14/12/2005 - 8:00
Foi um autêntico tiro pela culatra. Primeiro, o governo permitiu que o Conselho de Controle da Atividades Financeiras, órgão do Ministério da Fazenda, vazasse a informação de que a Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, teria feito um depósito suspeito, de R$ 1 milhão, em sua conta bancária. Era dinheiro referente à venda de camisetas para o PT na campanha municipal de 2004. Depois, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, acusou: ?É caixa dois.? Na seqüência, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que o caso teria que ser investigado e a Polícia Federal cogitou pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal da Coteminas. Por último, foi a vez do ex-tesoureiro petista, Delúbio Soares, dizer que os recursos vinham do publicitário Marcos Valério. Estava criada a ligação entre a Coteminas, maior empresa têxtil nacional, e o valerioduto. Pois bem: logo se descobriu que a empresa de Alencar emitiu notas fiscais para cada uma das camisetas vendidas ao PT, pagou os impostos e ainda registrou o recebimento do dinheiro que foi levado, numa mala, por uma funcionária do PT. ?Aqui não tem um grama de algodão no caixa dois?, disse Alencar à DINHEIRO (leia sua entrevista abaixo). ?E pena que pagaram menos de 10%?, lamentou o vice. Ficou pendente uma dívida de R$ 12 milhões do PT em relação à Coteminas.
Na prática, a história serviu para manchar ainda mais a imagem do PT, que pode ter um caixa dois maior do que se imaginava. Isso porque os recursos de Valério foram entregues em 2003 e 2004. O pagamento não contabilizado à Coteminas, por sua vez, ocorreu em maio deste ano. Por isso, Delúbio não foi levado a sério quando disse que o dinheiro do valerioduto, emprestado em 2004, ficou sete meses guardado até ser entregue à empresa de Alencar. ?O caso demonstra que o PT pode ter outras fontes de recursos não contabilizados?, diz o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). ?Além do caixa dois, é possível que exista um caixa três?. O próprio relator da CPMI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), negou a necessidade de quebra dos sigilos da Coteminas. ?Um pedido de esclarecimentos basta?, disse ele. Essa tese é endossada por juristas. ?Se a empresa vendeu uma mercadoria e comprova que emitiu notas fiscais, quebrar o seu sigilo seria uma violência?, avalia Ives Gandra Martins.
O episódio expôs o abismo entre os métodos do partido do presidente e da empresa de Alencar. Na terça-feira 6, Lula e seu vice se reuniram no Planalto. Alencar se queixou. ?O que a gestão antiga do PT fez foi um absurdo?, disse o vice. Lula disse que não era responsável, mas foi solidário. Um dia depois, o filho de Alencar, Josué Gomes da Silva, que é também presidente da Coteminas, foi espontaneamente à Polícia Federal. Levou um pequeno dossiê com as notas fiscais, as cartas de cobrança e o recibo com assinatura da funcionária do PT. ?Era caixa dois para eles?, disse Josué. ?Para nós é caixa um, porque só temos caixa um?. E quanto aos R$ 12 milhões pendentes? ?Eles terão que pagar?, diz Alencar. ?E o quanto antes?.