22/01/2025 - 14:44
Homem mais rico do mundo ajudou na reeleição do republicano e agora tem linha direta com a Casa Branca. Mas a motivação do bilionário será econômica, ideológica ou pessoal?O homem mais rico do mundo e um dos principais aliados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Elon Musk colocou seu considerável peso cultural e financeiro na bem-sucedida campanha presidencial do magnata nova-iorquino.
O multibilionário criou um comitê de ação política, o “America PAC”, para eleger Trump, injetou nele mais de 119 milhões de dólares (R$ 700 milhões) e passou semanas antes da eleição incentivando os eleitores dos estados-pêndulo a irem às urnas, chegando a oferecer prêmios de milhões de dólares. Além disso, contribuiu com mais de 280 milhões de dólares para candidatos republicanos em todos os níveis, no ciclo eleitoral de 2023-24.
Observadores sugerem que, como um dos principais apoiadores de Trump, Musk – cujo patrimônio líquido atual circula pelos 290 bilhões de dólares – está agora pronto para se beneficiar de uma linha direta para a Casa Branca. A questão é como.
Da África do Sul para os EUA
Nascido em Pretória, na África do Sul, filho do promotor imobiliário, engenheiro e ex-político local Errol Musk e da modelo e nutricionista canadense Maye Musk, o bilionário emigrou para os EUA nos anos 90.
Ele foi cofundador das primeiras empresas da internet, como o guia de cidades online Zip2 e a plataforma de serviços financeiros X.com, que mais tarde se fundiu com uma plataforma semelhante, o PayPal.
Hoje, é provavelmente mais conhecido por ter fundado a empresa privada de exploração espacial SpaceX e ter fornecido o financiamento para a criação da montadora de carros elétricos Tesla. Ele é o diretor executivo de ambas. Também fundou a construtora de túneis The Boring Company e a fabricante de implantes cerebrais Neuralink.
Musk tem falado abertamente sobre suas preocupações com a população humana e a necessidade de partir para outros planetas. Pai de pelo menos 12 filhos, em 2022, tuitou sua crença de que “o colapso populacional decorrente das baixas taxas de natalidade é um risco muito maior para a civilização do que o aquecimento global”, uma declaração criticada por cientistas climáticos e demógrafos.
Ele persegue sua ambição de colocar humanos em Marte por meio da Space X, que também formou parceria com a Nasa num projeto para levar astronautas à superfície do planeta vermelho na década de 2023.
Guinada à direita
Musk nem sempre apoiou Trump. Antes, descrevia-se como moderado, a meio caminho entre os democratas e os republicanos. Seu histórico de doações mostra contribuições para candidatos de ambos os partidos em nível estadual e nacional.
Em 2022, sugeriu que Trump era velho demais para ser presidente e que deveria “navegar em direção ao pôr-do-sol”. Trump respondeu que Musk havia “implorado” a ele por subsídios durante seu primeiro mandato na Casa Branca. Mas ao fim da eleição de 2024, qualquer inimizade havia desaparecido, e Musk estava firme nas boas graças de Trump.
Há tempos Musk é uma personalidade pública incendiária. Muito disso se deve ao seu alto perfil público na plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter. Em 2022, ele a adquiriu por 44 bilhões de dólares, rebatizando-a “X”. Durante seu tempo no comando, Musk também se tornou um reconhecido disseminador de desinformação.
Ele demitiu muitos membros da equipe, permitiu que usuários controversos e anteriormente banidos, inclusive Trump, voltassem à plataforma, e afugentou anunciantes. O que acabou provocando um êxodo de usuários e, na época da eleição, o X estava avaliado em cerca de um quinto do preço original pago por Musk.
Mas isso não parece preocupar Musk que, quando comprou o Twitter, se juntou a um grupo de vários bilionários com uma plataforma de mídia de massa. Outros, como o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, seguiram o mesmo caminho.
“Tem gente rica que […] quer continuar ganhando dinheiro e ver o mundo pelo prisma de seus interesses comerciais e acumular mais riqueza”, resume David Faris, professor associado de ciência política da Universidade Roosevelt, que escreveu sobre a influência da riqueza na política dos EUA.
“E há gente que é tão rica, que diz: ‘Não me importa se eu perder 44 bilhões de dólares comprando o Twitter’. [Musk] parece estar se enquadrando nessa última categoria. Ele está aproveitando sua riqueza de uma forma que não faz nenhum sentido econômico.”
Elon Musk entrará para a política?
Por ter nascido na África do Sul, ele não pode concorrer à presidência americana, mas, como cidadão americano, poderia se candidatar a um cargo mais baixo. Também poderia simplesmente trabalhar para influenciar a política por meio de suas conexões com Trump.
Steve Nelson, economista político da Northwestern University, observou a tendência dos bilionários de buscarem cargos políticos, embora isso viesse ocorrendo principalmente em autocracias. É menos comum nas democracias, onde eles preferem doar dinheiro para os candidatos que apoiam.
“Para alguém como Musk, provavelmente é o caso de você ter um interesse pessoal muito forte em seguir uma agenda política específica que acha que não pode ser controlada de uma forma mais indireta”, sugere Nelson.
Mesmo que ele se mantenha afastado da política, o relacionamento de Musk com Trump está estabelecido. Ele foi nomeado chefe-adjunto do Departamento de Eficiência Governamental, ou Doge, na verdade um painel de consultoria criado para reduzir os gastos do governo.
Nelson pode imaginar Musk tentando obter um cargo político, pois pode achar que estará mais bem posicionado para promover determinados objetivos se estiver de fato no poder, em vez de depender de outros. “Para Musk, acho que há uma crença quase messiânica em sua própria eficácia e uma agenda realmente clara em torno de tecnologias de ponta”, afirma Nelson.
A SpaceX provavelmente prosperará durante o segundo mandato trumpista, mas outros negócios de Musk talvez não. O novo velho presidente anunciou que reduzirá as iniciativas voltadas para o clima, inclusive no setor de transporte elétrico – principal sustento da Tesla.
Mas é possível que o apoio de Musk a Trump ajude a proteger suas empresas contra condições políticas desfavoráveis ou crie um ambiente mais lucrativo. Se for esse o caso, isso enfatizaria ainda mais a tendência de Musk de prever e aproveitar as mudanças culturais e políticas a favor de seus interesses.