17/08/2021 - 9:09
Nos corredores do Pentágono, o ambiente era sombrio na segunda-feira (16), quando os militares observavam impotentes o caos no aeroporto de Cabul e, de modo privado, criticavam o governo de Joe Biden pela lentidão na retirada de afegãos que colaboraram com os Estados Unidos e agora temem represálias dos talibãs.
Muitos criticaram o Departamento de Estado, única autoridade que concede vistos para os que trabalharam como intérpretes, ou em missões de apoio às tropas americanas, e correm sérios riscos.
Vídeos mostravam cenas de pânico em Cabul, com centenas de pessoas correndo ao lado de um avião militar americano prestes a decolar. Muitos se agarravam a peças da aeronave na pista.
“Nós avisamos durante meses, durante meses, que a situação era urgente”, disse um militar que pediu para não ser identificado.
“Não estou irritado. Estou frustrado”, declarou outro oficial. “O processo deveria ter sido administrado de maneira diferente”, completou.
Biden decidiu em meados de abril retirar do Afeganistão todas as tropas americanas até 11 de setembro, mas depois antecipou o processo para o fim de agosto.
O Departamento de Estado levou meses para montar uma estrutura especial para a retirada de todos os aliados dos Estados Unidos.
Outro oficial do Pentágono declarou à AFP que diplomatas tentaram acelerar a concessão de vistos, mas o trâmite é muito longo e complexo dadas as circunstâncias.
O governo Biden acreditava que a embaixada americana em Cabul permaneceria aberta e que o governo conseguiria manter o controle do país por vários meses após a retirada das forças americanas, disse.
– “É algo pessoal” –
Quando Biden anunciou a retirada das tropas, o Pentágono afirmou que estava preparando uma operação de saída em larga escala.
Em meados de junho, porém, o governo não considerava mais necessária uma operação deste tipo e passou a privilegiar a concessão de vistos especiais, um processo que pode demorar até dois anos.
Apenas no fim de junho a Casa Branca começou a considerar a possibilidade de retirada dos intérpretes afegãos antes da saída total das tropas e pediu ajuda ao Pentágono.
Uma célula de crise foi estabelecida para organizar a recepção dos refugiados afegãos em bases militares americanas, onde deveriam aguardar pelos vistos.
Questionado na segunda-feira sobre a demora de mais de dois meses entre o anúncio da retirada de tropas e a criação da célula de crise, seu diretor Garry Reid destacou que o Pentágono pode agir apenas como “apoio do Departamento de Estado”.
O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que, quando o governo advertiu que a situação “evoluía rapidamente”, foi criada a “Operação Refúgio de Aliados”, descrita como um “gigantesco esforço dos Estados Unidos, não apenas para processar, atribuir e validar os vistos dos denominados Imigrantes Especiais, mas também para realmente transportá-los para os Estados Unidos em uma grande operação aérea”.
Ele disse que quase 2.000 afegãos já chegaram aos Estados Unidos.
A força-tarefa foi acionada em julho, segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
“Mas você pode retornar à primavera (hemisfério norte, outono no Brasil) e ouvir o próprio secretário (da Defesa, general Lloyd Austin) falar sobre os intérpretes e a obrigação sagrada que sabemos que temos com eles”, completou o porta-voz.
“Tudo o que foi observado nas últimas 48 horas, ou 72 horas, é algo pessoal para todos aqui no Pentágono”, disse Kirby, sobre as dramáticas imagens do Afeganistão.
“Muitos de nós passamos um período no Afeganistão durante os últimos anos e sentimos uma grande conexão com os atuais acontecimentos”, afirmou o diretor de logística do Exército, general Hank Taylor.
“Estamos concentrados na retirada mais segura de americanos e afegãos”, concluiu.