01/12/2021 - 19:24
Um aplicativo de celular gratuito que detecta Covid-19 a partir do som da tosse e criado por uma organização sem fins lucrativos. É o que planeja e executa a Virufy, organização de pesquisa dirigida por voluntários de 25 renomadas universidades de 20 países.
Ainda em fase de coleta de dados e em negociação com governos de alguns países para validar a operação, a Virufy aprimorou uma Inteligência Artificial capaz de analisar os ruídos que a inflamação causada pelo coronavírus produz nas vias respiratórias superiores, o que é imperceptível ao ouvido humano.
+ Dados da África do Sul sugerem que Ômicron contorna parte, mas não toda, imunidade
+ OMS: é cedo para avaliar impacto da Ômicron, vacinação e medidas devem continuar
A iniciativa coleta sons de tosse na América, Europa e Ásia com a promessa de 80% de precisão nos diagnósticos de Covid-19, número que ainda pode aumentar com o avanço das pesquisas. No entanto, diferentemente de um exame de PCR, por exemplo, o teste do aplicativo pode ser repetido inúmeras vezes no mesmo dia, o que possibilita diluir a margem de imprecisão.
“Existe uma alteração no padrão de voz de acordo com a variante do coronavírus. A Delta resulta em uma tosse seca. Precismos checar a diferença no som das variantes como a Ômicron”, disse Amil Khanzada, fundador e CEO da Virufy, à IstoÉ Dinheiro. Khanzada argumenta que a inteligência artificial é também capaz de reconhecer e distinguir a nova cepa a partir da análise dos ruídos.
O banco de dados da Virufy conta com mais de 100 mil tosses enviadas por colaboradores de todo o mundo. Quem tiver suspeita de Covid-19 ou testou positivo ao vírus e quiser colaborar com a iniciativa pode enviar sua tosse ao site.
“Recomendamos veementemente que qualquer pessoa do Brasil que tenha sintomas semelhantes aos do Covid, ou que recentemente testou positivo para o vírus, doe sua tosse. Ao fazer isso, você estará ajudando diretamente a acabar com a pandemia”, lembra Matheus Galiza, gerente de Extensão da Comunidade da Virufy no Brasil.
Khanzada chega ao Brasil na próxima semana com uma agenda de reuniões para firmar parcerias com hospitais e universidades brasileiras interessadas em colaborar com o projeto. Há negociações em andamento para firmar parcerias com hospitais universitários da Paraíba, Santa Catarina e São Paulo. Atualmente, há uma colaboração já estabelecida com o Hospital Regional Hand Dieter Schmidt, em Joinville (SC).
“Quando um paciente for ao hospital em Joinville para fazer teste de PCR será convidado a participar da pesquisa e tossir em um celular fornecido pela Virufy. Coletaremos esses dados de exames PCR e tosse e então cruzaremos os dados”, explica Diego Carvalho, especialista em fisiologia, que espera alcançar 2 mil pacientes brasileiros em um mês para compor a pesquisa.
“É uma ferramenta importante de detecção precoce, mais barata para aplicar em larga escala, e a intenção é fornecer de graça à população”, completa Carvalho.
Principais obstáculos
Por ser uma organização sem fins lucrativos, a Virufy conta com apoio de milhares de voluntários e o apoio de grandes empresas, como a Amazon. Khanzada diz que não gastou mais de U$ 1 mil no projeto, que ainda busca apoio e financiamento para conseguir viabilizar o serviço de testagem viral em massa de maneira gratuita.
Outra questão enfrentada são as legislações de diversos países em relação à proteção de dados dos cidadãos. A Virufy negocia com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação e regulamentação do serviço como um teste de diagnóstico para Covid-19, mas cada país possui uma legislação própria e única, o que requer negociação e o enfrentamento da burocracia estatal.
Como o foco do projeto são países economicamente em desenvolvimento e com déficit na testagem contra a Covid-19, Khanzada esteve na última semana na Colômbia para viabilizar o aplicativo. O grupo também foca a atuação em alguns países latino-americanos, como Argentina, Peru, Uruguai e México.
Apesar de ser uma iniciativa inovadora em termos de saúde pública e tecnologia, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nesta quarta-feira (1), segundo o jornal Washington Post, que 37% da população mundial (2,9 bilhões de pessoas) nunca teve acesso à internet.