30/11/2021 - 0:00
A comunidade internacional deve pressionar mais para que a Nicarágua “retome o caminho da democracia”, disse nesta segunda-feira (29) o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que defendeu o diálogo após as eleições no país.
“A comunidade internacional deve fortalecer seus mecanismos de pressão, os que sejam bilaterais, os que sejam multilaterais, os que tenham a ver com organizações financeiras e com o multilateralismo político. Devemos continuar trabalhando para que a Nicarágua retome o caminho da democracia”, acrescentou.
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As declarações foram feitas durante uma “avaliação coletiva” da situação na Nicarágua no Conselho Permanente (órgão executivo), na qual a maior parte dos países afirmaram que a decisão recente da Nicarágua de deixar a Organização de Estados Americanos (OEA) aumenta “seu isolamento”.
Manágua tomou esta decisão depois que a Assembleia Geral da OEA aprovou uma resolução que aponta que as eleições de 7 de novembro, nas quais o presidente Daniel Ortega foi reeleito, não foram justas e carecem de “legitimidade democrática”.
Segundo o regulamento da OEA, para que a saída da Nicarágua seja efetivada, devem passar dois anos.
Durante o Conselho Permanente, no qual não foi tomada nenhuma decisão, Michael René Campbell, ministro assessor presidencial para relações internacionais da Nicarágua, disse que Ortega tomou “a decisão irrevogável de se desvincular da OEA” porque a organização semeia “a discórdia” ao invés da solidariedade.
Argentina, México, Chile, Colômbia, República Dominicana e Equador foram alguns dos países que pediram um diálogo inclusivo entre o governo nicaraguense e a oposição em busca de uma solução para a crise.
Antonia Urrejola, presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pediu à OEA para estabelecer um diálogo.
“Devemos promover e facilitar o diálogo político” entre o governo Ortega e a oposição, assim como “a negociação e o consenso” até conseguir a libertação dos presos políticos e reformas eleitorais “claras, contundentes, concretas”, afirmou Almagro.
O representante da Nicarágua acusou a OEA de exercer ingerências e disse que seu país se nega a fazer parte de uma organização “cativa em Washington, instrumentalizada a favor de interesses norte-americanos”.
“Não se pode falar de ingerência, não se pode falar de intervencionismo”, respondeu Almagro. “A defesa da democracia, a defesa dos direitos humanos, não há alma neste mundo que possa dizer que é um tema de jurisdição doméstica dos Estados”, insistiu.
Ortega, um ex-guerrilheiro de 76 anos no poder desde 2007, obteve um quarto mandato consecutivo, mas os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos tacham sua reeleição de uma farsa.
Nos meses anteriores às eleições, dezenas de opositores, incluindo sete pré-candidatos presidenciais, foram detidos, o que deixou Ortega sem adversários de peso.
Os Estados Unidos proibiram a entrada ao país do presidente, de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, e seus ministros.