19/12/2022 - 5:00
Após 16 anos do lançamento do projeto FX-2, o caça sueco F-39 Gripen E/F entra em operação amanhã na Força Aérea Brasileira (FAB). Trata-se da mais moderna aeronave em operação na América Latina, que vai equipar o 1.º Grupo de Defesa Aérea (1.º GDA), em Anápolis (GO).
“O recebimento das primeiras aeronaves Gripen simboliza um marco para a Força Aérea Brasileira. É a concretização de um projeto de longo prazo, que se traduz agora em capacidades operacionais que o País nunca teve”, disse o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da FAB.
A renovação da aviação de caça é um dos principais projetos estratégicos do Ministério da Defesa. Inicialmente, ele previa a compra e a entrega até 2027 de 36 Gripen por US$ 3,7 bilhões ou R$ 20 bilhões em valores atuais. Mas outras quatro aeronaves foram acrescidas neste ano ao contrato em vigor, totalizando 40 caças, que serão produzidos pela Saab em parceria com a Embraer. A FAB estuda ainda adquirir mais 26 Gripen por meio de outro contrato.
“Considero que, diante das dimensões continentais que o País possui, a aquisição de um segundo lote é uma necessidade que deve ser imediatamente analisada”, afirmou o comandante da FAB. Para ele, apesar das dificuldades fiscais do Brasil, é preciso que seja assegurado o fluxo de recursos para que o projeto mantenha “uma cadência de entregas adequada”.
As quatro primeiras unidades fabricadas na Suécia e trazidas para o Brasil em navios serão incorporadas amanhã ao 1.º GDA. As 15 últimas do primeiro lote de 36 caças serão construídas no País. “As parcerias formadas entre Brasil e Suécia garantem uma ampla transferência de tecnologia, que tem resultado em benefícios significativos em toda a cadeia produtiva envolvida”, disse Baptista Junior.
O acordo para a compra do Gripen prevê ainda o treinamento de dois anos para 350 profissionais que vão cuidar da preparação das aeronaves na planta da Saab em São Bernardo do Campo e da montagem final na planta da Embraer, em Gavião Peixoto (SP).
Foi ali que pilotos de prova da FAB, da Embraer e da Saab executaram ensaios em voo, parte do programa de transferência tecnológica, para que os caças recebessem a licença inicial de operação. Só então os quatro aparelhos puderam ser transferidos para o 1.º GDA, na Base Aérea de Anápolis (BAAN).
REFORMA. A base passou por três obras para abrigar as novas aeronaves. A primeira foi no hangar de manutenção, a segunda, nos chamados hangaretes da linha de voo – as garagens de aeronaves – e a última, nas instalações do 1.º GDA, cujo prédio foi dividido em duas grandes alas, uma administrativa e outra operacional, para abrigar os sistemas de missão e de suporte do Gripen, com a montagem de simuladores de voo e estações de planejamento e produção.
Por enquanto, os F-39 ficarão em Anápolis, mas o comando da FAB estuda distribuí-los em outras bases, de acordo com a necessidade operacional, a disponibilidade de infraestrutura e a posição geográfica. É que o Gripen vai substituir paulatinamente os F-5M, caça de fabricação americana que entrou em serviço no Brasil em 1975 e cuja modernização, executada pela Embraer, terminou em 2020.
Hoje, o F-5M é operado nas bases de Anápolis, de Canoas (RS) e do Rio. A entrada em operação dos Gripen marcará o último ato da gestão do atual comandante da FAB. Baptista Junior pretendia passar o comando da Força quatro dias depois para seu sucessor, o tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, antes da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, mas foi convencido pelo futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, a ficar no cargo
“É um marco para a Força Aérea Brasileira, a concretização de um projeto de longo prazo, que se traduz agora em capacidades operacionais que o País nunca teve.”
ESCOLHA. Foi em uma concorrência com os caças F-18 Hornet americano e Rafale francês que o Gripen foi escolhido pela FAB para equipá-la nas próximas décadas. “O conjunto formado pelo novo vetor e os modernos armamentos adquiridos coloca a defesa aeroespacial brasileira em um elevado patamar, com um poder dissuasório inédito”, disse Baptista Junior.
Segundo a FAB, o avião pode receber mísseis ar-ar de curto e de longo alcance, mísseis ar-superfície e bombas guiadas por laser ou GPS para emprego contra alvos na terra e no mar. A carga em armamentos externos pode ser de até sete toneladas – a aeronave pode decolar com peso máximo de 16,5 toneladas para missões de defesa aérea, ataque e reconhecimento sem precisar voltar para a base e mudar a sua configuração.
Embaixo das asas, o Gripen pode carregar até sete mísseis BVR Meteor e dois mísseis infravermelhos Iris-T. Ambos foram comprados recentemente pela FAB, após o abandono do projeto em parceria com a África do Sul para o fornecimento de mísseis. No futuro, o Gripen poderá disparar mísseis cruzeiro.
