Uma nova palavra está surgindo por esses dias no dialeto da Internet brasileira: banda larga. A possibilidade de enviar pela rede sinais de alta densidade ? como vídeo ? está se tornando realidade simultaneamente em pelo menos quatro capitais. São Paulo, Rio, Brasília e Salvador já dispõem de serviços que tornam a experiência de navegar algo mais próximo à idéia de voar. Duas tecnologias distintas, uma que usa os cabos das tevês por assinatura e outra que aproveita melhor os fios de cobre da telefonia, oferecem aos usuários da Internet velocidades de conexão 100 vezes maiores do que as atuais. ?A Internet rápida vai mudar a maneira como se usa a rede?, afirma Vladimir Barbieri, diretor de negócios da Telefonica. Um novo e milionário negócio, além de um outro universo de produtividade, está se abrindo. As empresas poderão fazer videoconferências, trocar imagens de projetos ou bases de dados de grande magnitude. E os internautas domésticos, além de desocuparem as suas linhas telefônicas, poderão receber vídeos, música ou telas numa fração do tempo anterior. Um arquivo que demorava uma hora para ser capturado em velocidades normais chega em 29 segundos na alta-velocidade.

Por trás dessa novidade, estão investimentos de porte realizados por grandes companhias de comunicação. A Telefonica, dona da rede de telefonia fixa de São Paulo, gastou R$ 60 milhões para criar o Speedy. A Globocabo informa ter posto quase R$ 100 milhões no Vírtua, que usa as redes de fibra óptica da empresa em São Paulo. A Abril, que tem 64% da TVA, está por trás do Acesso em Alta Velocidade (antigo Ajato), que também funciona em São Paulo. A empresa anunciou ter gasto cerca de R$ 90 milhões na montagem de seus novos serviços de Internet. Esses são os três maiores projetos, mas a eles se somam os da Telemar, no Rio e na Bahia, e o da Web Br@sil, na Capital Federal. ?Isso tudo é só o começo?, diz Alexandre Annenberg, diretor de tecnologia e novos negócios da TVA. No mundo todo, as tecnologias de Internet rápida através da rede telefônica têm mais de 13 milhões de usuários. A conexão por cabo, bem mais recente, já conta com 300 mil assinantes apenas nos Estados Unidos. ?Até o final do ano queremos chegar a 50 mil assinantes?, diz Luiz Lobo, diretor da Globocabo. A Telefonica planeja conseguir 20 mil clientes no mesmo período, expandindo o serviço para fora da Capital de São Paulo. A TVA, que já tem 4 mil clientes, quer chegar a 30 mil este ano.

Existem problemas no caminho desses planos, típicos de implantação de novas tecnologias. Por exemplo, falta conteúdo específico para a banda larga. Atualmente apenas dois provedores ? UOL e Terra ? têm condições de prover conteúdo e oferecer links de alta velocidade. Eles estão praticamente sozinhos nesse mercado.

Preço alto. Outro fator que impede um crescimento mais acelerado do serviço é o preço. Enquanto o americano paga US$ 59 pelo acesso via cabo, o brasileiro tem um valor fixo mensal médio de R$ 104 ? mais cerca de R$ 200 de custo de instalação. O novo serviço exige um modem especial e uma placa especial de conexão ao computador. ?O preço ainda é impeditivo?, admite Caio Túlio Costa, diretor-geral do UOL. A isso se somam as dificuldades técnicas de instalação e o fato de que poucas áreas em cada cidade têm acesso à nova tecnologia. ?Estamos montando a infra-estrutura aos poucos?, diz Barbieri, da Telefonica.

Essa nova etapa da Internet no Brasil coincide com um novo estágio de abertura no mercado de telecomunicações. As operadores de tevê a cabo, por exemplo, estão usando os serviços rápidos da Internet como ensaio para utilização ainda mais ampla das suas redes. É o pulo para a telefonia, incentivado explicitamente na semana passada por Renato Guerreiro, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). ?Queremos chamar para o segmento da telefonia outras prestadoras de serviços de telecomunicações?, disse ele. ?Daqui a dois ou três anos não vamos saber mais a diferença entre uma empresa de tevê a cabo e uma de telefonia.? Por enquanto, quem tem o projeto mais claro nessa área é a TVA. A empresa está gastando US$ 80 milhões para se transformar em uma ?operadora de multisserviços?, oferecendo tevê por assinatura, Internet e telefone na mesma infra-estrutura de cabo e sinais de microonda, conhecido como MMDS. As ambições da Globo nesse terreno também são conhecidas. O futuro desses planos depende de algumas regulamentações ? como a do tráfego de voz usando a rede ? mas, sobretudo, do sucesso da atual iniciativa de Internet rápida. Se as empresas souberem transformar as atuais experiências em sucesso, terão a boa vontade do consumidor para a oferta de novos serviços. Se forem ineficientes, abrirão a porta para o movimento contrário ? o das companhias telefônicas em direção ao seu nicho de filmes e imagens. A sorte está lançada, em alta velocidade.