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SABOR LOCAL: loja da East Dawning em Xangai

Se até na casa do ferreiro o espeto é de pau, por que na terra do macarrão o cozinheiro não pode ser brasileiro? Em um mundo onde a globalização venceu fronteiras, o improvável se torna sinônimo de sucesso. Destaca-se quem souber explorar, com originalidade, as peculiaridades de cada nação – o que os americanos já fazem com maestria. Prova disso é a Yum! Brands, a maior rede de fast-food do mundo, que de uns tempos para cá virou especialista em pratos internacionais. Mais do que isso, a empresa vende comida mexicana no México, brasileira no Brasil e, mais recentemente, chinesa na China. A novidade já virou sensação entre os chineses. O restaurante fast-food East Dawning oferece pratos tipicamente locais, mas com uma megaestrutura americana. A história da companhia mostra que, em uma economia global, a importância não está tanto no que você vende, mas como vende. E foi apostando nesta idéia que a rede brasileira Spoleto iniciou a sua expansão internacional, rumo à Itália. “O fato de o nosso produto principal ser a massa, preferência do consumo mundial, facilita muito a aceitação lá fora. Mas a nossa grande vantagem está no conceito de apresentação, uma exclusividade brasileira que proporciona customização do prato, interatividade com o cliente, refeição rápida e saudável”, afirma Antônio Moreira Leite, diretor de marketing. A estratégia de expansão rendeu à empresa um faturamento de aproximadamente R$ 210 milhões em 2007, sendo R$ 1,5 milhão de receita das lojas internacionais – sete no México e cinco na Espanha. “O país que poderia apresentar alguma resistência, pela questão da concorrência, já não nos assusta mais. Dois importantes grupos italianos demonstraram interesse no jeitinho brasileiro de fazer macarrão. Estrearemos por lá em breve.”

Aventurar-se em terras estrangeiras parece mesmo uma questão acertada, quase primordial. Se David Novak, CEO da Yum! Brands, tivesse se contentado com os 2% de crescimento anual das redes de fast-food nos EUA, a gigante teria deixado de embolsar quase US$ 5 bilhões no ano passado. Proprietária das marcas Pizza Hut, KFC, Taco Bell e East Dawning, a rede está presente em mais de 110 países. Atualmente, as lojas internacionais são responsáveis por 50% dos lucros da companhia. O salto no faturamento não veio por acaso. A Yum! Brands mudou radicalmente em 1997, após sua separação do grupo Pepsi Co. Depois de alguns passos em falso, a empresa recuou, reviu os seus conceitos de expansão, para depois acertar. É o que mostra a história do KFC no Brasil. Quando em 1996 a rede de fastfood apareceu vendendo o tradicional frango frito no balde, o brasileiro logo torceu o nariz. O KFC deixou o País poucos anos depois e só voltaria a se aventurar por aqui em 2003. Desta vez, encontrou a dose certa: soube se adaptar ao gosto local, sem perder sua identidade. Passaram a fazer parte do menu pratos bem brasileiros, com arroz, feijão, purê de batata, farofa e saladas. “Trata-se de uma estratégia ideal. O que se faz é lançar complementos que atendam ao gosto local, sem deixar os produtos-ícones de lado”, afirma Flávio Maia, diretor de marketing, expansão e franquias da Brazil Fast Food Corporation. O sanduíche à parmegiana também foi criado especialmente para os brasileiros.

700 lojas mundiais da Yum! Brands foram abertas nos últimos sete anos

Trajetória semelhante teve o Taco Bell no México, em 1992. O fast-food não agradou em nada à população local. Recentemente, a rede voltou à região, na cidade de Monterrey, com o slogan: “Es otra cosa”. Os produtos de agora não são mexicanos, mas inspirados na comida mexicana. Novak acredita que a estratégia de oferecer a culinária “amexicanizada” vai abrir portas para 300 novas lojas no país neste ano. A performance do CEO tem sido impecável. Cerca de 700 lojas mundiais foram abertas nos últimos sete anos. Isso sem contar a China, a galinha dos ovos de ouro de Novak. No total, os lucros da empresa na China, ao lado de Tailândia e Filipinas, subiu 37% no último ano, enquanto nos outros países não ultrapassou nem 11%. Em 2007, os chineses presenciaram a abertura de quase um loja KFC por dia. Juntos, Pizza Hut e KFC somam 2.300 lojas no país – o McDonald’s tem mil restaurantes. Mas essa trajetória bemsucedida teve uma importante aliada: a surpreendente ascensão econômica na China. Com um poder de compra maior e com uma vida mais urbanizada, os chineses estão com hábitos cada vez mais parecidos aos dos ocidentais. As tradicionais refeições em família se tornam raras. No entanto, a comida local continua sendo a de preferência nacional. Por isso, o East Dawning faz tanto sucesso. É aqui que a Yum! Brands ganha mais uma vez.