Existe uma maneira eficaz de mostrar que investir na ciência é a resposta certa: crescer com isso. E crescer, aqui, significa não apenas o resultado financeiro da companhia. Todo o ecossistema precisa estar nessa ciranda evolutiva. “Nossa missão é permitir que nossos clientes tornem o mundo mais saudável, limpo e seguro.” É o lema da gigante americana Thermo Fisher, de Pesquisa & Desenvolvimento. A trindade traduz seu DNA e faz a empresa navegar em receitas anuais na casa dos US$ 40 bilhões (os resultados consolidados de 2022 serão divulgados dia 1 de fevereiro). Até os nove primeiros meses do ano passado, a receita foi de US$ 33,4 bilhões, alta de 17% sobre o mesmo período de 2021. O lucro líquido teve queda de 11%, mas ainda assim foi de US$ 5,4 bilhões nos três trimestres. O que move essa montanha de dinheiro? Aquisições, por um lado. Pesquisa & Desenvolvimento, de outro. “Teremos um intenso pipeline de lançamentos nos próximos anos e ao mesmo tempo mantendo a forte cultura de aquisições”, afirmou Rodrigo Moura, diretor-geral Brasil da Thermo Fisher.

Um desafio e tanto para uma instituição com mais de 1 milhão de produtos no portfólio, que é dividido em quatro grandes áreas: Instrumentos de Análises, Diagnósticos de Especialidades (que somadas respondem por cerca de um quarto do faturamento), Soluções de Ciências da Vida (cerca de um terço das receitas do grupo) e Produtos de Laboratório & Serviços Biofarmacêuticos (quase metade das receitas). Esta última foi a unidade que mais subiu na variação anual (+55%).

Parte do crescimento é orgânico, mas outra boa parte vem cada vez mais de aquisições. Na terça-feira (3), deu continuidade à cultura de M&A para expandir a unidade de Diagnósticos de Especialidade no campo da oncologia por meio da consolidação da compra do grupo Binding Site por aproximadamente US$ 2,8 bilhões. Marc N. Casper, o principal executivo global da companhia, afirmou que a transação não apenas é expansão do portfólio. “O diagnóstico precoce e decisões de tratamento bem informadas podem fazer uma diferença significativa nos resultados dos pacientes”, afirmou em comunicado. A empresa mira numa população global que viverá cada vez mais e necessitará de cuidados de saúde mais sofisticados.

Com mais de 100 mil colaboradores mundialmente, sendo 5,7 mil cientistas e engenheiros de pesquisa & desenvolvimento — área estratégica que recebe US$ 1,4 bilhão de investimentos anualmente —, a companhia tem difundido esse cenário também no Brasil desde 2010, atendendo do setor industrial ao petroquímico. A empresa americana foi um dos principais atores no combate à Covid-19, contribuindo com descobertas de novas variantes e produzindo testes. A performance rendeu vários prêmios durante a competição anual de pesquisador do ano da PharmaTimes. Foram contemplados mais de duas dezenas de cientistas funcionários da Thermo Fisher, além de a empresa ficar com a principal premiação da noite, o Clinical Research Company of The Year.

EQUIPAMENTO DE PONTA Em parceria com a BiotechTown, a Thermo Fisher fornece equipamentos para projetos de pesquisa e desenvolvimento. (Crédito:Divulgação)

CIÊNCIA BRASILEIRA Em terras tupiniquins, a Thermo Fisher quer incentivar projetos científicos que resolvam problemas reais por meio de investimentos em startups, seja com capital monetário ou intelectual, dando suporte de diferentes maneiras. O que tem sido feito mediante parcerias como o Programa de Inovação em Biotecnologia, lançado em julho do ano passado pelo hospital Albert Einstein, para incentivar soluções inovadoras. Camila Hernandes, gerente de Inovação do Einstein, disse que ter a companhia americana como parceira faz a diferença pelo alinhamento de valores. “A Thermo Fisher investe o que investe em P&D e acredita no potencial científico nacional”, afirmou. “Isso faz toda a diferença para o programa.”

Na empreitada que vai ajudar startups brasileiras na difusão de suas soluções transformadoras, foram escolhidas sete empresas iniciais com soluções diversas que vão da pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia a soluções de tratamento dermatológico para pacientes com câncer. Todas elas terão seu desenvolvimento acompanhado pelo programa tanto no olhar do produto quanto do negócio. “Esse mercado em que nós atuamos é com certeza o futuro da sociedade e do nosso planeta”, afirmou Rodrigo.

Outra parceria é com a BiotechTown, hub de inovação focado em biotecnologia e ciências da vida. A Thermo Fisher fornece equipamentos de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para, por exemplo, a criação de testes para detecção de doenças em laboratório.

Esses valores estão no compromisso da companhia com a agenda ESG, documentado na carta anual aos investidores. “Nossa Fundação para a Ciência inclui o apoio a mais de 100 mil estudantes em todo o mundo por meio de nossos programas de educação e apoio a pesquisadores de ciências da vida em países em desenvolvimento”, afirmou a empresa. Ou, como diz Moura, “a sociedade entendeu que a ciência também pode ser uma solução para criação de negócios.”