13/02/2002 - 8:00
O conflito entre a Ambev e os distribuidores de uma de suas marcas, a Antarctica, subiu a rampa do Palácio do Planalto ? e já desceu. Há três semanas, duas associações de revendedores da marca enviaram uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso solicitando uma audiência, ?em caráter de extrema urgência?. O tema da pauta: a ?terrível campanha aniquilatória? que a Ambev ?vem exercendo? contra a rede de revendedores Antarctica. A resposta do gabinete da Presidência remeteu o assunto ao Ministério da Justiça.
As duas entidades que assinaram o documento representam os interesses de 50 revendedores da Associação Regional das Distribuidoras Antarctica nas chamadas Região XII (interior de São Paulo) e Região IX (parte do Estado do Rio de Janeiro). O troco da Ambev, de acordo com eles, já veio. A empresa não aceitou a inscrição das distribuidoras pertencentes aos presidentes das duas associações na Convenção Nacional de Revendedores Ambev, o mais importante evento comercial da empresa.
Troca desigual. Os distribuidores e a Ambev entraram em rota de colisão logo depois da fusão entre Brahma e Antarctica ser aprovada pelo Cade. O estopim foi a permissão para que as redes da Brahma e da Skol também distribuíssem os refrigerantes Antarctica. Em contrapartida, os representantes da Antarctica ganharam o direito de vender produtos Brahma, com exceção da cerveja. ?É uma troca desigual, pois o guaraná Antarctica tem uma força incomparável?, diz Cláudio Athayde Beringhs Bueno, presidente da Abradisa Região XII e um dos signatários da carta. Essa decisão feriria, segundo os distribuidores, o compromisso da Ambev de manter as redes independentes e separadas. A empresa, por sua vez, garante que as equipes de venda das três marcas continuam independentes e apenas a entrega é feita pelos mesmos caminhões. O apelo das associações ao Planalto foi feito, segundo a carta, porque a Presidência da República, ?como ficou esclarecido pelos homens do governo, está diretamente envolvida e relacionada ao caso?.
A resposta da Presidência chegou na semana passada. Assinada por José Lucena Dantas, chefe de gabinete pessoal de Fernando Henrique, a carta diz que os revendedores têm uma interpretação equivocada sobre a decisão do Cade e encaminha o assunto para o Ministério da Justiça. Ou seja, com a resposta, Brasília continuará sendo o território do conflito entre a Ambev e os distribuidores. Nos últimos meses, houve sessões na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado tratando do assunto, além de requerimentos de senadores aos Ministérios da Justiça e da Fazenda para análise do caso. Difícil saber se o conflito chegará a alguma solução, mas é certo que tem e terá impacto nos negócios das duas partes, a venda de cervejas e refrigerantes.