22/08/2012 - 21:00
A água é um recurso abundante no Brasil. Os rios e lagos do País respondem por 12% das reservas de água doce do mundo, o maior estoque do planeta. À primeira vista, o número afasta as previsões mais alarmantes de um futuro de escassez crônica do insumo. No entanto, apenas 20% dessas reservas abastecem as regiões mais densamente habitadas e industrializadas do País. Os demais 80% estão concentrados na Amazônia. Para contornar situações de escassez nas áreas metropolitanas, a indústria vem buscando alternativas. Dos 2,3 milhões de litros captados de rios e reservatórios, a cada segundo, 17% alimentam parques industriais. “A abundância no Brasil gera uma falsa sensação de conforto”, afirma Alexandre Lima, gerente da superintendência de planejamento de recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA).
Incentivo para economizar: a Ambev, de Ricardo Rolim, oferece crédito
para quem poupa água em casa.
Ao reduzir a pressão sobre os recursos hídricos, a indústria se consolida como o setor que faz o uso mais racional da água no País. Um estudo da ANA mostra que 79% do insumo consumido pelas empresas é devolvido à natureza de forma adequada, com os efluentes tratados. A média nacional é de 49%. “A indústria já percebeu que a escassez de água é uma questão econômica muito séria”, diz Mônica Messenberg Guimarães, diretora de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). E, se nada for feito, parte da conta pode ser paga pelo setor privado, adverte Benedito Braga Júnior, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica, da Universidade de São Paulo (USP).
“À medida que caminhamos para o futuro com demandas cada vez maiores, fatalmente esse recurso vai custar mais caro.” Essa é uma realidade, principalmente para as empresas instaladas nas proximidades das bacias hidrográficas mais demandadas. É o caso de áreas metropolitanas com elevada atividade industrial, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde a escassez hídrica tem estimulado investimentos. A Aquapolo, sociedade entre a Odebrecht e a Sabesp, a companhia de saneamento do governo paulista, por exemplo, investiu R$ 364 milhões para captar 650 litros de esgoto tratado por segundo e abastecer o Polo Petroquímico de Mauá, na Grande São Paulo.
Fontes alternativas: a Vale, de Bernardette Backx, capta
água de lençol freático, encontrada nas minas.
O efluente será então transportado por 17 quilômetros de tubos, e purificado numa estação própria, até alcançar os exigentes parâmetros da indústria química. Com isso, a Aquapolo garante o consumo de quatro unidades da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht, e de quatro fábricas de outras companhias. “O consumo da indústria concorre com o da população”, diz Marcos Asseburg, presidente da Aquapolo, que calcula em 40% a economia no preço da água. “Se nada fosse feito, as empresas teriam de ser realocadas devido à escassez de água.” A Ambev, que tem nos rios e reservatórios a sua principal fonte de matéria-prima, também vem trabalhando para otimizar a utilização do recurso.
Nos últimos dez anos, a companhia reduziu em 33% o consumo de água utilizada na fase de produção de bebidas. “Com a economia que conseguimos, dá para abastecer uma cidade do porte de Florianópolis, com 600 mil habitantes”, afirma Ricardo Rolim, diretor de relações socioambientais da Ambev. A empresa tem criado sistemas de incentivos para estimular a redução do consumo doméstico de água em São Paulo, Rio de Janeiro e Uberaba (MG). Os créditos podem ser utilizados em redes do varejo. “Com 19 mil participantes, economizamos 100 milhões de litros”, diz Rolim.
A Vale é outra companhia que tem trabalhado para reduzir a pressão nos custos de produção. No ano passado, a mineradora investiu US$ 90 milhões para racionalizar o consumo. Como as áreas de operação se encontram em regiões afastadas, onde não há abastecimento, a saída é captar água de rios para beneficiar o minério extraído. Nos últimos anos, porém, a empresa utilizou a água de lençol freático, encontrada nas escavações de minas. Do 1,3 bilhão de litros consumidos, no ano passado, 70% vieram dessa fonte. “Com o que deixamos de captar dos rios, dá para abastecer uma vez e meia a cidade do Rio”, diz Bernardette Backx, gerente de recursos hídricos da Vale.