Esta é uma história de sucesso. Um rapaz de classe média, filho de pai bancário e mãe dona de casa, que estudou até o segundo grau em colégio público, nunca trabalhou como empregado e, depois de algumas experiências malsucedidas, conseguiu dar o pulo do gato: criar sozinho, e com uma dívida de US$ 80 mil, a maior empresa de telemarketing do País e vendê-la, sete anos depois, para uma multinacional. O negócio rendeu US$ 140 milhões ? e do total pago, cerca de US$ 80 milhões foram parar em seu bolso. E aí começam os capítulos que tornam esta história única. O empresário em questão é um carioca, de 39 anos. E com o dinheiro que ganhou poderia estar se divertindo na badalada estação de esqui norte-americana de Aspen. Mas Alexandre Accioly não parou de trabalhar. Dois anos depois de vender sua 4A para a espanhola Telefônica, especializou-se em comprar parte de empresas. E construiu um império de proporções invejáveis. Quanto acumulou? Bem mais que os US$ 77 milhões ganhos na transação em fevereiro de 2000. Accioly odeia falar em números. Prefere enumerar seu sucesso: é dono de 11 empresas, de negócios que vão de um bar a uma companhia de participações imobiliárias, passando por firmas de mídia e de segurança automotiva.

?Sou um franco atirador, um empreendedor nato?, afirma à DINHEIRO. ?Recebo milhares de propostas de negócios e continuo olhando todas as oportunidades com carinho.? Accioly não esconde, entretanto, sua mais recente paixão: o setor de entretenimento. É deste ramo que sairá sua nova cria, uma companhia de lazer, que consumirá investimentos, só dele, da ordem de US$ 5,5 milhões. O que espanta não é o volume, mas o foco desta empreitada. O primeiro plano que deve sair do papel é uma firma de organização de eventos ? que irá produzir de shows de música a eventos corporativos. Depois, o executivo irá se empenhar na abertura de duas salas de teatro, uma no Rio e outra em São Paulo. E, por fim, na criação de uma ?fábrica de produções teatrais?. Explica-se: coordenada por um grande autor, será uma oficina de produção de conteúdo de teatro. De lá sairão peças que serão encenadas em todo o País. Teatro dá dinheiro? ?Se bem administrado, sim?, garante o executivo.

 

Sua veia de empreendedor é antiga. Aos 8 anos, orgulha-se de contar, Accioly juntou um pouco de dinheiro e comprou oito caixas de engraxate e as distribuiu para amigos. ?Eu ficava andando de bicicleta na área para ver se estavam trabalhando direitinho?, conta. ?No final do dia, pegava metade do que cada um tinha ganho.? Aos 17 anos, montou sua primeira empresa de verdade. Era uma agência de modelos e figurantes. O negócio ia de vento em popa, responsável por 80% de todas as figurações da Rede Globo. Mas Accioly resolveu fechar a empresa. Por quê? ?Trabalhava 24 horas por dia, pagava cachês para as meninas e, no fim do mês, sobrava menos de US$ 3 mil.? Era muito pouco para quem sonhava alto. Virou sócio de churrascaria, montou um jornalzinho de classificados de carros. E, pela primeira vez em sua história, tomou um grande tombo. Em um ano, o negócio faliu, deixando Accioly com dois problemas nas mãos: uma dívida de US$ 80 mil e uma sala vazia com seis linhas telefônicas. Um amigo sugeriu ocupar os telefones vendendo assinaturas de revistas. Durante dois meses, tentou agendar uma entrevista com um executivo da área de distribuição de um grupo de mídia nacional. Quando enfim conseguiu, tomou um ônibus e veio parar em São Paulo. ?Falei que tinha a melhor empresa de vendas de revista por telefone do Rio?, conta. ?Quer dizer que você faz telemarketing??, perguntou o executivo. ?Tele…o quê??, respondeu Accioly. Surgia assim a A4. Não, não eram quatro sócios cujas iniciais eram a letra A. Era a firma de um único homem ? AlexAndre Accioly RochA. A inauguração da empresa não foi menos tumultuada. ?Estava com uma sala no Rio e 60 mesas, mas não tinha dinheiro para comprar mais de 20 computadores?, lembra, com um sorriso no rosto. Para não fazer feio, ele não teve dúvidas. ?Comprei 40 carcaças de computador.? Isso mesmo, apenas as caixas, sem nada dentro. Não era funcional, mas fazia uma ?vista? de dar inveja. Sete anos depois, era alçada à categoria de maior operadora de telemarketing do País, com 9 mil funcionários, 130 mil telefones e faturamento anual de R$ 130 milhões.

