14/03/2018 - 8:06
Ana Maria Beresca, bióloga e chefe da Divisão de Ciências Biológicas da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, deu à reportagem um depoimento sobre a situação da instituição.
O zoológico paulistano, que completa 60 anos nesta sexta-feira, 16, pode passar o aniversário sem nenhum visitante. Fechado desde 23 de janeiro, quando foi confirmado que um bugio achado morto no local estava com febre amarela, o Zoo amarga prejuízo de quase R$ 6 milhões e a demissão de cerca de cem de funcionários. Não há, ainda, prazo para reabertura.
“Estou aqui há muito tempo e esta é a primeira vez que o parque está fechado desse jeito. Lembro que nos anos 1990 enfrentamos uma greve, e o portão ficou fechado por um dia. Fui contratada em 1992, para trabalhar como bióloga no setor de mamíferos. Depois de oito anos, fui transferida para o setor de nutrição e, após mais três anos, para a área de comportamento animal. Depois de mais oito anos, vim para a divisão que trabalha com aves, mamíferos, répteis e com a parte de comportamento”, disse.
“A gente precisa da bilheteria para manter o parque, e temos uma preocupação com os visitantes. O zoológico é um ponto turístico e recebe muitas escolas municipais e estaduais. Sempre falamos que as pessoas vêm aqui pelo menos três vezes na vida: quando criança, para trazer o filho e, depois, com o neto. Muitas vezes, elas se lembram de excursões com a escola.”
“No ano passado, sentimos o impacto da crise financeira e, dentro das possibilidades, trabalhamos com educação ambiental para trazer mais público, apresentamos e batizamos filhotes. Nossa bilheteria não caiu muito. É difícil ver o zoológico fechado. Estamos acostumados com a gritaria das crianças e, quando caminhamos agora, só encontramos funcionários”, lamenta.
“Quando a gente teve de fechar o parque, sentimos que os animais estavam descansando, porque aqui funciona de segunda a segunda. Eles ficaram até mais relaxados. Mas os animais estão acostumados com o público. Quem sente mais são os primatas, que são mais carismáticos. A onça-pintada interage muito com o público, e é comum vê-la pular no vidro, assustando os visitantes. Agora ela está apática.”
“A gente tenta suprir (a falta de visitantes) com os funcionários, que fazem companhia, porque os animais não entendem o que está acontecendo. De repente, é só silêncio. Nós intensificamos as atividades de enriquecimento, como colocar brinquedos e fornecer alimentos de forma diferente para que eles procurem.”
“Nunca passamos por uma crise tão séria. Na próxima sexta-feira será o aniversário de 60 anos do Zoo e a gente tinha feito uma programação especial. Será o primeiro aniversário em que o zoológico vai passar fechado – e o último, espero”, finaliza Ana Maria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.