Segundo a FAB, o Gripen voará com sua capacidade completa em 2025. Só então todos os sistemas da nova aeronave estarão integrados, testados e prontos para serem empregados em combate. São sistemas que contaram com a participação de empresas brasileiras no desenvolvimento da produção de peças estruturais e de aviônicos – a eletrônica de bordo dos aviões -, além de suporte logístico para a manutenção no País.
Um deles foi o desenvolvimento do Wide Area Display(WAD) pela empresa AEL, uma solução tecnológica que foi adotada pela Força Aérea Sueca, transformando o fabricante brasileiro em fornecedor para os F39 Gripen E/F produzidos para os dois países – a Suécia adquiriu 60 desses caças.
TREINAMENTO. Os pilotos brasileiros selecionados para voar o Gripen fazem um treinamento de seis meses na Suécia, voando o Gripen C/D, uma versão mais antiga do caça. Após essa etapa, o treinamento é concluído no Brasil, já com o novo Gripen E, modelo adotado pela FAB, que será a primeira a operá-lo. Aqui, a Aeronáutica está terminando de criar o pacote de treinamento que vai durar um ano, incluindo a parte teórica dos sistemas do avião, o treinamento no simulador e os voos reais.
O maior desafio para os pilotos será aprender a gerenciar os múltiplos sistemas embarcados no Gripen de forma quase simultânea. É que o caça é uma aeronave com múltiplas funções e armamentos inexistentes na FAB. Além disso, ele tem potência e manobrabilidade superiores aos das aeronaves atuais e equipamentos de última geração, como o radar eletrônico capaz de encontrar alvos a distâncias superiores, inclusive com detector passivo por infravermelho.
Para suas tarefas, o piloto do Gripen contará com um sistema de controle de voo e de piloto automático, o que permitirá que sua atenção seja voltada mais para os sistemas de combate, sem ser sobrecarregado com o trabalho para o voo básico.
O custo da hora de voo do F39 é de US$ 4,5 mil, bem menor do que os US$ 15 mil de seu concorrente francês, o Rafale. É com esse avião “barato” que a FAB pretende recuperar sua capacidade de defesa do espaço aéreo em um entorno estratégico que abriga o caça russo Sukhoi SU-30, da Venezuela, e o americano F-16, do Chile.
O início de uma nova era na defesa aérea do Brasil
A mais nova máquina de guerra do Brasil pode muito. Pode voar a 2.400 km/h e a 16 km de altitude. Cobre a distância entre São Paulo e Rio em 12 minutos e leva debaixo das asas seis toneladas de mísseis e bombas. Uma dessas armas, o míssil Meteor, atinge alvos a até 200 km. Custa, a peça, US$ 2,5 milhões. O segundo míssil é o Iris-T, para atuar no raio de 30 km. Sai por US$ 430 mil. Ambos são fornecidos por consórcios europeus. Carregado para sua missão básica, a defesa aérea, cobre 1.500 km de raio de ação.
O novo caça da FAB, o F-39 Gripen E/F, recebido com festa na base aérea de Anápolis, é o mais avançado avião de combate da América Latina. O lote contratado com o fornecedor sueco Saab – 36 aeronaves por US$ 3,7 bilhões, em 2014, com transferência de tecnologia – cresceu. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Batista Jr. anunciou, em abril, a extensão da encomenda para mais 4 supersônicos. Ele também abriu negociações de um segundo lote, com 26 unidades.
Os Gripen ficarão com o 1.º Grupo de Defesa Aérea (GDA) de Anápolis. O plano prevê que parte da frota equipe uma nova base. O caça não vai envelhecer. Seu software é de arquitetura aberta, facilita a atualização constante.
O F-39 é o último caça multimissão que a FAB compra fora do País. O tempo de convivência com o novo caça é estimado em 40 anos. Passando por até seis processos de atualização, eles podem operar até 2063. Segundo um brigadeiro ouvido pelo Estadão, “é tempo suficiente para toda a pesquisa e desenvolvimento que um programa desses implica”.
Os fundamentos da ideia consideram necessidade estratégica e possibilidades comerciais. A base industrial do setor, liderada pela Embraer Defesa & Segurança, já reúne 42 organizações. A referência de tudo é o atual contrato com a Saab. Os 8 caças do modelo F de dois lugares estão sendo projetados por um bureau binacional, com engenheiros suecos e brasileiros.
No futuro, o sucessor do F-39 disputará um mercado denso. Para competir na segunda metade do século terá de estar no estado da arte, incorporando tecnologia ‘stealth’ de furtividade, para dificultar a detecção. Eventualmente, poderá ser empregado como aeronave líder de esquadrões de drones armados. Ou mesmo voar sem piloto, de forma autônoma, orientado por inteligência artificial.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.