07/12/2001 - 8:00
Quando anunciou a aquisição da Time Warner em janeiro de 2000, a AOL parecia soberana na negociação. Com seus conceitos revolucionários de administração e ocupando os principais cargos da nova companhia, a estrela da internet prometia modernizar a maior empresa de mídia do planeta, detentora da rede de TV CNN, da Warner Music, da Hanna Barbera, do canal para crianças Carton Network e das revistas Time e Fortune. Mas a euforia que levou às ações das companhias de tecnologia às alturas durou pouco. E as repercussões acabaram por chegar ao comando da companhia. O próprio fundador da AOL, Steve Case, deu o tom dos novos tempos com um surpreendente anúncio: deixa a cadeira de principal executivo do grupo Gerald Levin, 65 anos, o homem que tinha a missão de unir duas empresas de culturas distintas segundo os ditames da chamada Nova Economia. Assume, em seu lugar, o advogado Richard Parsons, 53 anos, com perfil diplomático e mais afeito a métodos tradicionais de gestão. Até a semana passada, Parsons ocupava formalmente a função de presidente da Time Warner e dividia o cargo de diretor de operações do conglomerado. A troca foi um recado velado aos analistas e investidores: agora, os destinos da companhia está nas mãos de pessoas do mundo real, que pouco têm em comum com as empresas que atuam na internet.
A Parsons caberá continuar a unificação das duas culturas que foram herdadas das antigas empresas. Do lado da internet (leia-se AOL) as notícias não são muito boas. Apenas dois dias depois da divulgação da saída de Levin, a Merrill Lynch publicou um relatório prevendo que as receitas da companhia estarão abaixo das expectativas. O texto apontava, entre outros motivos, a redução do crescimento das verbas obtidas com publicidade na internet, que devem aumentar apenas 2% em 2002, comparados com 14% este ano. Ainda de acordo com a Merrill Lynch, o número de assinantes dos serviços on-line deve subir 14% no ano que vem, pouco menos do que os 17% este ano. ?Nós tivemos expectativas mais altas para a economia e para a propaganda do que realmente está acontecendo?, admite Case. Os negócios de entretenimento (leia-se Time-Warner), por outro lado, vão na direção oposta. O exemplo mais conhecido é o bem-sucedido filme de Harry Potter, de que a Warner Bros. detém os direitos autorais. Parsons terá que aumentar a sinergia entre as duas partes para que a mídia tradicional possa alavancar os negócios ligados à internet.
Surpresa. Ao deixar o posto, Gerald Levin causou uma sensação de estranheza em seus colegas. Em reunião fechada com investidores dias depois do atentado ao World Trade Center, Levin parece ter aflorado um sentimentalismo que, suspeita-se, tenha se originado com a morte de seu filho três anos atrás. Sem se importar com os resultados desanimadores dos últimos trimestres, Levin prometeu a investidores que a AOL estava disposta a gastar recursos vultosos num fundo público de ação social. No começo do mês, um outro acontecimento minou ainda mais a relação dele com Steve Case. Sem o consentimento de seu superior, Levin fez uma proposta milionária para unir as operações de cabo da AOL aos da AT&T, líder no setor. O acordo não aconteceu, mas acabou sendo a gota d?água para que Case fizesse alterações nos cargos de sua confiança.