23/09/2020 - 15:00
Os ativos financeiros brutos das famílias brasileiras cresceram 10,9% em 2019, abaixo de sua média de dez anos, de 15,4%, mas com participação cada vez maior em títulos negociáveis, chegando a 54% dos ativos totais, é o que aponta a 11ª edição do Relatório de Riqueza Global produzido e divulgado nesta quarta-feira (23) pela seguradora alemã Allianz. Com um patrimônio líquido per capita de 6.796 euros, o Brasil alcançou a 39ª posição no ranking de riqueza dos países.
Apesar da evolução, já que em 2000 o porcentual de títulos negociáveis era de 33%, o relatório aponta que isso torna os ativos mais vulneráveis a crises nos mercados financeiros, como a ocorrida neste ano, por conta da pandemia do novo coronavírus. Até o presente mês de setembro, a Bolsa de Valores ainda não conseguiu recuperar totalmente as fortes perdas sofridas em março.
“Em tempos como estes, é cada vez mais importante apoiar a educação financeira e a inclusão”, diz disse Arne Holzhausen, coautor do relatório. “Nos países em desenvolvimento, famílias são mais vulneráveis a choques adversos devido à falta de um estado de bem-estar e as economias são uma proteção para esses choques”, continua. O índice de endividamento das famílias brasileiras chegou a 43%, de acordo com o relatório, bem acima da média regional de 30%.
Em escala global, o Relatório de Riqueza Global aponta que ativos financeiros brutos aumentaram 9,7% em 2019, registrando o maior crescimento desde 2005, mesmo com cenário geopolítico adverso, puxado muito por conta do crescimento do mercado acionário mundial, que chegou a 25% no ano passado.
A classe de ativos de títulos negociáveis aumentou 13,7% em 2019, maior crescimento registrado neste século. As taxas de crescimento das outras duas principais classes de ativos foram menores: seguros e previdência atingiram alta de 8,1%, refletindo, principalmente, o aumento dos ativos subjacentes, e os depósitos bancários aumentaram 6,4%.
Aumento das disparidades
A diferença de riquezas entre países ricos e pobres aumentou em 2019, com a diferença entre os ativos financeiros líquidos per capita chegando a 22 vezes, ainda sem os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Os 10% mais ricos em todo o mundo – 52 milhões de pessoas nos países abrangidos, com ativos financeiros líquidos médios de 240 mil euros – possuíam, juntos, cerca de 84% do total de ativos financeiros líquidos em 2019; entre eles, o 1% mais rico – com ativos financeiros líquidos médios acima de 1,2 milhão de euros – possui quase 44%.
Ajustado para o crescimento da população, a classe de riqueza média global cresceu quase 50% desde o início do século, e a classe de riqueza alta, 30% – enquanto a classe de riqueza mais baixa diminuiu quase 10%. Apesar deste progresso, o mundo continua sendo um lugar muito desigual.
Efeito da covid-19
Com a pandemia causando a recessão mais profunda da economia mundial em 100 anos, bancos centrais e autoridades fiscais em todo o mundo dispararam programas monetários e fiscais sem precedentes, protegendo as famílias e seus ativos financeiros das consequências de um mundo em desordem. A Allianz estima que famílias têm sido capazes de recuperar suas perdas do primeiro trimestre e registraram um ligeiro aumento de 1,5% nos ativos financeiros globais no fim do segundo trimestre de 2020, à medida que os depósitos bancários aumentaram incríveis 7%. A seguradora aponta que os ativos financeiros podem terminar 2020 no azul.
“Por enquanto, a política monetária salvou o dia”, diz Ludovic Subran, economista-chefe da Allianz. “No entanto, não devemos nos enganar. Taxas de juros zero e negativas são um doce veneno. Eles minam o acúmulo de riqueza e agravam a desigualdade social, pois os proprietários de ativos podem embolsar bons lucros inesperados”, continua, dizendo que esse cenário não é sustentável no longo prazo, que depende de reformas estruturais que aumentem a inclusividade no crescimento econômico.