A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou a cassação do Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass. As atividades da empresa já estavam suspensas desde 11 de março, porém passam agora por um cancelamento definitivo. Não cabem mais recursos da decisão.

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Segundo o órgão, foram identificadas “falhas graves e persistentes no Sistema de Análise e Supervisão Continuada (SASC) da companhia”. Além da cassação, foi aplicada uma multa no valor total de R$ 570,4 mil.

Procurada pela IstoÉ Dinheiro, a Voepass ainda não se manifestou sobre a decisão. O espaço segue aberto e o texto será atualizado caso haja resposta.

Os motivos para a decisão da Anac

A Voepass esteve sob fiscalização da Anac desde que um avião da companhia caiu sobre um condomínio residencial na cidade de Vinhedo (SP), em agosto de 2024. O acidente matou 62 pessoas.

Segundo o órgão, foram identificadas falhas na manutenção obrigatória das aeronaves. Usualmente, há uma série de procedimentos classificados como itens de inspeção obrigatória, que devem ser seguidos por reparos e novamente revisados por um segundo profissional habilitado.

Ao monitorar a Voepass, a Anac afirma ter identificado que a Voepass não cumpria com as inspeções requeridas. “O problema foi apontado pela Anac e inicialmente corrigido pela empresa, mas, ainda assim, voltou a se repetir com outras aeronaves da frota e em diversas tarefas de manutenção”, diz o órgão.

Ainda de acordo com a agência reguladora, encontrar problemas operacionais é comum em todas as operadoras. No entanto, “a estrutura da empresa deixou de oferecer garantias de que eventuais falhas seriam tratadas antes de comprometer a segurança das operações”.

A crise da Voepass

Após mais de um mês paralisada pela suspensão da Anac, a Voepass chegou a protocolar um pedido de recuperação judicial (RJ) no final de abril, em busca de reestruturar uma dívida declarada de R$ 429 milhões. A empresa já havia passado por um processo de RJ entre 2012 e 2017.

No novo pedido, a Voepass apontava o grupo chileno Latam como responsável por sua má situação financeira, já que até o acidente em Vinhedo ambas mantinham operações de codeshare (venda de passagens por uma companhia parceira).

Em meio à suspensão da operação, a Voepass anunciou, em abril, a demissão de parte do quadro de funcionários, incluindo tripulação, aeroportuários e pessoas de áreas de apoio.

A nova solicitação no entanto não foi acatada pela Justiça. No final de maio, um juiz alegou que era necessário aguardar a decisão da agência reguladora e o retorno das operações.

Antes da crise

A história da Voepass remete à Passaredo Linhas Aéreas. reconhecida como companhia aérea brasileira mais antiga em operação, com os primeiros voos realizados no ano de 1995. Em 2019, os controladores da Passaredo adquiriram o controle societário da MAP Linhas Aéreas, formando a nova marca Voepass Linhas Aéreas.

Em 2012 a empresa entrou em processo de recuperação Judicial, que foi encerrado em 2017. Meses antes ela havia sido vendida para a Itapemirim, mas o negócio foi cancelado.

Em 2019, a Passaredo comprou 100% da MAP Linhas Aéreas, que operava principalmente em destinos na região norte do país. A empresa também lançou uma nova identidade visual e passou a se chamar Voepass.

Dados da própria companhia dão conta de que em agosto de 2024, quando houve o acidente, ela atendia 37 destinos nacionais e se preparava para o início dos voos na Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal. Em janeiro de 2025, a empresa prometia reativar bases em Brasília (DF), Uberlândia (MG), Vitória da Conquista (BA) e Barreiras (BA).

Só no ano de 2023, a Voepass informou ter transportado mais de 500 mil passageiros.