03/08/2005 - 7:00
Quem viaja de férias ou a negócios resolve seu itinerário em alguns ?clicks?. Seja por meio de um agente ou de portais de turismo, já se pode comprar a passagem aérea, reservar o hotel e alugar um carro pela Internet. Mas de onde vêm os dados sobre quartos e assentos disponíveis, datas e preços? Uma das respostas para essa pergunta é Amadeus. A empresa espanhola é dona do software que compila todas essas informações e estabelece a comunicação entre companhias aéreas, agências de turismo, hotéis, locadoras de automóveis e consumidor final. É a líder desse mercado, com 40% de participação no mundo e 43% no Brasil. Sua mais nova cliente por aqui é a empresa aérea Gol, que terá seu conteúdo distribuído para profissionais de turismo do mundo todo a partir de agosto, como parte de sua estratégia de internacionalização.
Os números que envolvem a Amadeus impressionam: 500 companhias aéreas, 67 mil hotéis, 70 mil agências de viagem e 30 mil pontos de locação de automóveis têm seus dados cadastrados no banco de dados da companhia. O banco de dados, aliás, é um capítulo à parte: localizado em Erding (Alemanha), é o maior da Europa e atualiza seis vezes por dia cerca de 90 milhões de tarifas das empresas registradas. O faturamento da Amadeus atingiu 2,05 bilhões de euros em 2004, quando a empresa processou 450 milhões de reservas. ?Nosso negócio é tornar a venda de produtos de viagem mais fácil. Temos de prever todas as opções, criar processos de pagamento e reserva e fazemos isso com grande precisão?, explica Marcos Torres, presidente da Amadeus Brasil. Chegar a esse ponto de domínio de mercado, no entanto, exigiu uma revolução da empresa nos últimos anos. Era necessário passar de uma simples companhia de reservas para uma provedora de produtos de tecnologia, como portais de comércio eletrônico para empresas aéreas e programas de gestão de viagens para corporações.
Para realizar essa transição por aqui, a direção da Amadeus Internacional tomou duas atitudes. A primeira foi aumentar sua participação acionária e se tornar majoritária na Amadeus Brasil ? os outros acionistas, a companhia aérea Varig e o fundo de pensão Aerus, continuam com pequenas cotas das ações. A segunda medida foi trocar a antiga direção, formada basicamente por executivos da área de aviação, e contratar Torres, da área de tecnologia, para comandar a reestruturação da filial brasileira. Ele já havia sido responsável pela implementação da operadora Claro no Brasil e, anteriormente, da AT&T na Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo). ?A Amadeus estava em um caminho limitado, porque só vender passagem não gera valor?, explica o executivo. Um dos serviços criados por Torres, inclusive, tornou-se modelo para outras unidades da Amadeus no mundo: um software especialmente desenhado para pequenas agências ou agentes que trabalham em casa. ?Já conseguimos a adesão de 53% das agências de pequeno porte no Brasil?, comemora. Resultado das mudanças: a Amadeus Brasil apresentou um crescimento de 5 pontos percentuais de participação no mercado e 39,2% no lucro líquido. A filial brasileira, sexta operação da Amadeus no mundo, não revela números absolutos.
O benefício de ter seus dados cadastrados em um dos maiores centros de informação do mundo tem, obviamente, um custo para as empresas que se associam à Amadeus. As companhias aéreas, por exemplo, pagam uma taxa pela reserva de cada passagem ? mesmo que a venda não se concretize . O valor varia entre US$ 2,6 e US$ 4. ?Como nós temos um terço das reservas de passagens aéreas do mundo, nosso custo é mais baixo?, defende Torres. Mesmo assim, a brasileira TAM, por exemplo, procurou alternativas: investiu R$ 30 milhões e criou, em parceira com a Sabre (concorrente americana da Amadeus), seu próprio sistema de reservas e vendas de bilhetes, o portal e-TAM. Com isso, deixou de gastar US$ 40 milhões por ano. ?O e-TAM é uma ferramenta que integra toda a cadeia de vendas, do momento da reserva ao desembarque do passageiro?, diz Mauricélio Lauand, diretor de tecnologia da TAM. ?O portal também contribuiu para nos aproximar das agências de viagem?, acrescenta. A desvantagem comercial é que só a TAM opera esse sistema, restrito, por enquanto, ao Brasil. Ainda assim, iniciativas como a da TAM representariam uma forte ameaça de concorrência a Amadeus? Torres não comenta. Ele prefere falar sobre as 500 empresas aéreas que usam seu sistema.