03/08/2022 - 15:00
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, volta a se apresentar, nesta quarta-feira (3), mais uma vez a favor do acesso ao aborto, após uma vitória dos defensores desse direito no conservador estado do Kansas, que reforçou a estratégia do presidente para as eleições de meio mandato.
Os moradores do Kansas foram os primeiros americanos convocados a se pronunciar sobre o direito de uma mulher de interromper uma gravidez desde sua anulação, por parte da Suprema Corte, em 24 de junho.
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A votação foi vista como um teste antes das eleições de novembro. Enfraquecidos por uma inflação galopante e pela desaceleração da economia, os democratas e seu líder Biden esperam salvar algumas cadeiras no Congresso, mobilizando seus eleitores em defesa do direito ao aborto.
E o que aconteceu no Kansas deu-lhes motivos para ter esperança. Com uma alta participação, quase 60% dos eleitores rejeitaram, na terça-feira (2), uma medida antiaborto.
Este estado rural é, no entanto, muito conservador. Nos últimos 80 anos, votou apenas uma vez a favor de um candidato presidencial democrata, e os analistas previam um resultado apertado.
Para os defensores do direito ao aborto, que saudaram esse “maremoto histórico”, o resultado não surpreende.
“O povo do Kansas provou o que se diz há muito tempo: defender o acesso ao aborto é vencer politicamente”, comentou Jenny Lawson, da organização de planejamento familiar Planned Parenthood.
Enviaram “uma mensagem clara aos políticos que, no país, lutam contra o aborto: seu tempo está acabando”, acrescentou, apesar de candidatos hostis à interrupção voluntária da gravidez terem vencido as primárias republicanas em vários estados.
– Mobilizar eleitores –
“A votação demonstrou o que já sabíamos: a maioria dos americanos acredita que as mulheres devem ter acesso ao aborto”, disse Biden, em um comunicado.
De acordo com as últimas pesquisas, cerca de 60% da população apoia o direito ao aborto e, embora haja divisões partidárias significativas, quase 40% dos eleitores republicanos são a favor.
Com base nesses números, o presidente americano, que corre o risco de perder o controle do Congresso em novembro, tenta mobilizar seus eleitores desde a decisão de 24 de junho.
Depois do referendo no Kansas, o presidente voltou a fazer um apelo a seus concidadãos para que “continuem levantando suas vozes para proteger os direitos das mulheres”. Ao mesmo tempo, o democrata tenta minimizar os efeitos da revogação da Suprema Corte, que já permitiu que uma dezena de estados proíbam o aborto em seu território.
Após um primeiro decreto para garantir o acesso à pílula do dia seguinte, ou proteger as clínicas móveis, Biden pretende assinar uma segunda ordem executiva, às 14h (15h em Brasília), diante das câmeras e cercado por membros do gabinete.
Em particular, este texto ordenará que seu governo examine os meios para expandir a cobertura médica para mulheres forçadas a viajar para abortar. Também planeja promover a pesquisa sobre saúde materna e buscar formas de prevenir a negação de atenção por parte dos cuidadores.
Na terça-feira, o procurador-geral entrou com uma ação contestando uma lei de Idaho, por temor de que isso obrigue os médicos a se recusarem a realizar abortos, mesmo no caso de uma emergência médica.
Mas todas essas iniciativas têm alcance limitado e, no longo prazo, abortar será quase impossível em metade dos 50 estados do país, especialmente no sul e no centro mais religioso, onde os republicanos têm maiorias sólidas.
Já os estados progressistas buscam proteger os direitos ao aborto. Nesse sentido, os eleitores de Califórnia, Michigan, Nevada e Vermont também votarão este ano para decidir sobre medidas de proteção.