19/10/2013 - 7:00
“Esse investimento vai fortalecer as cadeias petroquímicas do Brasil”, diz a diretora comercial de petroquímicos básico da Braskem, Isabel Figueiredo. “Estamos agregando valor ao nosso negócio.” Mais que uma sopa de letrinhas, as siglas ABS e SAN permitem fortalecer a presença da Braskem em setores industriais com grande apelo de consumo, como o automotivo, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Tanto o ABS quanto o SAN podem substituir as chapas de metal usadas na produção de computadores, máquinas de lavar, aparelhos de som e painéis de carros.
Meta ambiciosa: a fábrica que será erguida em Camaçari terá capacidade para produzir 100 mil toneladas, por ano
Atualmente, o Brasil é suprido por importações, vindas principalmente dos EUA, o que deixará de acontecer uma vez que esses plásticos são produzidos a partir da nafta, que é um derivado do petróleo. O avanço do xisto pode garantir a independência energética dos americanos, mas reduz a competitividade do país no mercado de ABS e SAN. E isso explica o fato de a Braskem e a sua sócia alemã, que domina 25% dessas vendas no mundo, terem se animado a investir nessa área. A fábrica, em princípio, ficará pronta em 2017 e a expectativa é produzir 100 mil toneladas de ABS e SAN, volume ligeiramente acima da demanda atual de 80 mil toneladas no País.
O excedente será enviado para os demais países do continente. Isabel estima que somente as compras brasileiras cheguem a 100 mil toneladas daqui a quatro anos, quando a fábrica for inaugurada. “Já nascemos querendo crescer”, afirma a executiva. Os desembolsos serão feitos na proporção da sociedade: a Braskem detém 30% do capital e os 70% restantes caberão à sua parceira. “Acreditamos que a parceria com a Styrolution será positiva para os negócios da Braskem”, afirma Carolina Flesch, analista do BB Investimentos, em relatório divulgado na segunda-feira 14, no mesmo dia do anúncio da associação.
Para Isabel Figueiredo, diretora da Braskem, as resinas ABS e SAN vão agregar valor ao portfólio da empresa petroquímica
Mercado não deve faltar. As vendas de automóveis, caminhões e ônibus em 2016, por exemplo, devem chegar a cinco milhões de unidades, segundo projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O ABS e o SAN são amplamente usados na montagem de peças dos carros que rodam por aqui. Esse tipo de plástico faz parte dos consoles e painéis dos veículos. “Temos matéria-prima e mercado, o que me faz acreditar que não vamos sofrer com a concorrência dos asiáticos”, diz a diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira. “Vai ser natural a troca de fornecedor.”
Situação muito diferente da vivida pela Nitriflex e pela LanXess, que, em meados da década passada, tiveram de abortar os planos de produzir o ABS por aqui. A falta de competitividade e a fraca demanda obrigaram as empresas a fechar suas unidades em 2006. “Agora, a produção de ABS sai do papel”, diz o diretor da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda. Segundo ele, a força da Braskem na América Latina e a presença global da Styrolution são ingredientes mais do que favoráveis para o sucesso da empreitada. “Uma tem matéria-prima e a outra a tecnologia”, afirma Zuñeda.