13/07/2005 - 7:00
O banqueiro Aloysio Faria, como se diz popularmente, não dá ponto sem nó. Depois de construir um império de 19 empresas, em setores que vão da hotelaria aos sorvetes finos, o ex-dono do Banco Real tem se dedicado a explorar as chamadas sinergias entre os vários negócios do grupo. O exemplo mais bem acabado é o recente estreitamento dos laços entre o conglomerado financeiro Alfa ? que reúne banco, financeira e seguradora ? e a C&C Casa e Construção. A idéia por trás da parceria é transformar a maior rede de varejo de materiais de construção do País em plataforma para a venda de produtos financeiros. O primeiro experimento, com o lançamento do cartão de crédito C&C Visa, deu bons resultados. Mais de 120 mil cartões já foram distritribuídos entre a clientela da cadeia. Agora, é um seguro residencial que começa a ser oferecido em algumas lojas da C&C. Desenhado pela Alfa Seguros, o SOS Residencial reúne cobertura para incêndio, dano elétrico ou hidráulico e assistência para reparos domésticos. O know how para sua venda em massa é emprestado por outra parceira, a Marsh, líder mundial em gerenciamento de riscos e seguros. A previsão é de que sejam vendidas até 70 mil apólices em um ano.
Cartões de crédito de marca própria ou comp artilhados entre varejistas não são exatamente uma novidade. Também já há no comércio empresas oferecendo seguros a seus clientes, como Riachuelo e C&A. Mas, quando se trata de Aloysio Faria, um dos empreendedores mais bem-sucedidos do País, sempre vale a pena dar uma espiadela no modelo de negócios. Para começar, Faria ? um empresário extremamente reservado a quem seus executivos se referem apenas como ?o acionista? ? exigiu uma cotação de prazos e taxas no mercado e certificou-se que o Banco Alfa oferecia condições competitivas antes de entregar-lhe o negócio. Já no caso do SOS Residencial, a Alfa Seguradora participou do projeto desde o início. ?Foi conversando com eles que surgiu a idéia de lançar um seguro?, lembra o diretor geral da C&C, Jorge Gonçalves Filho.
As parcerias entre empresas do grupo não nascem casualmente. A cada um ou dois meses, dependendo da agenda dos muitos executivos envolvidos, representantes das várias companhias participam de ?reuniões de objetivo?, organizadas para a troca de experiências e possível compartilhamento de oportunidades negócios. Exemplo: a Alfa Seguradora está desenhando uma apólice de seguros sob medida para os hóspedes da rede de hotéis Transamérica, que também é controlada por Faria. A menina dos olhos da companhia de seguros, porém, é mesmo a C&C. ?O varejo é perfeito para uma seguradora, porque é tipicamente uma operação de massa?, observa Carlos dos Santos, diretor da Alfa. As 34 lojas da rede formam um canal de distribuição privilegiado para apólices. ?Os mais de 12 milhões de pessoas que circulam por ano nos corredores da C&C formam o que nós chamados de grupo de afinidade, a nossa especialidade?, confirma Luiz Freire, diretor da Marsh Affinity.
A partir destes primeiros lançamentos, podem surgir outros produtos financeiros nas prateleiras da C&C. Financiamentos especiais para seus clientes (com prazo maior, por exemplo) e seguros do tipo garantia estendida (que cobrem trocas ou concertos em caso de defeito na mercadoria comprada na rede depois de vencido o prazo normal de garantia) estão entre os mais cotados. Parcerias com outras instituições financeiras também não são tabu. Ao contrário. No ramo de crédito consignado a aposentados e pensionistas do INSS, no qual o Banco Alfa não atua, a C&C fechou acordos operacionais com os bancos BGN e Panamericano. Aloysio Faria, como de costume, prefere manter distância dos holofotes e se abstém de comentar suas novas iniciativas. Mas seu dedo está lá, na formatação desta união entre varejo e finanças. ?O acionista participa de todos os pontos chaves da estratégia da C&C?, permite-se comentar Gonçalves Filho.