21/03/2014 - 21:00
Um temor recorrente cresce por esses dias no meio empresarial por conta dos últimos acontecimentos: estará mesmo o Brasil à mercê do racionamento em larga escala de luz e água? E qual o custo que a eventual escassez desses insumos básicos trará para a produção e a economia como um todo? Governantes, de várias colorações partidárias, movidos por interesses políticos óbvios – como o da proximidade da corrida às urnas –, tratam de negar veementemente o risco. Mas, aqui e ali, sinais de que essa ameaça é mais real do que se imagina vêm aparecendo.
A Fiesp apontou que muitas empresas já estão vivendo sob racionamento. No motor econômico paulista, diversas regiões apresentam corte de fornecimento de água. O governador Geraldo Alckmin, para evitar o prejuízo de imagem, movimenta-se recorrendo a artifícios que garantam o abastecimento ao menos até às vésperas das eleições. Tenta a transferência de estoque de outros reservatórios. Pede ajuda federal. Mas nada parece capaz de conter o dique de problemas. O Sistema Cantareira chegou ao mais baixo nível de sua história e o fim da temporada de chuvas só agrava a situação.
As autoridades erraram feio ao desconsiderarem a regra básica de que, também nesse caso, seria melhor e mais barato prevenir que remediar. A Sabesp, responsável pela operação, já sabia e havia alertado desde o ano passado sobre as chances de um quadro de penúria do estoque. Por que então medidas reparadoras, como um plano de contenção, não foram tomadas? A aposta de que as chuvas de verão resolveriam acabou prevalecendo. Não vingou e a crise se estabeleceu.
Da mesma maneira, no plano federal, a imprudência na política tarifária de energia – com o governo distribuindo descontos a torto e a direito – trouxe consequências pesadas. Uma conta adicional de cerca de R$ 15 bilhões, em virtude de indenizações devidas às empresas transmissoras, fragilizou ainda mais o sistema. E assim a cobrança do gasto extra virá diretamente para os consumidores. Na forma de aumento de impostos. A tungada ficará, é claro, para depois do fechamento das urnas, truque antigo com o intuito de evitar a fuga de votos. No tocante à garantia de água e luz, prevaleceu novamente o casuísmo político. Para prejuízo de todos.