07/12/2011 - 21:00
O banqueiro carioca André Esteves, 43 anos, é um dos homens mais ricos do Brasil. Com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões, o dono do banco de investimento BTG Pactual, no entanto, tem um estilo de vida sem qualquer tipo de ostentação e pode ser considerado espartano para o seu padrão de renda em relação a muitos de seus pares. Há quatros anos, Esteves dirige o mesmo carro, um Mercedes de sete lugares, que o deixou recentemente na mão por um problema na ignição. Mantém o hábito de almoçar no escritório. Tido por seus sócios como um workaholic de carteirinha, ele chega por volta das 8 horas na sede do BTG Pactual, em São Paulo, e só vai embora depois das 22 horas. As férias se resumem a duas semanas por ano. No domingo à noite, reúne os principais sócios em sua casa, na capital paulista, para começar a trabalhar. Pizza é o prato preferido nesses encontros. “Sou bom em ganhar dinheiro, não em gastar” é um lema que funciona quase como um cartão de visitas, repetido à exaustão. Em 2011, isso nunca foi tão verdadeiro. Esteves fez negócios em uma velocidade e agressividade impressionantes até mesmo para o seu nível já acelerado de atuação. Tanto que as impressões digitais do financista e do seu BTG Pactual podem ser encontradas nas principais fusões, aquisições e aberturas de capital deste ano no Brasil.
No final de janeiro, comprou uma fatia de 37,6% do quebrado banco PanAmericano, do grupo Silvio Santos, por R$ 450 milhões. Em junho, abriu o capital da Brazil Pharma, sua holding de farmácias, captando R$ 465 milhões. Em setembro, promoveu a fusão da BR Propertiescom a WTorre Properties, da qual era o principal acionista, criando a maior administradora de prédios corporativos e galpões industriais do País, com ativos de mais de R$ 10 bilhões. O BTG Pactual assessorou os irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, que venderam 50,45% de sua participação na cervejaria Schincariol, por R$ 4 bilhões, à japonesa Kirin, em um dos maiores negócios deste ano. Na maior oferta pública de ações de 2011, a da Gerdau, que levantou cerca de R$ 4,5 bilhões, lá estavam o banqueiro e seu time. Por essas e outras jogadas, Esteves foi eleito o EMPREENDEDOR DO ANO pela revista DINHEIRO. “Não acredito em banco de investimento que não investe”, diz.
Arigatô: o BTG Pactual assessorou Adriano Schincariol a vender sua cervejaria para a japonesa Kirin
por R$ 4 bilhões, um dos maiores negócios de 2011 no Brasil
A frase acima é uma espécie de mantra que Esteves gosta de repetir para justificar o seu apetite por assessorar fusões e aquisições, emprestar dinheiro para os negócios e muitas vezes comprar uma fatia das empresas. Às vezes, tudo isso simultaneamente. Considerado por alguns um predador e por muitos um gênio capaz de enxergar oportunidades onde ninguém vê, Esteves é conhecido por seu gosto pelo risco. “Essa é uma visão errada”, diz ele. “Sou sim o homem do controle de risco.” E como fazer isso? “Quando vamos entrar em um negócio, a primeira pergunta que fazemos é quanto dá para perder”, afirma. “Só depois avaliamos quanto podemos lucrar.” Uma de suas qualidades é a capacidade de prestar atenção nos mínimos detalhes. “Ele é um ouvinte atento, rápido e perspicaz em uma discussão de negócio”, diz Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, que teve Esteves ao seu lado na frustrada tentativa deunir o supermercado brasileiro com o francês Carrefour. “Não me surpreende que tenha construído, em tão pouco tempo, um dos maiores bancos de investimentos do País.”
