12/06/2017 - 8:33
O empresário Carlos Jereissati Filho, presidente do Grupo Iguatemi, que reúne shopping centers, um outlet e torres comerciais, diz estar otimista com o futuro do País, apesar das incertezas sobre a economia, sobretudo após as delações de Joesley e Wesley Batista, donos do JBS, gerando novas turbulências em Brasília. “A gente está vendo um cenário momentâneo de incerteza, mas estamos otimistas.”
Sobrinho do senador Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, que assumiu interinamente a presidência do PSDB, Jereissati Filho evita falar sobre a atual crise política. Tasso está no cargo por conta das denúncias que pesam sobre o senador Aécio Neves, até então à frente do partido. Questionado sobre a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na sexta-feira, 9, de rejeitar a cassação da chapa Dilma/Temer, o empresário preferiu não comentar. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
A atual crise política voltou a criar um clima de incerteza no País. A retomada do crescimento ficará comprometida?
A gente estava indo na direção correta. Antes, caminhávamos para o abismo (durante a gestão da presidente Dilma Rousseff). É surpreendente. Matemática não é opinião, matemática é ciência. Não tem outro caminho. Ninguém pode, em sã consciência, não querer o ajuste fiscal, a redução das dívidas públicas, equilíbrio das contas do governo. Ninguém que seja razoável não vai querer perseguir isso. É só olhar o caos que se formou no Rio de Janeiro. Você prejudica quem mais precisa ser defendido.
O sr. acha que o presidente Michel Temer, após essa mais recente crise, ainda terá força de conduzir as reformas?
O que posso dizer é que o presidente Temer estava no papel correto, que é reorganizar a economia brasileira. Não tem outro caminho. É mentira quem disser o contrário. Não existe um plano B. Tem de estabilizar a economia, voltar a confiança das pessoas, atrair investimentos para voltar a gerar emprego. Se não houver confiança, não haverá investimento. Só vai piorar.
Há um ano, o sr. tinha um discurso mais conservador em relação à possível expansão de seus negócios, quando o País estava no meio de uma recessão. Mantém essa percepção?
A gente tinha dito que 2017 seria um ano de desalavancagem e de esperar o que vai acontecer com a economia. Tudo isso dentro de um cenário que estava se reorganizando. Agora, com essa indefinição política, fica mais difícil pensar em retomada de investimentos. É um cenário de muita cautela. Vínhamos num momento de retomada na economia, com vários indicadores caindo, como inflação, juros. É o que as pessoas querem. Infelizmente, isso foi interrompido. Mas qualquer que seja a decisão (sobre as denúncias que pesam sobre Temer), é preciso que se vá adiante.
O setor de shoppings ensaia um movimento de consolidação. Há conversas para uma possível fusão entre BR Malls e Alliansce. O grupo Iguatemi deve participar desse movimento?
Não. Temos um portfólio desenhado, com ‘n’ alternativas de investimentos. O jogo hoje em dia no negócio de shoppings não é quantidade, mas a qualidade dos ativos. Temos várias alavancas de crescimento. Expansão é uma delas.
Há projetos que estavam em curso, mas que foram adiados por conta do cenário de cautela?
A gente tinha baixíssimo investimento para 2017. Temos o projeto de fazer um outlet no sul de Santa Catarina, que continua. A gente está vendo um cenário de incerteza momentâneo, mas estamos otimistas.
Há condições de continuar com as reformas como o planejado antes dessa crise?
Acredito que sim. Vou usar as palavras de Tasso Jereissati: o brasileiro responsável está pensando no Brasil, independentemente da força política no País. Tem de fazer o que é certo, continuar atualizando o Estado brasileiro. Não podemos chegar em 2020 com legislações dos anos 1940/1950. As relações de trabalho mudaram.
Esta é uma preocupação comum dos empresários? Com a atual crise, os empresários voltaram a conversar mais?
As pessoas conversam o tempo inteiro. Não só quando tem uma crise. Existe uma fantasia de que o empresariado age como se fosse da década de 1950. O Brasil foi atualizado. Antes, havia meia dúzia de famílias. Hoje, o Brasil tem milhões de empreendedores preocupados com seu negócio. É preciso atualizar o País. Não importa quem esteja lá. O caso da inflação é um exemplo. Demorou uns 30 anos para as pessoas perceberem que trabalhar com inflação alta não era bom. Um dia veio um presidente, estabilizou a economia e todos nós aplaudimos. Não podemos viver com amarras que impeçam o crescimento. Tudo isso vai ter de ser revisto. Seja hoje, amanhã ou depois.
O sr. acredita que a atual equipe econômica é essencial para seguir com as reformas?
Essa equipe está fazendo um ótimo trabalho. É lógico que as pessoas que estão fazendo um ótimo trabalho precisam continuar e fazer o que tem de ser feito. De novo, qualquer um que venha a entrar não tem muito espaço de manobra.
Mas as recentes delações geraram incertezas sobre as reformas. Aparentemente, não. Existe um consenso de um brasileiro silencioso, que é maioria, que defende que a economia vai continuar nesta direção. Ninguém ainda desacreditou que as coisas não vão ser feitas.
O que o sr. achou das gravações que vieram à tona?
Eu não olhei. Só pedaços que foram mostrados, não tenho opinião. Tudo está muito nebuloso ainda. Uma gravação contra presidente da República não é uma denúncia qualquer, precisa ser esclarecida. Não dá para prejulgar ninguém. É preciso ver de fato o que aconteceu e tirar conclusões.
Mas escancaram as relações entre o setor público e privado…
Isso demonstrou um pedaço. O setor privado é muito maior do que se mostrou ali. Da mesma forma que existe gente boa e má na política, bons e maus empresários. Não pode pegar um momento que houve má ação de uma determinada empresa e extrapolar isso. Essa generalização não ajuda em nada. Pelo contrário, está desnudando uma época de maus relacionamentos. Isso não pode ser extrapolado para o político que luta para dar certo. O Brasil não chegou onde chegou só com gente ruim. É o caso atual dos Estados Unidos agora. Os EUA não podem ser julgados pelo atual presidente. O Brasil é maior do que isso.
Qual ajuste deve ser feito?
O ajuste fino é cada vez mais transparência, melhoria das regulações. Os órgãos de controle funcionam. A sociedade não admite mais. Não pode pegar episódio errado e contaminar o sistema. Temos instituições que funcionam, não somos uma república de bananas. Houve uma depuração. Foi o caso do Collor (ex-presidente Fernando Collor de Mello) e está sendo agora de novo. Estão sendo usadas as regras do jogo para depurar o que acontece. Isso é extremamente otimista dentro de uma sociedade que está se formando.
Qual o cenário que o sr. vê para 2018? Há candidatos já colocados, como o ex-presidente Lula, João Doria e Jair Bolsonaro.
Não se pode esquecer do governador Alckmin (Geraldo Alckmin, de São Paulo). É prematuro ainda. Vão surgir nomes. Acho que o Estado de São Paulo está bem posicionado. O Alckmin fez um belíssimo trabalho, o Doria também está fazendo.
O ambiente político está muito marcado pela Lava Jato. Qual sua avaliação dessa operação?
A Lava Jato é mais um instrumento de atualização do Brasil, como tantos outros. Estão saindo alguns atores da política, os velhos métodos, e estão entrando outros. Esse reequilíbrio nos três poderes é essencial. Nenhum poder pode ser supremo.
O sr. tem um discurso de quem reflete bastante sobre política. Pretende seguir o DNA da família e entrar na política?
Não tenho ambição política. Me interesso pelo Brasil. O que eu faço é fazer a economia girar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.