19/04/2023 - 7:13
Após críticas dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a “violação da integridade territorial da Ucrânia” – embora sem mencionar a Rússia, que iniciou a guerra contra o país vizinho.
No fim de semana, em visita aos Emirados Árabes Unidos, Lula havia acusado os EUA e a Europa de prolongarem o conflito no Leste Europeu. A declaração gerou reação internacional, com a Comissão Europeia e a Casa Branca rebatendo as críticas feitas pelo líder brasileiro.
Já nesta terça-feira (18/04), ao receber o presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, em Brasília, Lula amenizou o tom e disse que seu governo condena a violação do território, ao mesmo tempo que defende “uma solução política negociada para o conflito”.
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O presidente voltou a defender a criação “urgente” de um grupo de países capazes de mediar o fim da guerra, “que tente sentar-se à mesa tanto com a Ucrânia como com a Rússia para encontrar a paz”.
Lula disse ainda que expressou ao líder da Romênia, país que faz fronteira com a Ucrânia, sua preocupação com as consequências da guerra, “que extrapolam o continente europeu”.
“Reiterei minha preocupação com as consequências globais desse conflito em matéria de segurança alimentar e energética, especialmente sobre as regiões mais pobres do planeta”, afirmou o petista.
Apenas um dia antes, na segunda-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, havia viajado ao Brasil, onde se reuniu com seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, e com Lula.
Lula e a guerra
Em visita a Abu Dhabi no último domingo, Lula declarou que a Europa e os Estados Unidos contribuem para a continuidade da guerra na Ucrânia.
“A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia Volodimir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra”, disse o presidente na ocasião.
Ele também voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. “A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países.”
No dia anterior, no final de sua visita à China, Lula já havia defendido o fim do envio de armamentos para Ucrânia e afirmado que os Estados Unidos precisavam “parar de incentivar a guerra”.
A guerra na Ucrânia teve início em 24 de fevereiro de 2022, após a Rússia invadir o país vizinho. Desde o início do conflito, Kiev passou a receber armamentos e munições de vários países europeus e dos EUA, o que possibilitou segurar o avanço russo e transformar uma guerra que Putin planejava terminar em poucas semanas em um conflito que já dura mais de um ano.
O governo brasileiro chegou a receber pedidos dos europeus para que vendesse munições aos ucranianos. O tema chegou a ser tratado durante a visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, ao Brasil, em fevereiro deste ano. Lula, no entanto, recusou os pedidos e afirmou que o Brasil não iria se envolver na guerra.
A reação dos EUA e da UE
Nesta segunda-feira, Washington e Bruxelas reagiram às mais recentes declarações de Lula.
O porta-voz da Comissão Europeia para Negócios Estrangeiros e Políticas de Segurança, Peter Stano, rebateu as acusações e defendeu a postura adotada pelos aliados ocidentais.
“Não é verdade que os EUA e a UE estejam ajudando a prolongar o conflito. A verdade é que a Ucrânia é vítima de uma agressão ilegal, uma violação da Carta das Nações Unidas”, afirmou o representante de Bruxelas.
“É verdade que a UE, os EUA e outros parceiros ajudam a Ucrânia em sua legítima defesa”, disse Stano, ressaltando que a outra opção seria a “destruição” do país.
Já o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, acusou Lula de “papaguear” propaganda russa e chinesa sobre a guerra e disse que o presidente brasileiro estaria “simplesmente mal orientado”.
“É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra”, disse Kirby.
“As declarações mais recentes do Brasil de que a Ucrânia deveria considerar ceder formalmente a Crimeia como uma concessão pela paz são simplesmente equivocadas, especialmente para um país como o Brasil, que votou para defender os princípios de soberania e integridade territorial na Assembleia Geral da ONU”, concluiu.
Kirby se referiu a uma outra fala de Lula, no início de abril, em que ele sugeriu à Ucrânia que cedesse a Crimeia a Moscou a fim de negociar o fim da guerra. A declaração gerou reação de indignação de Kiev, que “deixou claro que a Ucrânia não faz comércio com os seus territórios”.
ek/lf (ots)