Em 2005, a fabricante americana de chips para computadores pessoais AMD chegou a conquistar uma fatia de mais de 40% no mercado brasileiro, o melhor desempenho do mundo nos países em que estava presente. Sete anos depois, ela encolheu 50% por aqui, retornando ao mesmo patamar de sua participação global de pouco menos de 20%. Nesse período, a operação local sofreu com os problemas da matriz nos Estados Unidos. Nos últimos dez anos, a companhia só foi capaz de obter lucro em quatro deles. 

Durante o auge de sua crise, entre 2006 e 2009, chegou a registrar 13 trimestres consecutivos de prejuízo. A partir de 2009, o jogo começou a virar e a companhia voltou ao azul. No ano passado, a AMD, fundada em 1969, em Sunnyvale, na Califórnia, lucrou US$ 419 milhões e faturou US$ 6,5 bilhões. Mesmo assim, é pouco comparado com a Intel, principal rival, que faturou US$ 44 bilhões e lucrou US$ 11 bilhões.

 

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Miranda: depois de trabalhar na rival Intel e na coreana Samsung,

executivo tem a missão de recuperar tempo perdido da empresa no Brasil 

 

Agora, a AMD prepara um retorno ao mercado brasileiro. Embora ela nunca tenha deixado de operar no Brasil, a companhia estava sumida do grande público consumidor. “Vamos fazer muito barulho no segundo semestre deste ano”, afirma Ronaldo Miranda, recém-contratado pela matriz para assumir a vice-presidência para a América Latina e presidência da operação local.  Miranda, o quarto executivo a comandar a operação brasileira nos últimos sete anos, já trabalhou na Intel e na Samsung. 

 

À frente da AMD, sua missão será recuperar o tempo perdido pelos americanos no País. O primeiro desafio de Miranda é reconquistar a confiança dos fabricantes de PCs. Hoje, são clientes da empresa multinacionais como as americanas HP e Dell, a taiwanesa Acer, a chinesa Lenovo e a japonesa Sony. Mas isso se deve mais ao relacionamento internacional dessas marcas com a empresa do que a um trabalho da subsidiária local. Entre os nacionais, constam nomes pouco expressivos em vendas, como STI, Philco, Space BR e Qbex. “A AMD não tem nenhum fabricante brasileiro de notebook entre seus clientes”, diz Martim Juacida, analista da consultoria americana especializada em tecnologia IDC. 

 

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E isso pode ser um grande problema para a AMD. Explica-se: o segmento de notebooks vai crescer 31% neste ano no Brasil. O mercado total, incluindo os desktops, deve expandir-se 20% em 2011. No segundo semestre, Miranda diz que a coreana Samsung e a Asus vão estrear portáteis com o chip da AMD. Mas o executivo ainda não tem na manga nenhum nome de fabricantes brasileiros de expressão, como Positivo e Itautec, para anunciar. 

 

O trunfo do novo executivo para convencer os fabricantes locais de PCs a adotar os chips da AMD está na nova estratégia de produtos. Em vez de dar nomes complicados e usar siglas incompreensíveis para os consumidores comuns, a AMD os unificou na plataforma Vision, com quatro opções de chips para usuários básicos, experientes, profissionais e gamers. “É como se você escolhesse um carro com motor 1.0, 1.6, 2.0 ou turbo”, diz Mário Nagano, especialista em hardware e editor do blog de tecnologia ZTop. A companhia também lançou, depois de vários anos de atraso, o Fusion, seu chip mais moderno e com baixo consumo de energia. 

 

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Vanguarda: chip da AMD está presente no novo console de videogame da Nintendo, o Wii U

 

Mas isso pode não ser suficiente. Para a AMD, não basta mais apenas competir com a Intel. Ela precisa também ter participação no segmento de tablets e smart-phones. Nos últimos anos, empresas como Nvidia, Qualcomm, Broadcom e Texas Instruments saíram na frente nesse campo. Em junho, a companhia anunciou um chip para o segmento de tablets. A AMD também conta com seu processador no novo console de videogame da Nintendo, o Wii U, que tem um tablet com tela sensível ao toque, que funciona com o controle do jogo.