Em Siversk, no leste da Ucrânia, Oleksandr Kuzenko e suas vizinhas tentam encontrar conforto na celebração do Ano Novo, com a esperança de que sua cidade não tenha o mesmo destino que a vizinha Soledar, reduzida a ruínas pelos intensos confrontos.

Abrigados em seu porão, eles comemoraram o Malanka, o Ano Novo segundo o calendário juliano, conhecido na Ucrânia por suas comemorações com pessoas fantasiadas e mascaradas.

Mas para Kuzenko e suas vizinhas, três mulheres idosas as quais ajuda a cuidar, a celebração foi modesta.

Guirlandas douradas enfeitavam o cobertor improvisado de porta na entrada do único cômodo com fogão, no porão onde se abrigam desde que o bombardeio à cidade teve início durante o verão.

Uma faixa no cobertor diz “Feliz Ano Novo 2023, ano do Coelho, ano da Vitória!”, iluminada por uma das três velas restantes.

– “Estamos fortes” –

“Estamos fortes, tentamos sobreviver esperando que a guerra termine”, confessou Kuzenko à AFP, sentado de frente para uma mesa com dois pratos pequenos de comida que compartilham entre si.

Próxima a ele, sua vizinha, Lyubov, de 69 anos, atribui os restos dos alimentos para os muitos animais de estimação abandonados que agora cuidam.

Mas a guerra pode estar longe de terminar em Siversk. A população local parece estar no centro dos conflitos novamente após o Ministério de Defesa da Rússia proclamar vitória em Soledar, o que a Ucrânia nega.

No entanto, sem gás, energia elétrica, água ou acesso à internet, os mais de 1.700 habitantes que ainda moram na região e arredores, segundo autoridades locais, recebem poucas notícias do front.

“Não temos rádio”, afirmou Kuzenko, dizendo que só recebem atualizações pelo “boca a boca”.

“Alguns dizem que Soledar está cercada, outros, que não está. Deixe que os militares decidam o que vai acontecer agora”, acrescentou.

Perto da escada íngreme que leva ao abrigo de Kuzenko, Oleksandr Sirenko diz esperar que as forças ucranianas se mantenham firmes, enquanto corta partes de janelas e pedaços do chão para fazer de lenha.

“Só esperamos que eles não recuem. Estamos com medo, mas para onde vamos?”, questionou.

– “Tentar viver e sobreviver” –

“Siversk foi cercada mais de uma vez”, disse Valentyna Kuteyko, coçando a orelha de um cachorro do lado de fora do porão onde mora desde março, inicialmente com 17 pessoas e agora com apenas seis.

“O que mais eles podem atacar?” questionou ao som da artilharia no fundo e comentou que, apesar de tudo, vai “continuar aqui, tentar viver e sobreviver”.

“Não temos medo, deixe-os atirar”, completou.

Dmytro Afanasiev, de 34 anos, disse que sabe pouco sobre as notícias do front e só quer que as mortes parem.

“Estamos preocupados que muitas pessoas estão morrendo”, afirmou.

Diante do intenso conflito a poucos quilômetros de distância, autoridades e voluntários tentam garantir os serviços básicos, disse Oleksiy Vorobyov, chefe da administração civil-militar de Siversk.

Eles distribuem itens essenciais, fazem pequenos reparos em prédios e recolhem o lixo dos moradores.

Vorobyov destacou que eles entregam fogões, lenha, comida e geradores elétricos, mas os residentes dizem que está faltando um item valioso chamado “paz”.