Em 1981, o advogado carioca Aloysio Vasconcellos, na época com 37 anos, fez as malas e mudou-se para Nova York com a família. Atualmente com 68 anos, ele vive na Flórida, mas não é mais um aposentado que contempla as águas do Golfo do México. Vasconcellos tornou-se um investidor. Em 1989, ele trocou o mercado financeiro por uma consultoria e os arranha-céus da Big Apple por uma ampla casa em Boca Raton. Em 2008, no auge da crise internacional, percebeu a existência de bons investimentos imobiliários. “Os imóveis ficaram muito baratos e o retorno financeiro passou a ser vantajoso”, diz. Vasconcellos possui dez propriedades na Flórida, nove delas para investimento, adquiridas por US$ 2 milhões. 

 

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Luxo em Miami: Edifício Porsche Designer – apartamentos

de até US$ 14 milhões

 

Sem contar a valorização, a rentabilidade é de 8% ao ano, em dólares, percentual comparável às aplicações imobiliárias no Brasil. A proximidade de rendimentos não passou despercebida aos investidores brasileiros. Dados de julho da Miami Association of Realtors, associação dos corretores de imóveis local, indicam que 65% das transações na região foram pagas à vista – indicando que as compras foram feitas por investidores – e que 90% dos compradores eram estrangeiros. Não há estatísticas precisas sobre quantos falam português, mas Roseli Hernandes, diretora comercial da administradora paulista Lello, avalia que 10% dos negócios são fechados por brasileiros. 

 

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Só alegria: Aloysio Vasconcellos (à esq.) e Garabet Karabachian: bons retornos

com os imóveis na Flórida

 

De olho nesse filão, a Lello fechou, em julho, uma parceria com uma consultoria imobiliária americana para intermediar negócios. Esse mercado atrai clientes do Brasil há tempos. No entanto, a baixa de preços por lá e a queda dos juros por aqui vêm transformando a maneira de investir. Uma alternativa para quem quer evitar o trabalho de conversar com corretores lá fora é aplicar em fundos específicos. A gestora internacional Tundra Capital, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, está lançando um fundo que investe em imóveis nos Estados Unidos para locação. A meta da primeira fase é captar US$ 20 milhões e comprar até 100 imóveis comerciais e residenciais. 

 

As aplicações iniciais do fundo, que deve começar a operar em outubro, variam de US$ 300 mil a US$ 500 mil. As oportunidades têm hora para acabar. No auge da crise, os imóveis chegaram a perder 67% de seu valor, mas os preços estão, lentamente, voltando aos níveis anteriores à crise. Segundo Jorge Bononi, consultor especializado no mercado imobiliário, os imóveis subiram 15% nos últimos 12 meses. “Existe uma janela de oportunidade que pode se fechar a qualquer momento”, diz. Para o diretor comercial do Trump Group, Michael Goldstein, a relativa fraqueza do dólar diante do real aumenta a segurança do investimento. “A moeda americana deve se valorizar em breve”, diz ele. 

 

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Michael Goldstein, do Trump Group: “Cotação do dólar ainda

é favorável ao investidor”

 

Sua empresa lançou um condomínio de luxo com 79 mansões de frente para o mar, oferecidas por preços que variam entre US$ 5 milhões e US$ 50 milhões. Cinco delas foram vendidas para brasileiros. Compensa? “É uma oportunidade para quem quer diversificar seu portfólio”, diz Raphael Cordeiro, sócio da paranaense Inva Capital. No entanto, Luiz Perlingeiro, consultor-chefe da Westchester Financial Group, adverte que é importante ficar atento aos custos de manutenção e aos impostos, tanto lá quanto aqui. Alguns cuidados, como comprar os imóveis por meio da abertura de duas empresas, uma nos Estados Unidos e outra em um paraíso fiscal, reduzem a mordida do Leão. 

 

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“O dinheiro deve ser remetido ao exterior pelo câmbio oficial, precisa ter origem comprovada. E o investidor tem de declarar a propriedade no Imposto de Renda”, diz Perlingeiro. Além disso, na hora da venda e de repatriar o valor investido, é preciso pagar o imposto sobre o ganho de capital. “É um investimento como outro qualquer, mas fora do território nacional”, afirma o consultor. O investidor também deve estar atento aos riscos. Investir por meio de fundos evita o trabalho de correr atrás de inquilinos e de despejar os eventuais caloteiros, mas mercados em baixa não favorecem altos preços de locação. 


Também é bom lembrar que todo imóvel tem custos de manutenção e conservação que reduzem o rendimento final. O cirurgião plástico paulista Garabet Karabachian Neto, 54 anos, viu no mercado americano uma forma de unir investimento e praticidade. “Vou a Miami a trabalho pelo menos três vezes ao ano”, afirma. Em 2010, ele vendeu um flat em São Paulo e comprou um apartamento de 130 metros quadrados na Brickell Avenue, centro de Miami, de frente para a praia, avaliado em US$ 350 mil. “Uni o útil ao agradável”, afirma. “Hoje economizo com hospedagem nas idas a trabalho e nas férias em família.” Sem contar, claro, o retorno do investimento. “Meu imóvel já valorizou uns 30% em um ano”, diz, satisfeito com a escolha.

 

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