26/03/2011 - 23:10
O sólido crescimento econômico na América Latina esconde, na verdade, duas velocidades dentro da região e posturas diferentes frente a fenômenos como a entrada maciça de capitais, destacaram neste domingo os especialistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em sua assembleia anual.
O Brasil, exportador de matérias-primas e orientado para os países de economia emergente, e o México, dependente dos países industrializados, são os dois modelos atuais de crescimento regional, segundo o relatório divulgado neste domingo durante o encontro regional.
A sólida recuperação da América Latina esconde, na realidade, duas velocidades diferentes e duas formas de se adaptar às mudanças na economia mundial, afirmam os autores do trabalho.
“O grupo liderado pelo Brasil está muito bem situado num mundo em que as economias emergentes são o motor de crescimento”, explica o informe.
“Os preços das matérias-primas são altos e os fluxos de capital estão entrando nesse grupo para aproveitar as melhores oportunidades e perspectivas mais brilhantes”, acrescenta o texto.
“A outra face da moeda é representado pelo grupo liderado pelo México, cujos membros compartilham laços comerciais muito mais fortes, tanto em bens como em serviços, com países industriais”, argumenta o texto.
As perspectivas de crescimento para ambos os grupos são, por isso, notavelmente diferentes, constata o documento: 4,4% no caso do Brasil e seus seguidores, 2,7% para o México e seu grupo de países.
Os especialistas do BID colocam no grupo do Brasil a Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, assim como Trinidad e Tobago.
No grupo mexicano se encontram todos os países centro-americanos e caribenhos, com exceção do Haiti.
Antes da crise de 2008, os países emergentes representavam 50% da demanda mundial, e atualmente representam 75%.
Índia, Rússia e China representavam 9% das exportações brasileiras em 2006, enquanto que em 2009 já era de 17%.
Para o México, as exportações para esses países só representavam 3%.
Estas perspectivas favoráveis para o Brasil não estão isentas de problemas: a entrada de capitais maciça que está sofrendo América Latina tem um duro impacto sobre o real brasileiro.
Brasília está aplicando controles e impostos sobre esses capitais que o México, em compensação, não considera necessários.
O BID calcula que, em 2010, um total de 266 bilhões de dólares chegou à América Latina, dos quais 55% foram fluxos financeiros, não de investimento direto.
A reação ante esses fluxos de capital evidenciou de novo as diferenças dentro da região no sábado, durante a quarta reunião de ministros das Finanças da América, onde foi debatido como enfrentar o impacto dos fluxos de capital estrangeiro na região, sem que se chegasse a uma posição comum.
Reunidos à margem da Assembleia Anual do (BID), os 31 participantes da reunião concordaram em estudar medidas para potencializar o comércio e a integração regional, depois de uma discussão classificada de positiva pelo ministro das Finanças canadense, Jim Flaherty.
“Houve um franco intercâmbio de pontos de vista sobre a situação econômica e os desafios atuais, que incluem o preço dos alimentos, das matérias-primas e dos crescentes e potencialmente voláteis fluxos de capital”, afirmou.
“Nossa expectativa não era alcançar um acordo. Este não é um fórum destinado a tomar decisões, é para discutir, para compartilhar e planejar”, justificou ainda.
A América Latina recebeu no ano passado 220 bilhões de dólares em capital privado, segundo cálculos do Instituto Financeiro Internacional (IIF), que representa os bancos internacionais.
Brasil ou Argentina aplicam controles e impostos sobre a entrada dos capitais especulativos, mas isso é algo que o México não considera oportuno.
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