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ANDRÉ ESTEVES: “Tenho orgulho não só do que fiz, mas também daquilo que não consegui fazer”

GAME OVER. ESSA MENSAGEM JAMAIS apareceu na tela do computador do banqueiro André Esteves, mas foi assim que muitos interpretaram sua saída do UBS Pactual, anunciada há pouco mais de um mês. Até então, a trajetória do jovem bilionário carioca, de apenas 40 anos, vinha sendo marcada por uma sucessão de grandes vitórias. Em 2006, ele fez o maior negócio da história do sistema financeiro nacional ao vender o Pactual para os suíços por US$ 3,1 bilhões e embolsar quase 30% da bolada. Depois disso, Esteves foi alçado ao comando da área de renda fixa do UBS, em Londres, e passou a gerir mais de US$ 2 trilhões em ativos. Sua aposta mais ousada ocorreu no auge da crise imobiliária americana quando ele estruturou duas propostas que foram apresentadas ao board do UBS, nos Alpes europeus: uma para recomprar a divisão latino-americana e outra para adquirir o banco inteiro, afetado pelas perdas do subprime. Os suíços quase caíram para trás. Instituição com 150 anos de história, o UBS jamais poderia ser vendido a um brasileiro nascido e criado na zona norte do Rio de Janeiro. Fim da linha, fim do jogo para Esteves.

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Mas, será mesmo? A julgar pela disposição de um pequeno grupo de banqueiros que divide uma sala no nono andar da sede do UBS Pactual no Brasil, o jogo está apenas começando. Ou melhor, recomeçando. Liderados por Esteves, sete ex-sócios do Pactual registraram a marca BTG, que significa back to the game – de volta ao jogo. Todos eles já utilizam e-mails com seus nomes seguidos de “@btgfund.com.br”. No dia 1o de setembro, eles se mudam para a cobertura de um edifício da rua Amauri, em São Paulo, onde fica o restaurante Parigi, do grupo Fasano. De lá, pretendem começar uma empresa de investimentos que deverá ter US$ 3 bilhões já no primeiro ano – dinheiro dos sócios e de terceiros. Procurado pela DINHEIRO, Esteves evitou falar sobre os planos futuros. Está impedido pelo acordo de confidencialidade sobre sua saída do UBS, cujos contratos ainda não foram assinados. Devem sair em duas semanas. Mas pessoas próximas garantem que ele não se abalou com a derrota interna. Aos sócios, diz que se orgulha tanto do que fez até agora como daquilo que não conseguiu fazer. Perder também é do jogo.
O projeto BTG chega cercado de expectativa por uma série de razões. Primeiro, porque André e seus sócios sucederam ícones do mercado financeiro nacional – como Luiz Cezar Fernandes e Paulo Guedes – e construíram uma história de sucesso sem paralelo. Nenhuma outra instituição ficou tão associada à febre dos IPOs como o Pactual. Segundo, porque agora eles têm muito mais dinheiro do que no passado. Terceiro, porque estão apostando o próprio capital na empreitada – Esteves abriu mão de mais de US$ 50 milhões a que teria direito se ficasse no UBS até 2011. Quarto, porque o projeto é global. No primeiro momento, virão 15 brasileiros egressos do Pactual e outros 15 estrangeiros recrutados por Esteves no banco suíço. Os primeiros escritórios serão em São Paulo, Nova York, Londres e Hong Kong. Essa movimentação já foi destacada em publicações internacionais como Euromoney, Euroweek e The Economist. Em todos os casos, Esteves foi retratado como um empreendedor ímpar, que combina talento, juventude e ambição. “É o empresário mais promissor do Brasil”, aposta Marcus Elias, ex-sócio e controlador da Parmalat.
 

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O nome BTG ainda é provisório. Dias atrás, numa conversa informal, o publicitário Nizan Guanaes reuniu- se com alguns dos sócios de Esteves e, numa brincadeira, sugeriu o nome Actual, que também não emplacará. O que se busca é uma palavra forte, que soe bem nos quatro cantos do mundo e que, naturalmente, esteja associada à multiplicação de dinheiro. Na primeira entrevista que concedeu em toda sua vida, em 2006 à DINHEIRO, Esteves se definiu de forma simples e direta. “Nasci para ganhar dinheiro, não para gastá- lo.” Seu estilo de vida é espartano, sem nenhum tipo de ostentação. O passatempo mais comum nos fins de semana é a viagem a um sítio em Minas Gerais, acompanhado da mulher, dos três filhos, da mãe e da avó.

SEDE NA SUÍÇA:
Esteves tentou
comprar a filial
latino-americana
e também
o banco inteiro

O banqueiro também já escolheu seus dois braços direitos. Um deles será o veterano Antônio Carlos Porto, o Totó, que cuidará do relacionamento com os clientes. Amigo de nove em cada dez milionários brasileiros, ele está abrindo mão de cerca de US$ 5 milhões em bônus para se incorporar ao projeto – e isso aos 65 anos. André o tem como um segundo pai. A segunda peça-chave é Marcelo Kalim, que respondia pela gestão dos fundos no UBS Pactual e terá a mesma missão na BTG. Outros sócios importantes serão James Oliveira, da área de tesouraria, e Carlos Fonseca, do banco de investimentos.

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TOTÓ, O BRAÇO DIREITO: amigo de nove em cada dez milionários, ele cuidará da relação com os clientes

 
 

Os aspectos mais delicados do acordo de saída dizem respeito ao escopo de atuação da BTG. O que se combinou com o UBS Pactual é que a nova empreitada de Esteves & companhia não poderá concorrer diretamente com o banco. “Ele é nosso amigo e continuará sendo nosso parceiro”, diz Rodrigo Xavier, que assumiu a presidência do banco suíço na América Latina. Outro ponto complexo diz respeito à PCP, uma gestora de private equity que já investiu em energia, através da Light, em imóveis, com a PDG Realty, e no agronegócio, associada ao grupo argentino Los Grobo. Esta é uma empresa que foi constituída em 2006, ano da venda do Pactual, sendo gerida por Gilberto Sayão, que decidiu continuar no UBS. Metade do capital, no entanto, pertence a sócios que estão deixando o banco e que também pretendem abrir seu próprio fundo voltado para a compra de empresas no setor real da economia.

Esses pequenos nós deverão ser solucionados nas próximas semanas, mas há também alguns focos de tensão no UBS Pactual. A área de análise do banco rebaixou a classificação de empresas que abriram seu capital na gestão André Esteves, como a Laep e a Dufry, afetando o valor das ações. Num ambiente competitivo como o do mercado financeiro, é também natural que algumas rixas pessoais venham à tona no momento da separaseparação. Tudo isso termina em setembro, quando o banqueiro carioca começará uma nova história. Sua inspiração é o amigo Jorge Paulo Lemann, da AmBev, que acaba de comandar a compra da Budweiser. O que Esteves tem dito aos sócios é que não basta ser bilionário. É preciso construir um legado que seja ainda maior do que a própria fortuna.

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“O ANDRÉ ESTEVES É NOSSO AMIGO E CONTINUARÁ SENDO PARCEIRO” RODRIGO XAVIER, PRESIDENTE DO UBS PACTUAL