Nos últimos três anos, enquanto as grandes empresas de construção viveram uma verdadeira reforma dentro de casa para reverter resultados sofríveis com a habitação popular, a Eztec ampliou seus domínios no mercado imobiliário. Fundada há 35 anos pelo empresário de família libanesa Ernesto Zarzur, a Eztec resistiu ao apelo da nova classe média e manteve-se fiel à estratégia de construir imóveis voltados para clientes de alta renda na região metropolitana de São Paulo. Deu certo. Em 2013, suas cotações na Bovespa subiram 15,6%, enquanto o Ibovespa recuou 15%. A prévia dos resultados do ano passado, ainda não divulgados, indica que a incorporadora bateu todos os seus recordes: os lançamentos apresentaram um salto de 61%, para R$ 1,92 bilhão, e as vendas avançaram 84%, para R$ 1,6 bilhão. 

 

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Ernesto Zarzur, da Eztec: papéis da queridinha do mercado subiram 15,6%, em 2013

 

“Estamos otimistas com o Brasil, porque a oferta de imóveis continua escassa e o pleno emprego ainda é uma força motriz muito importante para o nosso setor”, afirma Emílio Fugazza, diretor de relações com investidores da Eztec. “Tudo indica que manteremos a rentabilidade com o crescimento dos nossos resultados, até porque temos um banco de terrenos suficiente para desenvolvermos projetos nos próximos três anos”, complementa. Isso poderá manter a empresa como uma das queridinhas do setor de construção dentre os investidores. “A Eztec não surfou na onda do mercado e conseguiu maior rentabilidade, e, justamente por já entregar resultados, ela pode ser uma ação que tenha alguma possibilidade de crescer menos neste ano”, diz Wesley Bernabé, analista do BB Investimentos. 

 

O preço-alvo para as ações, atualmente negociadas ao redor de R$ 27, varia, dependendo da corretora, entre R$ 35 a R$ 40, para os próximos 12 meses, o que representa uma valorização potencial de 40% a 48%. Apesar dos bons números da Eztec, o setor de construção continua sendo motivo de frustração para muitos investidores. Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper, explica que isso se deve às expectativas elevadas com relação às construtoras desde os períodos de alta do mercado imobiliário, entre 2007 e 2010. “Naquele momento, todos mediam o sucesso dessas companhias pela capacidade que elas tinham de lançar empreendimentos”, diz Almeida. 

 

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Meyer Nigri, da Tecnisa: ações da companhia subiram 11,17% em 2013

 

“Agora, o otimismo passou e muitas empresas viram que não seria tão simples balancear o aumento dos custos com a rentabilidade.” Para não ver os números trincarem, muitas entraram com tudo no segmento de baixa renda, influenciadas pelo programa governamental Minha Casa, Minha Vida, e decidiram atuar em diversos Estados brasileiros. Isso comprometeu os lucros e levou a vários desabamentos – no pregão, pelo menos. A boa notícia é que o setor está longe de merecer uma pá de cal. “Entre mortos e feridos, todos se salvaram. As empresas tiveram resultados muito ruins, mas nenhuma delas quebrou”, afirma Flávio Conde, analista da Gradual Investimentos. 

 

“A pior fase já passou.” De 2012 a 2013, as companhias pisaram no freio de lançamentos e reconheceram prejuízos, mas agora elas encontraram um novo patamar e estão mais maduras e mais lucrativas, complementa. Um bom exemplo é o da MRV, mais concentrada nos edifícios para a baixa renda. Nessa nova fase, seus números vieram bem robustos. Segundo a prévia operacional, o volume de lançamentos de 2013 foi de R$ 3,5 bilhões, enquanto as vendas atingiram R$ 5,1 bilhões. “Agora, estamos vendo uma competição menor voltada para as classes mais baixas”, afirma Leonardo Correa, diretor executivo de finanças da MRV. 

 

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Wesley Bernabé: “A Eztec não surfou na onda do mercado”

 

“Além disso, conseguimos reduzir estoques e gerar bastante caixa. Tanto é que estamos estudando uma elevação nos dividendos a ser pagos aos acionistas.” Não à toa, a MRV aparece entre as recomendações do BB Investimentos. Além dela, a casa sugere comprar Cyrela, que apresentou uma geração de caixa de R$ 355 milhões em 2013 e lançou R$ 2,69 bilhões no período, e a Gafisa, que conseguiu sanear seu caixa com a venda de 70% da incorporadora Alphaville Urbanismo para a gestora americana Blackstone, em junho. “Outros papéis, como Brookfield, Rossi e PDG, são menos confortáveis”, diz Bernabé. 

 

A Brookfield optou por uma estratégia agressiva durante o apogeu imobiliário e teve de fazer ajustes em 2013, reduzindo custos e lançamentos. Além disso, a construtora denunciou um esquema de cobrança de propinas por funcionários da Prefeitura de São Paulo para a liberação de habite-se, caso que ficou conhecido como o da Máfia dos Fiscais. Em 2013, as ações da Brookfield tiveram desvalorização de 66,37%. Segundo Bernabé, a perspectiva é que a volatilidade continue acentuada. Na segunda-feira 27, a BRP Participações, controladora da Brookfield, comunicou formalmente ao mercado que estuda duas alternativas para a incorporadora. 

 

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Emílio Fugazza: ”A oferta de imóveis continua escassa no Brasil” 

 

Uma delas é uma capitalização por emissão de ações, e a outra é o fechamento de capital. A decisão será tomada em até 120 dias. No entanto, não é hora, ainda, de vender ou hipotecar a casa para comprar ações da MRV e de outras construtoras de olho nos dividendos. A maioria das empresas costuma pagar apenas 25% do lucro líquido, percentual mínimo estabelecido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mesmo em um processo de melhoria de resultados, são poucas as empresas que poderiam pagar dividendos acima do limite. 

 

Entre elas, estão a própria MRV, a Cyrela e a Eztec, que descartou a possibilidade no curto prazo. Felipe Silveira, analista da corretora Coinvalores, recomenda uma abordagem seletiva. Ele divide o setor em dois grupos. O primeiro é o das empresas que ainda precisam continuar seus ajustes e estão com os papéis baratos, como Gafisa, PDG, Brookfield e Rossi. “Essas vão começar a entregar projetos que foram iniciados entre 2012 e 2013, e isso poderá trazer um efeito positivo até 2015.” O segundo grupo é o das que já estão entregando resultados. Nele estão Even, Eztec e JHSF. “São ações com menor potencial de crescimento, mas mais seguras”, diz ele.

 

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