Nos dois últimos debates do 1º turno entre os presidenciáveis, nas tevês Record e Globo, a candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, afirmou que o PSDB “quebrou o Brasil três vezes”. A petista se refere aos socorros financeiros do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao País em 1998, 2001 e 2002, durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. De fato, ao aceitar um empréstimo do FMI, o governo reconheceu que a situação econômica era grave e, automaticamente, colocou o País sob as exigências do credor. Mas, daí a afirmar que o País quebrou, há uma distância enorme.

Do ponto de vista econômico – deixando de lados debates político-ideológicos às vésperas da eleição –, um País só fica tecnicamente quebrado quando declara uma moratória. O Brasil viveu isso em 1987, quando o presidente José Sarney suspendeu o pagamento de uma dívida que superava os US$ 10 bilhões. Mais recentemente, a Argentina fez o mesmo com credores internacionais. Os episódios a que se refere a presidenta Dilma são empréstimos feitos pelo governo brasileiro em momentos difíceis, não necessariamente gerados por uma má administração econômica.

Em 1998, a crise da Rússia era o epicentro de uma turbulência econômica, que prejudicaria principalmente os países emergentes. Três anos depois, a moratória argentina afetaria diretamente o Brasil – naquela época, os investidores internacionais mal sabiam a diferença entre Brasília e Buenos Aires. Já em 2002, o receio gerado pela perspectiva de eleição do então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva gerava pânico nos mercados financeiros, com o dólar subindo a quase R$ 4,00. Vale lembrar que o empréstimo de 2002 foi avalizado pelos principais presidenciáveis da época, incluindo o próprio Lula.

Obviamente, num debate econômico sério e isento, é possível trazer argumentos contra e a favor da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, como a de qualquer governo. Definitivamente, não é o que ocorre nesta eleição. Simplesmente criticar, sem contextualizar o ambiente internacional em 1998 e 2011, e ignorar o componente político que havia em 2002, diante da iminente vitória do PT, é uma forma de manipular a história econômica do País. O governo Lula também teve erros e méritos – um deles, sem dúvida nenhuma, foi o de quitar a dívida com o FMI, em 2005, livrando o País de uma cartilha ortodoxa e ultrapassada. Desde então, o Brasil se tornou credor do Fundo, com aporte de mais de US$ 10 bilhões, mas sem ganhar um espaço maior como contrapartida. Mas isso não dá o direito de a presidenta Dilma distorcer os fatos, algo ainda mais grave se por recomendação dos seus marqueteiros.