O empresário Léo Xavier, sócio e CEO da Pontomobi, grupo brasileiro composto por seis empresas especializadas no desenvolvimento de aplicativos para smartphones e tablets, tinha duas razões especiais para estar na semana passada no Mobile World Congress, a maior feira de telecomunicações do planeta, em Barcelona. 

A Pontomobi utilizou o evento para marcar o início de sua operação na Europa. A atuação nesse mercado será feita por meio de parceria operacional com a agência inglesa de marketing móvel Addictive Mobile. O outro motivo é tão ou mais importante do que o início da internacionalização. 

 

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“Vamos reforçar a posição de protagonistas no Brasil e ganhar fôlego para a expansão internacional”

Léo Xavier, ceo da Pontomobi  

 

A companhia anunciou na capital da Catalunha que incorporou ao seu grupo a também nacional Finger Tips, uma das principais desenvolvedoras de aplicativos para equipamentos móveis, especialmente iPhone. 

 

Pelo acordo, a Finger Tips absorverá a Mobmídia, empresa da Pontomobi especializada em aplicativos e em publicidade veiculada em jogos para celulares. “A FingerTips é reconhecidamente a melhor empresa de desenvolvimento de aplicativos no mercado”, diz Xavier. “Nossa associação tem como objetivo reforçar a posição de protagonistas no mercado brasileiro e ganhar fôlego para a expansão internacional.” 

 

Segundo Renato Gosling, diretor comercial da Finger Tips, a união dará origem a uma nova empresa cujo nome ainda está indefinido, mas que deve se aproveitar de alguma maneira das marcas Finger Tips e Pontomobi. 

 

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“Os veículos de comunicação resolveram entrar de vez para o universo do tablet”

Youssef Mourad, ceo da Digital Pages

 

“O objetivo da companhia que nasce dessa associação é o desenvolvimento de aplicativos de uma maneira geral e também de programas para games”, afirma Gosling. O faturamento anual resultante da união da Finger Tips com a Mobimídia é de R$ 10 milhões.  

 

A incorporação da Finger Tips pelo grupo Pontomobi, que com a transação deve faturar R$ 20 milhões em 2011, é a nova fase de um jogo no qual a denominação dada aos  programas destinados a smartphones e tablets, têm papel decisivo. 

 

É fácil entender a razão: como os smartphones estão se tornando rapidamente parte do cotidiano de um número crescente de brasileiros, aumenta a demanda por programas de variados tipos, como serviços, entretenimento e conteúdo. 

 

Assim, operadoras, empresas de mídia, agências de publicidade e anunciantes contratam as desenvolvedoras para criarem aplicativos que estarão disponíveis em celulares e tablets.

 

À primeira vista, o potencial desse setor é enorme no Brasil: no ano passado, foi registrada a venda de três milhões de smartphones, o triplo das unidades comercializadas em 2009, de acordo com a consultoria Gartner.  

 

Ainda se trata de um número baixo, é certo, em um mercado que registrou 206 milhões de linhas de celulares em 2010, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 

 

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“Iremos desenvolver aplicativos em geral e programas para games”

Renato Gosling, diretor comercial da Finger Tips

 

Mas é a velocidade e o potencial para expansão que deixam os desenvolvedores eufóricos. “A demanda por smartphones fez surgir uma grande quantidade de aplicativos”, diz Xavier. 

 

“É por isso que procuramos ir além do desenvolvimento do software e oferecemos um trabalho de planejamento, auxiliando na elaboração da estratégia dos anunciantes.” Marcelo Castelo, sócio da F.Biz, agência digital paulista que desenvolve aplicativos para ações de marketing, concorda com ele. “Esse negócio explodiu e uma das razões para isso é que a maioria dos aplicativos pode ser baixada gratuitamente”, afirma. 

 

Os smartphones exercem um papel fundamental nesse processo porque, com eles, houve a disseminação da banda larga 3G, que permite ao usuário o acesso a conteúdos mais complexos do ponto de vista de processamento de dados, como vídeo e jogos. 

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O fenômeno foi acompanhado pelo gradativo barateamento de aparelhos de melhor qualidade, alimentando um ciclo virtuoso.  “Os smartphones deram um passo importante para a verdadeira inclusão digital no Brasil”, afirma Alex Pinheiro, presidente da Hands Mobile, outra importante desenvolvedora brasileira de aplicativos. Com sede no Rio de Janeiro, a empresa pertence ao fundo de investimento Ideiasnet e já realizou trabalhos para companhias como Itaú e a Universidade Estácio de Sá. 

 

Se os smartphones deram o empurrão inicial no mercado de aplicativos, a nova onda agora são os tablets. A demanda por programas que rodem nesses equipamentos não para de crescer. 

 

Uma das razões para a boa aceitação dos tablets é que esses equipamentos, além de contar com uma rede de banda 3G em franco desenvolvimento no Brasil, são agradáveis de usar. 

 

Isso é fundamental para cair nas graças de públicos abrangentes, e não apenas dos aficionados por tecnologia. É por ter características como essas, por exemplo, que o tablet também tem ampla aplicação no mercado corporativo. 

 

O desenvolvimento de aplicativos para iPads destinados a equipes de vendas ou outros serviços, por exemplo, é uma realidade hoje para companhias como a Tecnisa e a Bovespa, entre outras. 

 

“O setor de ensino a distância também é um filão, pois é possível usar o equipamento para aulas remotas ”, afirma o diretor-executivo da agência digital Ginga, Pedro Del Priore.

 

Entre os maiores clientes das desenvolvedoras de aplicativos para tablets, no entanto, estão as empresas de mídia, que buscam lançar suas versões adaptadas para iPad. 

 

Atenta a esse movimento, a empresa paulistana Digital Pages, que ganhou espaço no mercado no início da década passada com a criação de versões para a internet de jornais e revistas, correu para ocupar o novo mercado. 

 

“Os projetos para tablets são responsáveis pela maior parte dos contatos que recebemos atualmente”, afirma Youssef Mourad, CEO da Digital Pages. “Esse movimento é reflexo do fato de que os veículos de comunicação resolveram entrar de vez para o universo do tablet.”