No poder desde 1982, chefe de Estado mais velho do mundo, Paul Biya vai concorrer a um oitavo mandato no país africano. Caso vença, ele poderá em tese permanecer no cargo até pouco antes de completar 100 anos.”O melhor ainda está por vir”. Essa é a promessa de campanha do presidente de Camarões, Paul Biya, de 92 anos, que concorre a um oitavo mandato como chefe de Estado. Ele já teve mais de 40 anos para moldar o destino de seu país – está no poder desde 1982.

Se for reeleito para mais um mandato de sete anos nas próximas eleições, em 12 de outubro, o atual chefe de Estado mais velho do mundo poderá permanecer no cargo até pouco antes de completar 100 anos.

Em 2008, Biya e seu partido aprovaram uma emenda constitucional que extinguiu qualquer limite de mandato para concorrer à reeleição.

Muitos moradores do país da região ocidental da África Central não acreditam mais em uma melhora sob o governo de Biya. Os jovens, em particular – mais de 36% da população tem menos de 18 anos –, carecem de perspectivas: desemprego, educação e saúde estão entre suas preocupações.

Por que seu regime é tão duradouro?

Um em cada quatro camaronenses vive abaixo da linha da pobreza, apesar da variedade de recursos naturais do país: petróleo, gás natural, alumínio, ouro, madeiras valiosas, café, cacau e algodão.

Camarões, que tem cerca de 30 milhões de habitantes, depende fortemente da economia chinesa, além da ajuda ao desenvolvimento enviada por países ricos. E corrupção e violações dos direitos humanos fazem parte do dia a dia.

O presidente costuma passar longos períodos no exterior, em clínicas e para passear, em especial em Paris e na Suíça.

Mesmo assim, muitos camaronenses encaram com indiferença a nova candidatura de Biya.

“Não é nenhuma surpresa”, diz o estudante Olivier Njoya à DW. “É uma pena que haja pessoas que não pensam no bem comum, mas apenas nos seus próprios interesses.”

Mas como um político consegue manter intacta sua estreita rede de poder por 43 anos?

É “impressionante como [Biya] é bom em manter o poder”, diz Christian Klatt, representante da Fundação Friedrich Ebert em Camarões, à DW. A fundação é vinculada ao Partido Social-Democrata alemão (SPD).

Vozes do próprio campo de Biya e da oposição afirmam que Biya sabe como colocar seus concorrentes uns contra os outros.

“Nos últimos anos, ninguém conseguiu representar uma ameaça para Biya”, diz Klatt, acrescentando que ninguém nunca se firmou como possível sucessor, seja dentro de suas próprias fileiras ou nos maiores partidos da oposição.

“Biya é muito bom em elogiar as pessoas enquanto as transfere para outros cargos”, afirma.

Qual é a chance de um golpe de Estado?

Particularmente na África Ocidental, generais insatisfeitos já tomaram o poder em golpes de Estado no passado. Klatt considera tal cenário impossível em Camarões.

“As Forças Armadas, que são sempre um fator de risco em muitos outros países, têm uma forte separação de poderes dentro de suas próprias estruturas. Portanto, nenhum grupo seria forte o suficiente para dar um golpe”, diz.

O partido de Biya, o Movimento Democrático Popular de Camarões (RDPC), está no poder desde a independência de Camarões em 1960 e é liderado pelo atual presidente desde 1982.

Não é improvável que Biya vença novamente as eleições, diz Klatt. “Seu partido no poder tem muitos apoiadores e é o mais bem representado em todo o país.

Em um processo eleitoral curto, o RDPC poderia superar outros partidos da oposição. No sistema eleitoral camaronês, um candidato precisa apenas de maioria simples para vencer a eleição, o que beneficia muito o atual presidente.

A oposição poderia se unir?

Um dos candidatos da oposição é Hiram Samuel Iyodi, de 37 anos. Um dos nomes mais jovens na atual campanha, ele foi lançado pelo partido MP3 (Movimento Patriótico para a Prosperidade do Povo), fundado em 2018.

“Os jovens, em particular, têm a impressão de que o sistema eleitoral camaronês é feito sob medida para o partido no poder”, diz Iyodi à DW.

“Estamos dizendo aos jovens camaronenses: se nos unirmos, podemos pôr fim a este regime que não é mais capaz de responder às atuais preocupações da população”, acrescenta.

Os esforços de partidos da oposição ao longo dos anos para criar um contrapeso à candidatura de Biya fracassaram devido às diferentes ideologias e às divisões internas: uma coalizão política, o Grupo Douala, entrou em colapso pouco antes do prazo final para formalizar as candidaturas presidenciais, em 22 de julho.

Biya tem realmente o controle?

Alguns especialistas, no entanto, não veem Biya como um homem forte, mas como um fantoche de um sistema político perverso.

De acordo com Philippe Nanga, analista político e ativista dos direitos humanos, o poder real já não está nas mãos do presidente, mas sim num pequeno grupo liderado pelo secretário-geral do presidente, Ferdinand Ngoh Ngoh.

“O secretário-geral agora assina quase todos os documentos que deveriam vir do presidente. Ele é onipresente, lidera missões políticas e resolve conflitos internos do partido, tarefas que normalmente são de responsabilidade do chefe de Estado”, diz Nanga.

Segundo Nanga, apesar da saúde frágil de Biya, ele continua sendo o único que pode preservar a unidade do partido.

“Assim que outra pessoa assumir oficialmente o poder, o partido se dividirá. Já existem profundas divisões internas”, diz Nanga. Algumas autoridades se opõem à reeleição do presidente, mas não ousam expressar isso abertamente por medo de represálias.

Como o governo lida com os dissidentes?

Muitos jornalistas, políticos e ativistas foram detidos arbitrariamente e agredidos fisicamente em Camarões.

Em seu último relatório anual, a organização não governamental Freedom House, com sede nos Estados Unidos, refere-se a ataques contra “a mídia independente, os partidos da oposição e as organizações da sociedade civil, que enfrentaram proibições e assédio”.

O cientista político Ernesto Yene afirma que o medo é o que mantém a fachada de estabilidade no sistema de Biya. “Qualquer um que ouse bater na mesa é rapidamente marginalizado”, diz Yene à DW.

“Na realidade, todos estão se escondendo atrás da candidatura de Paul Biya porque ela garante a todos a preservação de seus privilégios dentro do aparato do poder. Se outro candidato surgisse, o partido correria o risco de implodir.”

Colaboraram: Kossivi Tiassou, Etienne Gatanzi, Elisabeth Asen