O primeiro contrato, com a tal empresa de comunicação, foi apenas a mola propulsora. ?O trabalho deu tão certo que começou a gerar outros negócios.? A propaganda boca-a-boca ? e a corrida incessante do executivo em busca de novos clientes ? fez com que ele crescesse. Três anos e alguns clientes depois, Accioly sentiu a primeira limitação. Era novembro de 1999, e, durante uma negociação, os executivos de uma operadora de pager questionaram como ele conseguiria cumprir seus compromissos se a 4A quebrasse. ?Faltava credibilidade. Percebi que era preciso estar com um sócio de peso?, conta Accioly. ?Comentei em uma entrevista que buscava sócios.? No dia seguinte, recebia um telefonema de Joaquim Castro Neto, presidente do Unibanco. ?Em 90 dias, fechamos a parceria.? O Unibanco adquiriu 45% do controle acionário da operadora de telemarketing. Em um ano, pronta para ser vendida, a 4A tinha seu faturamento triplicado e uma cartela de 100 clientes, com gigantes como Credicard, Ford, Varig e Xerox.

 

 

 

 

 

 

 

 

Com a venda da 4A, Accioly tinha a vida ganha. ?Pensei que nunca mais iria trabalhar?, conta. Arrumou as malas e saiu numa viagem de esqui a Aspen (EUA). Mas, já na primeira semana, percebeu que não conseguiria ficar parado. ?Escrevia planos de negócio nos guardanapos do hotel?, lembra. A viagem, que estava planejada para durar 15 dias, foi resumida a uma semana. E desde lá, Accioly vem ?gastando? seu dinheiro. Vamos à lista de algumas de suas aquisições: tem uma cota na Rádio Jovem Pan do Rio. É dono de uma empresa de conteúdo de mídia para a internet e de uma agência publicitária. Tem participação numa companhia de sinalizadores de carros roubados por satélite, a Smart Systems. Entrou como parceiro de imobiliárias no eixo Rio?São Paulo. Investiu numa companhia de gerenciamento financeiro que atua junto a bancos e financeiras. E até no Bar L, nos Jardins, em São Paulo. Só para citar algumas de suas companhias. Seus sócios são figuras como João Paulo Diniz, herdeiro do grupo Pão de Açúcar, Marcos Moraes, filho do lendário Olacyr de Moraes, além de grupos financeiros como o Opportunity. Para eles, Accioly só tem elogios. ?Tenho 38 sócios e nunca tive problemas. Tudo que é bem combinado dá certo?, explica.

 

No próximo ano, promete se dedicar a organizar sua Accioly Participações, a holding que coordena seus investimentos. Até agora, ele tocou a empresa sozinho. ?Vou chamar mais 10 pessoas para que fiquem no escritório avaliando as centenas de projetos de investimento.? Não é falsa modéstia. Diariamente, centenas de pessoas procuram sua empresa em busca de um lugarzinho ao sol. Propostas fascinantes, e outras nem tanto, que precisam apenas de uma boa injeção de dinheiro. E da benção do Rei Midas. Os dois telefones celulares de Accioly não param de tocar. E o executivo é do tipo que consegue falar em quatro linhas ao mesmo tempo. Sempre rodeado de amigos, ele circula com desenvoltura pelo restrito mundo de negócios. ?Vim do nada e sempre lutei para ser alguém.? O sucesso, garante o executivo, não está no fato de aparecer na imprensa ou ter a vida tornada pública ? fato que aconteceu quando ele assumiu publicamente seu namoro com a apresentadora Adriane Galisteu. Sucesso para Accioly é uma questão de credibilidade.

Como o dinheiro mudou sua vida? Alguns poderiam enumerar os bens materiais que ele possui ? um apartamento de 730 m2 em Ipanema, um Porsche prata, um helicóptero Esquilo, uma propriedade em Angra dos Reis. Outros poderiam mencionar sua forma chique e elegante de se vestir, em ternos Ricardo Almeida e sapatos Prada. Há quem cite os bons contatos de Accioly, com Álvaro Garnero, do grupo Brasilinvest, ou com o presidente da Câmara, Aécio Neves, só para citar alguns dos bons amigos do executivo. Mas Accioly prefere as coisas mais simples da vida. Desde que vendeu sua 4A, consegue correr todos os dias pela manhã, tem os finais de semana devotados apenas a amigos e família, emagreceu 23 quilos, viaja quatro vezes por ano ao exterior e se orgulha de levar uma vida mais saudável e tranqüila. ?Antes, trabalhava 17 horas por dia e não tinha tempo nem de pensar?, diz. ?Hoje, tenho vida pessoal, consigo ganhar mais dinheiro e estou muito mais feliz.? E conclui: ?O dinheiro me trouxe liberdade. Liberdade até para jogar meu relógio fora quando dá vontade.? Nem os ponteiros de um Patek Philip conseguem deter este empreendedor.