Um dos maiores apagões cibernéticos registrados nos últimos anos afetou várias atividades nesta sexta-feira (19) em todo o planeta, incluindo companhias aéreas internacionais, bancos, hospitais, empresas ferroviárias e do setor de telecomunicações.

A falha foi provocada por uma atualização corrompida, nos sistemas operacionais Windows da Microsoft, de um programa de antivírus da empresa americana de cibersegurança CrowdStrike Falcon, que descartou um ataque hacker ou um problema de segurança cibernético.

Por volta das 13h15 (horário de Brasília), as ações da CrowdStrike caíam 8,80% e as da Microsoft, 0,42%, na Bolsa de Valores de Nova York.

“Gostaria de pedir desculpas pessoalmente a todas as organizações, grupos e indivíduos que foram afetados por esta interrupção”, declarou o diretor-geral da CrowdStrike, George Kurtz, à emissora americana CNBC.

Por sua vez, a Microsoft informou sobre um “problema” que deixava a tela azul. “Recomendamos aos clientes que sigam os conselhos proporcionados pela CrowdStrike para solucionar esta situação”, acrescentou a empresa.

Para o especialista em cibersegurança Junade Ali, esta falha “não tem precedentes” e, “sem dúvida, entrará para a história”.

“Tem impacto direto nos computadores dos usuários finais e sua solução pode exigir intervenção manual, o que representa um desafio importante”, afirmou.

A falha provocou perturbações em vários aeroportos internacionais, com problemas nos sistemas de check-in.

Na Espanha, todos os aeroportos foram afetados. No terminal de Barajas, em Madri, os passageiros precisaram ter paciência.

“Vamos voltar a Nice […] Temos muito medo de perder o voo, porque realmente não sei o que está acontecendo”, disse à AFP Blanca Arroyo, que tinha acabado de chegar da Colômbia.

Em uma mensagem publicada no início da tarde, a entidade que administra todos os aeroportos espanhóis, Aena, garantiu que “seus principais sistemas” tinham sido “restabelecidos”.

No aeroporto de Roissy, em Paris, um avião da Air France com destino a Berlim teve de retornar ao ponto de partida após 45 minutos de voo na manhã desta sexta-feira, constatou um jornalista da AFP.

– Horas no aeroporto –

As principais companhias aéreas dos Estados Unidos, incluindo Delta, United e American Airlines, começaram a retomar as atividades após o cancelamento de voos no início da manhã por “problemas de comunicação”.

“Um software de terceiros está afetando o funcionamento de nossos sistemas. Alguns voos poderão apresentar demoras […] favor dirigir-se ao aeroporto com pelo menos quatro horas de antecedência”, escreveu a companhia Copa Airlines na rede social X.

No México, os aeroportos de Guadalajara e Monterrey também pediram aos passageiros que chegassem com muitas horas de antecedência.

“Estamos esperando desde as 3h da manhã”, contou Juan Pablo Olvera, no aeroporto do México. “Como o sistema está fora do ar, os QR-codes não funcionaram”.

Em Berlim, o tráfego aéreo foi retomado parcialmente depois das 5h (horário de Brasília), indicou à AFP um porta-voz do aeroporto, onde houve aglomeração, com centenas de passageiros esperando instruções em plena temporada de férias.

Problemas similares afetaram os aeroportos de Amsterdã-Schiphol, nos Países Baixos, e Hong Kong, anunciaram as autoridades aeroportuárias desses países.

Na Suíça, o aeroporto de Zurique, o maior do país, informou que os aviões já podiam aterrissar novamente, após a suspensão dos pousos. Por outro lado, os aeroportos de Pequim não foram afetados, segundo a imprensa estatal chinesa.

Além de companhias aéreas e dos aeroportos, o apagão cibernético também afetou hospitais nos Países Baixos, a Bolsa de Valores de Londres e a principal empresa ferroviária britânica.

A programação do canal britânico Sky News foi interrompida. Na Austrália, a emissora nacional ABC anunciou que seus sistemas foram afetados por uma falha “importante”.

Na Nova Zelândia, a imprensa relatou problemas nos bancos e nos sistemas dos computadores do Parlamento.

– ‘Infraestruturas resistentes’ –

A falha também interrompeu “os sistemas de informática” dos Jogos de Paris 2024, informou o comitê organizador do evento, a uma semana da cerimônia de abertura, marcada para 26 de julho.

Contudo, as atividades “foram retomadas com normalidade” na tarde desta sexta, segundo os organizadores.

A dimensão global da falha levou alguns especialistas a destacarem o fato de que grande parte do mundo depende de um único fornecedor para serviços tão diversos.

“Temos que ter a consciência de que este tipo de software pode ser uma causa comum de falha em vários sistemas ao mesmo tempo”, disse o professor de Engenharia de Software John McDermid, da Universidade de York, na Inglaterra.

“Temos que desenvolver infraestruturas resistentes a esses problemas”, acrescentou.

Companhias aéreas como KLM (Países Baixos) e Ryanair (Irlanda) sofreram problemas em suas redes. O mesmo aconteceu com três linhas aéreas indianas, IndiGo, SpiceJet e Akasa Air, cujos sistemas de reserva foram afetados.

A Turkish Airlines anunciou o cancelamento de 84 voos, enquanto a Transavia France suspendeu cerca de 40.

Algumas companhias aéreas no aeroporto internacional de Singapura também relataram interrupções devido à pane cibernética.