04/08/2001 - 7:00
O empresário chileno Carlos Cardoen, 59 anos, gosta de fazer piada com o fato de estar na lista dos mais procurados pelo FBI. ?Sou o procurado mais achado deste país?, diz, debochado. E é a pura verdade. Não é preciso muito esforço para encontrá-lo em sua residência, em Santiago, ou num luxuoso hotel, de sua propriedade, localizado na pequena cidade de Santa Cruz (distante 200 quilômetros da capital chilena). Cardoen está sossegado em seu ?rancho?. E rico, riquíssimo. Não gosta de falar em cifras mas, se insistem, ele chuta um número qualquer para seu patrimônio: ?Deve ser uns US$ 100 milhões, eu acho?. É mais, garantem empresários locais. Cardoen hoje pilota negócios tão distintos quanto fazendas de frutas, fábricas de alimentos, usinas de energia e hotéis. Mas, afinal, qual foi o delito de Cardoen que tanto irrita os americanos? ?Na guerra Irã-Iraque vendemos materiais de defesa aos iraquianos. Fabricamos armas muito sofisticadas como as americanas, só que mais baratas?, conta o empresário. ?Esta é uma das razões pelas quais até hoje me perseguem comercialmente. Por isso não posso hoje viajar pelo mundo com liberdade.?
O homem já foi dono de empresas na Espanha, Grécia, Itália, China e até nos Estados Unidos. Viajava o mundo até que o FBI apareceu em sua vida. ?Se os Estados Unidos querem realmente me levar a juízo deveriam ter pedido minha extradição. Mas não. Eles preferem me insultar com avisos de procura-se?, conta Cardoen. O Departamento de Estado americano ordenou ao National City Bank, por exemplo, a não negociar com o empresário, evitando qualquer tipo de crédito ao chileno. ?O terrorismo comercial dos ianques é terrível?, afirma Cardoen. ?Mas não vou deixar que estes gringos infelizes destruam minha vida.?
No Chile, Carlos Cardoen é conhecido pelo negócio das armas. Dificilmente um cidadão daquele país poderá identificá-lo com outros investimentos. Mas este mesmo cidadão já se deliciou com os vinhos da marca Tarapacá, que acaba de ganhar medalha de ouro em Bordeaux, França. Ele comprou a vinha quando produzia 600 mil garrafas ao ano. Hoje produz 14 milhões, em 600 hectares de terra na região de Isla de Maipo,
perto de Santiago. Suas atividades comerciais e industriais
são tão ecléticas como o próprio Carlos Cardoen. A Companhia Chilena de Fósforos fabrica, além dos mesmos, palitos para
picolé e utensílios médicos descartáveis. A Finis Terrae produz
frutas de exportação, a Cedimat tem centros médicos de alta tecnologia, a Venchi é dona de plantações de manga em Venezuela e a Explonor fabrica explosivos e acessórios para exploração
de minérios. Tem mais: a industria metal-mecânica Cardoen faz peças para a indústria de alimentos, e a Nepsa gera energia
elétrica no Norte do Chile. Tudo isso sem contar o hotel cinco estrelas em Santa Cruz e a Fundação Carlos Cardoen, a qual,
entre outras coisas, abriu os museus de Colchagua e Vichuquén.
Há, na vida de Cardoen, uma paixão antiga pelo Brasil. Quando era estudante de engenharia, o chileno teve a chance de fazer um estágio por aqui, mais precisamente na CSN. Aproveitou a estadia no País para ajudar a formar uma indústria de explosivos de minérios em Minas Gerais. Hoje, o empresário volta a sonhar com negócios no Brasil. ?Temos a intenção no futuro de criar alguma empresa na área de defesa?, revela. O ?procurado? do FBI não pára de buscar oportunidades de negócio, no Chile ou fora dele.