De todos os grupos de guerrilha urbana que surgiram durante o regime militar, o MR-8 sempre foi tido como um dos mais ousados. Participou de assaltos a bancos e até mesmo do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, usado como moeda de troca na libertação de 15 prisioneiros políticos ? entre os quais o ministro José Dirceu. Mas uma nova faceta do MR-8 veio à tona na última semana. Nos anos 90, o movimento ajudou o governo iraquiano de Saddam Hussein a vender seu petróleo, fora do embargo imposto ao país após a primeira Guerra do Golfo, em 1990. A revelação foi feita pelo jornal iraquiano Al Mada e confirmada pelo próprio secretário internacional do MR-8, Nelson Chaves. ?Conseguimos vender 4,5 milhões de barris?, disse Chaves. Mas ele não explica como um movimento político, sem ligações empresariais, pôde negociar tanto petróleo. ?Tínhamos contatos internacionais e éramos solidários ao Iraque?, afirmou. O que se especula é que as operações eram fechadas com países como Egito, Sudão e Líbano, com o petróleo sendo embarcado em navios clandestinos. Depois
da descoberta, o Conselho de Governo Iraquiano, criado após a ocupação do país pelos Estados Unidos, decidiu investigar se gru-
pos como o MR-8 receberam recursos de Saddam Hussein para intermediar as operações ? Chaves, amigo do ex-chanceler Tarek
Aziz, assegura que não. ?Só queríamos ajudar o Iraque?, diz.

Outro personagem radicado no Brasil, porém, também vendeu petróleo iraquiano e recebia, em média, 10 centavos de dólar por barril. Era o agente de viagens Fuad Sarhan, que negociou, segundo o jornal Al Mada, 10 milhões de barris. Portanto, as comissões de Fuad, dono de duas agências de turismo em São Paulo, a SR e a Âncora, chegariam a US$ 1 milhão. Se o MR-8 tiver eventualmente ganho comissões proporcionais à de Sarhan, os revolucionários brasileiros, ligados a políticos do PMDB, como Orestes Quércia e Roberto Requião, terão recebido cerca de US$ 450 mil.