SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do mercado de juros futuros subiam nesta terça-feira, com operadores reagindo a uma ata do Copom considerada mais dura com a inflação e colocando mais fichas na possibilidade de altas de juros para além de março e numa Selic mais elevada ao final do ciclo de aperto, enquanto os bancos também ajustavam suas projeções.

A curva de DI embutia 49,59 pontos-base de alta do juro básico no Copom de maio, acima dos 44,29 pontos-base da véspera. Para a reunião de junho, os contratos mostravam 21,17 pontos-base de acréscimo, ante 14,76 pontos-base na segunda-feira. Para agosto, a precificação saltou a 8,38 pontos-base, de 1,21 ponto-base na sessão anterior.

“Na ata de hoje, o Comitê ajustou o tom e foi mais explícito sobre o BC ver necessidade de uma postura de política monetária mais apertada do que o cenário de referência –onde taxas sobem para 12% em maio, caem para 11,75% no fim deste ano e para 8% em 2022– para levar a inflação de volta à trajetória de metas em tempo hábil”, disseram em relatório Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, da área de pesquisa econômica do J.P.Morgan.

Com isso, o banco vê agora alta de 0,50 ponto percentual do juro em maio, além da de 1 ponto já prevista para março, com a Selic terminando o ciclo em 12,25%, ante previsão anterior de 11,75%.

Para o Barclays, a ata do Copom enviou duas mensagens: o Comitê vê a necessidade de aumentar a taxa Selic acima do que está embutido em seu cenário de referência (portanto, acima de 12%), mas pretende fazê-lo em uma velocidade menor, em várias etapas.

O banco notou que na semana passada o colegiado já havia utilizado a expressão “próximos passos”, em vez de linguagem no singular, e, assim, decidiu revisar sua estimativa em prol de uma alta de 50 pontos-base em maio.

“A ata de hoje é ainda mais clara ao sinalizar a probabilidade de ‘ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões’, o que para nós significa que o BCB planeja elevar a Selic pelo menos mais duas vezes, provavelmente em 100 pontos-base em março e 50 pontos-base em maio”, disse o Barclays em nota, vendo manutenção da Selic em 12,25%.

Na mesma linha, o Bank of America revisou a projeção de juro terminal para 12,25%, vendo alta de 0,50 ponto percentual em maio. “A ata do Copom foi ‘hawkish’ (dura com a inflação), apontando riscos de descolamento de expectativas relacionadas a possíveis renúncias fiscais sobre combustíveis”, disse David Beker, economista e estrategista para Brasil do BofA.

Também classificando a ata como “hawkish”, Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs, disse ver inclusive risco de um aumento de 1,25 ponto percentual do juro em março, a depender da evolução da inflação –seu cenário-base ainda é de acréscimo de 1 ponto.

Assim como o J.P.Morgan, o Goldman também destacou cenário de um início mais cedo dos cortes de juros dada a chance de aperto mais agressivo agora.

“Em nossa avaliação, uma trajetória de alta mais agressiva das taxas no primeiro semestre de 2022 provavelmente seria acompanhada por uma maior probabilidade de cortes no fim do ano, quando o foco da política monetária estará nas previsões de inflação condicional vis-à-vis as metas de 2023 e 2024”, disse Ramos.

O J.P.Morgan vê chances de o ciclo de corte começar no início de 2023.

“Supondo que o próximo governo ofereça uma abordagem pragmática em relação às perspectivas da política fiscal, mudamos nossa previsão de primeiro corte de 50 pontos-base no juro do início do segundo trimestre de 2023 para o fim do primeiro trimestre de 2023.”

(Por José de Castro)

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