Na noite de quinta-feira, 25 de maio, o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, ainda era alimentado por dois geradores de energia que, juntos, consumiam R$ 1 mil por dia. Na terça-feira anterior, a AES Eletropaulo havia cortado o fornecimento de eletricidade para a instituição. As visitas à exposição do momento ? ?Degas: o universo de um artista?, dedicada às obras do mestre do impressionismo francês Edgard Degas (1834-1917) ? foram momentaneamente interrompidas ao público. De acordo com a concessionária, o museu tinha uma dívida de R$ 3,4 milhões referente a contas atrasadas renegociadas em acordos realizados em julho de 2000 e fevereiro de 2004. Mais: do total devido, R$ 414 mil correspondem a um consumo irregular, o popular ?gato?. ?De dezembro do ano passado até a data do corte, havíamos feito oito reuniões com a diretoria do museu e nenhum plano nos foi apresentado?, diz Ricardo Lima, vice-presidente da AES Eletropaulo. A diretoria do Masp, representada pelo presidente Júlio Neves, limitou-se a emitir uma nota afirmando que as últimas onze contas mensais haviam sido pagas. Assegurava que ambas as partes achariam um meio de solucionar a pendência.

O apagão nas finanças e, literalmente, na eletricidade do Masp foi vexatório. Afinal, como um museu com acervo avaliado em US$ 1,5 bilhão, com a mais respeitada coleção da América Latina, pode se encontrar numa situação dessas? A resposta: o amadorismo na administração. As dívidas da instituição não se restringem à luz. Há ainda um débito de R$ 3,3 milhões com o INSS e uma parcela de R$ 2,6 milhões do prédio vizinho, também na Avenida Paulista, adquirido por R$ 12 milhões por um patrocinador cujo nome não é divulgado. O MASP tem uma renda anual de R$ 6 milhões composta por patrocínios, bilheteria e subsídios da prefeitura. Nos últimos anos, o número de visitantes diminui. Dos 850 mil freqüentadores em 1997, caiu à metade. Não havia, portanto, motivos para comprar um outro edifício. Os opositores de Júlio Neves também consideraram desnecessária a criação de um anexo no centro de São Paulo, na Galeria Prestes Maia, cuja reforma alcançou cerca de R$ 6 milhões. Há inépcia no tratamento do dinheiro público. O Masp tem direito, por lei municipal, a uma verba anual de R$ 1,6 milhão concedida pela prefeitura. A instituição tem uma única obrigação para receber o montante estabelecido: apresentar um plano de gastos anual. O relatório de 2006 não foi enviado até hoje. Funcionários da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo afirmam que, desde dezembro de 2005, não têm resposta.

A agonia do Masp é um exemplo de como não cuidar de uma instituição de arte. Não é preciso ir muito longe para ter exemplos de boa gestão. O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), por exemplo, conseguiu transformar a marca em um negócio valioso. Além das doações, a instituição tem uma programação bem definida das mostras que serão apresentadas durante o ano, consegue firmar parcerias com grandes empresas e revolucionou o modo de gerir um museu no País. Aos moldes do lendário MoMA de Nova York, é possível encontrar produtos com o logotipo do museu. ?A mediocridade dá o tom no Masp?, diz um dirigente do museu que prefere não se identificar. ?Há ausência total de planejamento, não há um calendário de exposições, o que afugenta a iniciativa privada?. É unânime a impressão que o Masp, a rigor, herdou o estilo de seus criadores, Assis Chateaubriand, fundados dos Diários e Emissoras Associados, e Pietro Maria Bardi, o crítico de arte que começou a montar o acervo nos anos 1940. Ambos negociavam telas às escuras, viveram acusados de montar um robusto caixa 2 e eram dados ao autoritarismo. Bardi escolhia e Chatô pagava os quadros com o dinheiro de amigos milionários Tinham, contudo, uma diferença em relação à atual administração: eram geniais.