Mesmo com a desistência da Telebras em participar da construção do primeiro cabo submarino para a transmissão de dados entre o Brasil e o continente africano, a Angola Cables assina nesta sexta-feira, 24, um acordo com a prefeitura de Fortaleza para o início das obras do equipamento.

O governo municipal cedeu um terreno para a central de dados da companhia angolana, que também ligará a capital cearense aos Estados Unidos por outro cabo marítimo.

Batizado de Sacs (Sistema de Cabos do Atlântico Sul, na sigla em inglês), o equipamento, composto por quatro pares de fibras ópticas de alto desempenho ligando Angola ao Brasil, será primeiro a atravessar esse oceano abaixo da Linha do Equador.

O conjunto de cabos estendidos entre Luanda e Fortaleza, a uma distância de 6.165 quilômetros sob o mar, terá capacidade total de transmissão de 40 terabits por segundo (Tbps), o equivalente a 5 mil gigabits por segundo (Gbps, medida mais usada para medir a velocidade das conexões domésticas de internet). A previsão é de que o novo cabo entre em funcionamento no começo de 2017.

“Todas as rotas alternativas para tráfego de dados são interessantes, tanto do ponto de vista da qualidade, como da velocidade e da segurança dos serviços. Atualmente, todas as comunicações angolanas para fora da África precisam passar necessariamente pela Europa, e o cabo com o Brasil será uma ligação alternativa tanto para brasileiros como para angolanos”, explica o CEO da Angola Cables, António Nunes.

O primeiro passo do projeto é a construção de um datacenter em um terreno de 3 mil metros quadrados cedido pela prefeitura de Fortaleza, além de uma estação para a conexão dos cabos.

Segundo Nunes, a desistência da Telebras não atrasou o cronograma do projeto. Em março de 2012 a estatal firmou um contrato com a empresa angola em cerimônia no gabinete do então ministro das Comunicações Paulo Bernardo, mas problemas de orçamento levaram a companhia brasileira a abandonar o empreendimento.

“No começo se tratava de um projeto conjunto com a Telebras, mas, com a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a empresa teve outras prioridades. Os cabos submarinos são o ‘core business’ da Angola Cables, enquanto a Telebras tem uma série de outras atribuições”, avalia o empresário.

Ainda assim, no fim do mês passado, a Telebras firmou acordo com a espanhola IslaLink para a construção de um cabo ligando o Brasil à Europa, ainda sem data para a entrada em operação.

De acordo com a Angola Cables, os investimentos da empresa no Brasil serão de R$ 72 milhões, sendo R$ 35 milhões alocados diretamente em Fortaleza, com a previsão de criação de mais 600 empregos diretos e indiretos.

Graças à localização da capital cearense, a empresa africana também já começou a construir um cabo – batizado como Monet – ligando a cidade nordestina a Miami (EUA) e Santos (SP), em um projeto conjunto com a brasileira Algar Telecom, a uruguaia Antel e o Google. Com capacidade de 60 Tbps (20 Tbps para a companhia angolana) e cerca de 10 mil quilômetros de extensão, o equipamento ficará pronto em 2016.

“Temos ainda um plano de construção de um cabo que conecte a Costa Oeste da África com a Costa Leste do continente. Estamos falando de uma rede que irá dos Estados Unidos à Ásia consolidando Fortaleza – uma cidade que já conta com sete cabos submarinos instalados – como um dos principais HUBs de dados do mundo”, acrescenta Nunes. Considerando toda a rede prevista pela Angola Cables, os investimentos totais dos projetos chegam a US$ 300 milhões.