No primeiro dia de dezembro, uma sexta-feira, concluiu-se uma pequena operação de guerra. Após sete meses de espera, o banco de investimentos Pactual e o suíço UBS obtiveram todas as autorizações para sacramentar aquele que foi o maior negócio privado já realizado no País em toda a história ? atrás apenas das privatizações. Era o fechamento da venda de 100% do Pactual para o UBS por nada menos que US$ 3,1 bilhões. Naquele mesmo dia, quase tudo foi trocado nos escritórios do banco em São Paulo, no Rio de Janeiro e também em outros países. Onde se lia Pactual, seja nas placas metálicas, nos blocos de anotação, nos folhetos distribuídos aos investidores ou mesmo nos lápis usados nas salas de reuniões, agora está escrito UBS Pactual. E a nova marca, que une o quinto maior grupo financeiro do mundo ao mais dinâmico banco de investimentos brasileiro, surgiu estampada nos jornais econômicos já na segunda-feira 4 ? o primeiro dia útil após o casamento. Era o anúncio da operação de abertura de capital da Dufry, que administra os free shops brasileiros, na Bolsa de Valores de São Paulo ? um negócio da ordem de R$ 750 milhões. ?Essa é a nossa primeira operação com a nova bandeira?, disse à DINHEIRO o jovem banqueiro André Esteves, de apenas 38 anos, que conduziu a venda do banco e continua à frente do negócio, agora como presidente do UBS Pactual.

Essas duas histórias explicam por que Esteves se tornou um dos grandes nomes de 2006 e foi escolhido como o ?Empreendedor do Ano? na área de finanças. De um lado, ele cravou uma marca histórica, ao vender o Pactual ao UBS por uma montanha ? ou melhor, uma cordilheira ? de dólares. Mas o seu banco só passou a valer tanto dinheiro porque esteve a serviço de seus clientes, criando valor para as empresas e fortunas para os seus acionistas. Nos últimos anos, o Pactual estruturou e coordenou diversos bons negócios para clientes como a Dufry. Entre 2004 e outubro de 2006, período de ouro para o mercado brasileiro, as colocações de ações somaram US$ 20,3 bilhões, em 71 operações. E o grande Midas desse processo foi Esteves. O Pactual participou de 29 negócios ? 40% do total ? em operações que somaram quase US$ 7 bilhões. Entre elas, casos emblemáticos desse ?novo mercado? como os de Natura, Localiza, Uol e da mineradora MMX. ?O Brasil vive hoje uma oportunidade histórica?, avalia Esteves. ?Com esse acesso ao mercado de capitais, as empresas estão capitalizadas e prontas para investir, o que se traduzirá em mais crescimento.?

 

Ao longo dos últimos anos, o Pactual construiu uma franquia única no Brasil, ao replicar um modelo completo de banco de investimentos, com as áreas de gestão de fundos, de fortunas e também de corporate finance. Esse foco foi definido no fim dos anos 90, quando a geração de Esteves chegou ao poder e os três fundadores ? Luiz Cezar Fernandes, Paulo Guedes e André Jacurski ? deixaram o banco. Enquanto Cezar defendia a compra de um banco de varejo, Jarcurski apostava num hedge fund e Guedes defendia a tese que acabou vingando. Com as desavenças internas, o grupo de sócios liderado por Esteves acabou comprando as ações dos três. ?Os fundadores tiveram um papel central na nossa história?, diz Esteves. ?Enquanto o Cezar criou o DNA do Pactual, com uma obsessão por capital humano, os outros dois trouxeram um método de eficiência e resultado?, diz ele. Esteves, porém, relembra que o modelo de banco de investimentos demorou a dar certo e ainda foi implantado num momento em que várias instituições internacionais reduziam sua presença no Brasil. ?Tivemos de comer muito osso antes de provar alguma carne, mas nós apostávamos na escala da da economia brasileira?, diz Esteves. ?E o tempo mostrou que estávamos certos.?

 

Os próximos anos, na visão do presidente do UBS Pactual, são muito promissores. Para a economia brasileira, Esteves enxerga um cenário de estabilidade e crescimento, com valorização maior das companhias nacionais. Ele aposta na corrente dos ?emerging giants?, que foi objeto de capa de revistas como Business Week e The Economist. A tese central é que, com a valorização das bolsas dos países em desenvolvimento, esses ?gigantes emergentes? estarão aptos a adquirir grandes corporações globais. Um caso recente foi a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce. Nesse caso, por sinal, o UBS Pactual financiou cerca de 30% da operação, levantando US$ 4 bilhões para a Vale. ?A criação do UBS Pactual preservou a nossa cultura e nos deu acesso a operações como essa, para as quais não tínhamos tamanho?, diz Esteves. Basta dizer que o UBS, no mundo, gere cerca de US$ 200 bilhões em ativos. E agora, como parte desse grupo, Esteves estará à frente de missões estratégicas, como liderar a expansão em países como México, Argentina e Colômbia.

Uma das conseqüências da operação com o UBS foi o pagamento da primeira parcela do negócio, de US$ 1 bilhão. Para reter os executivos, serão gastos US$ 500 milhões. E mais US$ 1,6 bilhão virá se as metas de resultados traçadas para os próximos anos forem alcançadas. Esteves, que possui 30% do Pactual, terá portanto condições de apostar numa série de novos empreendimentos. ?Mas nossos investimentos serão feitos dentro dos produtos do banco, junto com o dinheiro dos clientes?, diz ele. A única exceção é um projeto pessoal, que Esteves pretende colocar na rua já em 2007. Será uma fundação voltada para projetos de sustentabilidade e conservação ambiental. ?Ela terá escala global?, diz Esteves, sem adiantar maiores detalhes. Isso significa que Esteves poderá estar ao lado de figuras como Ted Turner, o magnata americano que criou a rede de notícias CNN. A Turner Foundation é a principal instituição filantrópica 100% dedicada ao meio ambiente.