02/11/2011 - 21:00
O público de 100 mil pessoas que lotou a cerimônia de inauguração de ponte estaiada sobre o rio Negro, uma obra de R$ 1 bilhão, quase não deixou a presidente Dilma Rousseff falar na manhã da segunda-feira 24. A presidente participava da festa de aniversário de 342 anos de Manaus e anunciou que trazia dois presentes aos amazonenses para celebrar a data. “O primeiro presente é a prorrogação da Zona Franca, por 50 anos”, afirmou a presidente, sob aplausos. “O segundo é a extensão da Zona à Região Metropolitana de Manaus, a Grande Manaus.” Com isso, as vantagens tributárias para as 550 empresas que produzem na capital do Estado estão garantidas até 2073. Uma extensão até 2023 já havia sido assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da cerimônia e vestiu um cocar junto com a presidente.
Caciques felizes: O ex-presidente Lula e a sucessora Dilma Rousseff na cerimônia
que inaugurou ponte de R$ 1 bilhão sobre o Rio Negro, em Manaus
Nos últimos anos, o crescimento do mercado doméstico e a concorrência dos importados incentivaram as empresas a investir mais na Zona Franca, atraídos por um custo de 7% a 30% menor do que em outros polos industriais do País. “Aqui tem o que todos nós brasileiros sonhamos: a desoneração tributária”, disse à DINHEIRO Oldemar Ianck, superintendente em exercício da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Em busca dessa desoneração, as empresas continuam apostando na região. Entre janeiro e agosto deste ano já foram anunciados US$ 2,7 bilhões em novos investimentos, a maior parte para expansão de empresas que já atuam em Manaus, como é o caso da Honda, Phitronics, Seculus e EMS. É pouco, se comparado aos US$ 280 bilhões de projetos já anunciados para todo o Brasil no mesmo período, mas representa um volume importante para a cidade, que abriga dois milhões de habitantes e responde por 1,4% do PIB brasileiro. “Muitos projetos são verticalizados, com a instalação de boa parte da cadeia produtiva”, diz Eduardo Celino, coordenador-geral de investimentos da Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (Renai).
O faturamento das 550 empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus, que já havia batido o recorde histórico ao atingir a marca de US$ 35 bilhões no ano passado, deve alcançar um novo patamar ao fechar 2011 com US$ 40 bilhões. A previsão da Suframa é manter uma taxa de crescimento entre 10% e 12% anuais nos próximos anos. Quando foi criada, em 1967, a Zona Franca tinha como objetivo promover e ocupar a Região Amazônica. De lá para cá, a criação de empregos garantiu o desenvolvimento da economia local, que ajudou, inclusive, a preservar a floresta, segundo o superintendente da Suframa. “Com os empregos na Zona Franca, conseguimos manter mais de 90% da cobertura vegetal intacta”, diz Ianck. Em agosto, as empresas do polo empregavam 123,5 mil trabalhadores.
A todo vapor: indústrias do Polo Industrial de Manaus já anunciaram investimentos
de US$ 2,7 bilhões neste ano, a maioria para a expansão de plantas
A maior parte das empresas na região ainda é do setor eletroeletrônico ou de duas rodas, mas o perfil do Distrito Industrial começa a se diversificar. Ianck diz que a cidade pode se tornar um polo gás-químico, com o gás extraído de Coari, no Alto Solimões, e as descobertas de novas reservas em Carauari, no sudoeste do Estado, que ainda precisa ser interligada à capital. Neste ano, foram anunciados US$ 6 bilhões de investimentos no Estado, em projetos ligados a óleo e gás e mineração. Com a ampliação da Zona Franca para toda a região metropolitana, a Suframa espera também um incentivo para o polo de cerâmica que está se instalando do outro lado do rio Negro e hoje não conta com o pacote completo de incentivos tributários. Para Ianck, a extensão por 50 anos dos incentivos fiscais da Zona Franca, decidida pela presidente Dilma, dá segurança para investimentos com prazo maior de maturação.
Nos últimos anos, porém, Manaus vem sofrendo a concorrência de Estados como Santa Catarina e Espírito Santo, que concedem vantagens tributárias para produtos importados através dos respectivos portos locais, o que representa uma redução de até 10% no preço ao consumidor final. “A prorrogação seria motivo para comemorar se não houvesse essa guerra fiscal louca entre os Estados e a má vontade do governo federal em aprovar novos projetos”, disse à DINHEIRO Lirio Parisotto, fundador da Videolar, que fabrica CDs, DVDs e Blu-rays, instalada em Manaus desde 1988. O empresário diversificou a atividade recentemente ao produzir tampas de garrafa e filme para embalagens de alimentos. Aproveitando a fertilidade da região para os negócios, Parisotto busca, ainda, autorização para instalar uma fábrica de ABS, um plástico de engenharia que ainda não é produzido no País.