A carteira de empresas da qual o BTG Pactual detém participações reúne algumas das principais companhias do Brasil em seus setores de atuação, como a Rede D’or, maior rede de hospitais da América Latina. No total, são 11 empresas, sendo que nove delas receberam investimentos nos últimos dois anos. “Esteves é um sócio perfeito para nós”, diz Walter Torre, acionista da BR Properties. “Ele enxerga à frente.” Seus detratores alegam que ele teve sorte na condução de seus negócios. Esteves, no entanto, prefere outra explicação. “Descobri uma relação matemática muito produtiva: quanto mais você trabalha, mais a sorte aumenta”, afirma, com fina ironia. O garoto da classe média do Rio de Janeiro teve de “ralar” muito para chegar à condição de banqueiro bem-sucedido e admirado. Formado em matemática, ele foi trabalhar, aos 21 anos, no então banco Pactual, dos empresários Luiz Cezar Fernandes e Paulo Guedes, como analista de sistemas.
A compra do PanAmericano, de Silvio Santos, marcou a entrada do BTG Pactual no varejo bancário
Sua cultura foi forjada no ambiente de meritocracia do Pactual, um local tão competitivo em que os primeiros funcionários a encerrar o expediente eram saudados com palmas sarcásticas dos que ficavam. Em 1999, Esteves fazia parte do grupo que afastou Fernandes e assumiu o comando do banco. Sete anos depois, vendeu-o para o suíço UBS por aproximadamente US$ 3,1 bilhões. Em 2009, recomprou o Pactual por US$ 2,5 bilhões, aproveitando-se da crise financeira global. Nascia o BTG Pactual, do qual é o principal acionista. Em dezembro de 2010, o banco recebeu um reforço respeitável ao vender uma fatia de 18% do seu capital, por US$ 1,8 bilhão, para um consórcio formado pelos três maiores fundos soberanos globais – os da China, de Cingapura e de Abu Dhabi – e por algumas dinastias poderosíssimas, como as famílias Rothschild, Agnelli e Santo Domingo. Os próximos passos de Esteves se assemelham a uma estratégia de uma partida do jogo War, nos quais os participantes se digladiam em busca de territórios.
Em 2012, o objetivo do BTG Pactual será o de fechar uma região. “Há uma boa chance de consolidar a América Latina”, afirma Esteves. A primeira movimentação nesse tabuleiro foi o acordo, ainda não finalizado, de fusão com o grupo financeiro chileno Celfin Capital. Sem revelar detalhes, ele diz que avançará com suas tropas pelo continente latino-americano por meio de escritórios próprios e de aquisições. O outro passo será reforçar a presença estratégica no continente asiático. Nos últimos 12 meses, o exército de Esteves estabeleceu uma posição importante na Ásia graças a seus sócios, os fundos soberanos da China e de Cingapura. O BTG Pactual também assinou um acordo de cooperação com o banco japonês Sumitomo. E, por último, comprou 1% da maior corretora da China, a Citic Securities, que abriu o capital em setembro. A rotina de Esteves é o que ele próprio chama de indescritível.
De ferro e aço: o BTG Pactual esteve por trás da maior captação de 2011, a da Gerdau,
de André (centro) e Jorge Gerdau, que levantou R$ 4,5 bilhões na bolsa
No dia em que recebeu a DINHEIRO, havia participado de 19 reuniões. Mesmo assim, ele segue um roteiro bem planejado. Vai a Londres e Nova York todo mês. Está no Rio de Janeiro a cada 15 dias. Em Brasília, duas vezes por ano. Visita os quatro escritórios regionais, em média, a cada seis meses. Faz essas viagens a bordo de seu jato particular, um luxo para o seu padrão austero. Graças ao jato, pode manter o hábito de sempre voltar para São Paulo e dormir em sua casa. O motivo é simples: Esteves leva diariamente seus filhos à escola. Gosta também de preparar jantares para clientes em sua residência. Em um deles, convidou o empresário Edson de Godoy Bueno, que acabava de abrir o capital da Amil. “Ele escolheu o vinho mais caro de sua adega para comemorar”, lembra Bueno. “Só se esqueceu de um detalhe: não bebo.” Não houve nenhum constrangimento. “Brindei com um suco de laranja e demos muitas risadas.”