O retorno de Donald Trump à Casa Branca e o enfraquecimento das expectativas por cortes na taxa de juros têm levado o dólar a atingir máximas de vários anos, e os investidores acreditam que essa força continuará, auxiliada pelas políticas pró-crescimento e inflacionárias do novo governo dos Estados Unidos.

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Nesta quinta-feira, 16, no Brasil, o dólar chegou a cair pela primeira vez em mais de um mês abaixo de R$ 6, mas mudou de direção. Às 14h40, a moeda dos EUA à vista subia 0,56%, a R$ 6,04 na venda. Veja cotações.

Na véspera, o dólar à vista fechou a R$ 6,0251 – a menor cotação de encerramento desde 12 de dezembro do ano passado.

O índice do dólar, que mede a força da divisa norte-americana em relação às seis principais moedas, subiu quase 10% desde setembro para uma máxima de mais de dois anos.

Grande parte desses ganhos ocorreu depois da vitória de Trump na eleição de novembro, quando os investidores correram para preparar os portfólios em torno das políticas comerciais e tarifárias do novo governo, que devem oferecer suporte ao dólar no curto prazo, ao mesmo tempo em que pressionam outras economias e moedas.

As tarifas de importação, com suas possíveis pressões inflacionárias, podem levar o Fed a ser cauteloso com os cortes de juros, mesmo com as tensões comerciais obscurecendo as perspectivas de crescimento econômico global e fazendo com que mais investidores busquem o dólar como ativo seguro.

Quanto mais tempo os juros dos EUA permanecerem mais altos do que os rendimentos em outras economias desenvolvidas, maior será o apelo do dólar para os investidores.

Embora Trump tenha se queixado com frequência de que a força excessiva do dólar diminui a competitividade das exportações dos EUA e prejudica a produção e os empregos no país, suas políticas são vistas pelos mercados como um estímulo à moeda.

Em mais um sinal da importância da política cambial para o novo governo, Scott Bessent, escolhido por Trump para chefiar o Departamento do Tesouro, disse na quarta-feira que garantirá que o dólar continue sendo a moeda de reserva global.

“Continuamos vendo o dólar como fundamentalmente supervalorizado, mas, pelo menos no curto prazo, é difícil encontrar catalisadores que façam com que o dólar se enfraqueça”, disse Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.

A posse presidencial na segunda-feira é um dos principais motivos que impedem os investidores de manter o dólar fraco, disseram agentes financeiros. Enqunto o dólar avança com as expectativas de tarifas amplas, seus detalhes ainda não estão claros.

“Não sabemos qual será a força, a intensidade, a abrangência e o valor das tarifas”, disse John Velis, chefe de câmbio e estratégia macro para as Américas do BNY Markets.

A clareza nessas frentes pode impulsionar ainda mais o dólar, tornando perigoso apostar contra a moeda, mesmo nesses níveis elevados.

Enquanto a incerteza sobre as tarifas persistir, será difícil para os investidores abandonarem suas apostas de alta do dólar.

“Acho que as pessoas estão esperando, pelo menos, que os anúncios de políticas importantes saiam do caminho antes de fechar as posições”, disse Thierry Wizman, estrategista global de câmbio e taxas do Macquarie.

A plataforma da campanha eleitoral de Trump de tarifas agressivas e deportação de alguns imigrantes já despertou preocupações entre as autoridades com relação à inflação, conforme demonstrou a ata da reunião do Fed no mês passado.

Nesse ínterim, o dólar está bem amparado por uma tempestade perfeita de catalisadores positivos, incluindo uma melhora significativa nas perspectivas de crescimento dos EUA e expectativas reduzidas de cortes de juros.

Cena brasileira

Na cena doméstica, as sessões recentes têm sido marcadas por falta de notícias e poucos dados relevantes, o que tem feito os agentes financeiros se voltarem justamente para o exterior em busca de impulsos para as negociações.

Analistas indicam que o cenário fiscal brasileiro continuará sendo o principal foco de atenção do mercado neste ano, à medida que ainda há dúvidas sobre o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas.

Na frente de dados, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), registrou avanço de 0,1% em novembro em relação ao mês anterior, em dado dessazonalizado. A leitura foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de estagnação no mês.