Scholz, reagiu às críticas, apontando para o aumento do investimento público, redução de impostos e maior apoio a famílias de baixa renda já feitos pelo governo alemão. “Seria um serviço muito bom se você contar ao resto do mundo que eles (FMI e economistas) estão exigindo algo que já fizemos”, disse Scholz a um repórter durante coletiva de imprensa na sexta-feira. As finanças estáveis da Alemanha colocaram o país em uma melhor posição para responder à próxima recessão, segundo o ministro alemão, e os riscos globais atuais não são as finanças da Alemanha, mas sim as decisões “feitas pelo homem”, incluindo o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e as disputas comerciais.
A Alemanha e a Suíça estão usando excedentes anuais para reduzir suas dívidas e se preparar para as pressões orçamentárias a serem exercidas por futuros aposentados. Se a Alemanha lançasse um grande programa de estímulo, poderia encorajar países deficitários, como França e Itália, a aliviarem medidas voltadas a trazer seus orçamentos de volta ao equilíbrio. As regras europeias estabelecem um teto para déficits de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), embora exceções sejam feitas em momentos de estresse. Os EUA não têm esse limite.
A economia alemã, dependente das exportações, contraiu no terceiro trimestre de 2018 e ficou estável no quarto trimestre. Números fracos relacionados ao setor de manufatura sugerem que a atividade econômica do país poderia voltar a cair no primeiro semestre de 2019. O problema poderá afetar a zona do euro, com 19 membros, onde a Alemanha é o maior membro, e se espalhará por países fora do bloco, como a Suíça, que dependem da Europa para exportar. O professor da Universidade de Harvard, Ken Rogoff, explica que a desaceleração econômica da China “atingiu duramente a economia alemã, e há um bom argumento para usar a política fiscal para suavizar o ajuste”, observando a baixa dívida pública do país, de menos de 60% do PIB.
A Alemanha tem superávits anuais desde 2014 e espera-se que este quadro se mantenha até 2024, segundo o FMI. As receitas fiscais aumentaram 8% desde 2017, mais rápido do que os gastos sociais, e os alemães que trabalham hoje pagam o segundo maior nível de imposto de renda de todos os membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atrás apenas da Bélgica.
A posição dos EUA contrasta com a da Alemanha, apesar de enfrentarem problemas semelhantes com os gastos de idosos. O governo norte-americano impulsionou a economia do país com cortes de impostos e aumento de gastos, com o objetivo de gerar uma taxa de crescimento anual do PIB de 3%. Os déficits anuais são superiores a 4% do PIB. A esperança é que, ao expandir o tamanho de sua economia, os EUA estejam em uma posição melhor para pagar sua dívida no futuro. Os efeitos colaterais comuns do estímulo – rendimentos mais altos dos bônus e aumento da inflação – não se materializaram, reforçando o argumento dos estímulos e enfraquecendo a visão da Alemanha de que é melhor se preparar para a próxima recessão.
A Coreia, outro país que poderia adotar medidas de estímulo à economia, conforme o FMI, já tem um excedente orçamentário anual, enquanto da Austrália espera-se que o país se torne superavitário nos próximos anos. Diferentemente do observado na Europa, essas economias parecem não precisar de muitos estímulos e seus bancos centrais têm espaço para reduzir as taxas de juros, se necessário. Fonte: Dow Jones Newswires.