05/12/2012 - 21:00
Ao longo dos últimos 40 anos, o empreendedor mineiro Anderson Birman se transformou num colecionador de honrarias e premiações empresariais, conquistadas por sua atuação no mundo dos negócios. Seu sucesso, em campos que vão da gestão à tecnologia, passando pelo marketing, pode ser medido pelas dezenas de placas e troféus que abarrotam as estantes e paredes do escritório paulista da Arezzo &Co., a holding que comanda as marcas de calçados e acessórios Arezzo, Alexandre Birman, Anacapri e Schutz. Para Birman, 59 anos, presidente da Arezzo, a coleção é fruto de um longo trabalho, iniciado em 1972, em Belo Horizonte, sua terra natal, por quem sempre nutriu a ambição de se tornar uma referência no setor.
“É preciso ter o produto certo, na quantidade correta e no preço
que as consumidoras querem pagar”
Ele conseguiu isso graças a um estilo de gestão que reúne doses generosas de intuição, capacidade de antecipar tendências de mercado e a aposta constante em inovação. “No começo, tudo era feito de forma intuitiva”, diz Birman. “Tínhamos de, praticamente, adivinhar quais seriam as tendências de cada estação.” Com o tempo, Birman passou a contar com algo mais do que intuição para tocar o negócio. Com o uso de modernas ferramentas de gestão, ele conseguiu atingir um estado de excelência na técnica conhecida como fast fashion, que consiste na troca constante de coleções, para satisfazer o apetite das mulheres, suas principais clientes, sempre ávidas por novidades.
“É preciso ter o produto certo, na quantidade correta e no preço que as consumidoras estão dispostas a pagar”, afirma Birman. Além de ter construído grifes de sucesso em um segmento no qual o Brasil se notabilizou como produtor de commodities, o empresário conseguiu criar uma empresa igualmente vistosa no quesito financeiro. Nos nove meses deste ano, sua receita líquida somou R$ 607,48 milhões, 26,6% a mais do que o obtido em igual período de 2011. Birman também transformou a Arezzo em uma das queridinhas dos investidores. Por esses motivos, Anderson Birman foi eleito o EMPREENDEDOR DO ANO NO VAREJO pela revista DINHEIRO, acrescentando mais um título à sua invejável coleção.
Parceria doméstica: o filho Alexandre (acima) ajuda na gestão da empresa. A abertura da nova sede,
em Campo Bom (RS), teve a presença do governador Tarso Genro
“Mais que dono, Anderson é um grande funcionário da Arezzo”, diz o especialista em moda Paulo Borges, curador da São Paulo FashionWeek. “Ele é o tipo que trabalha duro, é obstinado e isso faz a diferença na gestão da companhia, pois ele conhece a alma do negócio.” Desde que estreou na bolsa, em fevereiro de 2011, a Arezzo vem proporcionando muitas alegrias aos seus acionistas. Apenas neste ano, seus papéis valorizaram 57%, num período em que o Ibovespa, índice que reúne as companhias com maior liquidez da bolsa, registra queda de 0,4%. Com isso, a Arezzo passou a ser avaliada em R$ 3,2 bilhões, o dobro do valor registrado quando da sua abertura de capital, em fevereiro de 2011.
“Espero que esse número seja cada vez maior”, afirma Birman. “Não tenho a sensação de que chegamos lá. Para mim isso ainda é pouco.” A frase revela um empresário movido a desafios, como ele mesmo se qualifica. “Minha missão é manter a insatisfação interna”, diz. “Quando faço isso, sei que estou conseguindo manter as clientes satisfeitas.” É graças a esses atributos que, segundo especialistas, a Arezzo vem conseguindo não apenas se manter como uma das maiores fabricantes do setor de calçados e acessórios do País, com a venda de cerca de seis milhões de pares por ano, como também se firmar como uma grife global. Para essa tarefa ele conta com a colaboração do filho Alexandre, 35 anos, vice-presidente da empresa. No começo de setembro, pai e filho desembarcaram em Nova York para inaugurar a loja da Schutz na sofisticada avenida Madison, no coração de Manhattan.
Menos de dois anos após abrir o capital na Bovespa, a Arezzo dobrou
de valor de mercado. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 3,2 bilhões
E não se trata de uma loja qualquer. Ali foram investidos US$ 2,5 milhões na unidade que ocupa uma área de 110 metros quadrados, onde está sendo exposta uma coleção composta por 500 modelos exclusivos. Segundo Birman, ela será um laboratório para compreender melhor o real potencial da grife no cenário global. Apesar de responder por menos de 5% das vendas totais do grupo, o mercado externo vem funcionando como uma forma de ampliar a força e a visibilidade de suas marcas aqui e lá fora, trabalho que os especialistas chamam de valorização do branding – principalmente no caso da grife de luxo Alexandre Birman, criada em 2009 por Alexandre, que hoje é exibida em vitrines de lojas sofisticadas de Londres a Hong Kong.
O processo de construção da marca incluiu a abertura de sua segunda filial em São Paulo, em agosto, e a transferência da sede para os Estados Unidos. De acordo com Alexandre, todas as estratégias da empresa são tocadas de comum acordo e resultam de muito diálogo. “Nossas ideias e ações são complementares”, diz ele. Mas, antes de dar passos mais largos lá fora, Anderson Birman diz que ainda há muito que caminhar por aqui. Neste ano, algumas ações foram vitais para que a Arezzo se mantivesse na rota de crescimento. A principal delas diz respeito a uma das principais características da empresa, conhecida pelo ritmo acelerado de renovação das linhas de produtos.
No centro do mundo: a loja da marca Schutz, em Nova York, servirá de laboratório para a estratégia
de fortalecer a presença global do grupo Arezzo
A direção do grupo também vem explorando melhor seus pontos de venda, por meio de reforma e ampliação para rentabilizar ainda mais a área de vendas. Mais: até setembro foram inauguradas 57 lojas, entre próprias e franqueadas, totalizando 368 unidades, além da expansão da presença de calçados e acessórios em 2.329 lojas multimarcas, um aumento de 30,6% sobre 2011. Apesar de a palavra aposentadoria não figurar, ainda, em seu vocabulário, Birman confessa que a profissionalização cada vez maior da empresa faz com que ele se sinta um pouco deslocado, já que as decisões são cada vez mais compartilhadas. “Todo mundo quer me tirar do operacional, do dia a dia do negócio, dizendo que tenho de cuidar mais da estratégia”, diz. “Mas meu negócio continua sendo o piso de loja.”
Ao menos uma vez por semana, Birman visita de surpresa alguma unidade das redes Arezzo, Schutz ou Anacapri. Ele analisa a postura dos vendedores, observa a disposição dos produtos na vitrine e conversa com clientes. Não se trata de sacrifício: falar de sapato é quase que uma obsessão para ele. Em encontros com investidores, empresários e até mesmo em eventos sociais, ele só sai plenamente satisfeito quando um dos interlocutores faz um comentário sobre seus sapatos e acessórios. De preferência, positivo. “Sempre que estou em uma reunião de negócios ou em um evento social, fico na expectativa de que alguém fale alguma coisa sobre nossos produtos”, diz. “Até agora, felizmente, isso tem acontecido com bastante frequência, o que é um sinal de que estamos fazendo a coisa certa.”