“Eu aprendi que doar dinheiro é muito bom, mas não basta. Você tem que fazer outras pessoas fazerem o mesmo.” É o que diz o fundador da Cyrela, Elie Horn, que em 2025 vai completar dez anos na lista dos super-ricos que prometeram doar parte de sua fortuna ainda em vida. Como parte do plano para convencer outros a fazer o mesmo, Horn agendou para o dia 6 uma reunião com 20 empresários brasileiros. 

Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, Horn contou que o novo projeto “ficou em gestação por dois anos”, e que esse será apenas o primeiro encontro. “Vai começar a primeira reunião desses 20 empresários voluntários para gerar ideias para o bem, é um ‘think tank’ (laboratório de ideias) do bem.”

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Sem dar detalhes sobre nomes ou empresas dos participantes, o empresário descreveu que são “20 pessoas muito bem de vida, todas com vontade de fazer o bem”. O objetivo é reunir ideias de iniciativas de doação de dinheiro para caridade e obras sociais. “Não é lucro, não é venda, é doar”, defende Horn, que vai completar 80 anos em 2024.

Primeiro brasileiro a doar fortuna em vida

Foi em 2015 Elie Horn e sua esposa, Suzy, entraram na lista do projeto The Giving Pledge, programa criado em 2010 por Bill Gates (Microsoft) e Warren Buffett (Berkshire Hathaway) para estimular bilionários a doar ao menos metade de suas fortunas ainda em vida para causas beneficentes. 

Com o compromisso de direcionar 60% de seus recursos para doações, Elie e Suzy foram os primeiros brasileiros a entrar na lista. Mais tarde, em 2021, foi a vez de David Vélez, fundador do Nubank, ao lado de sua esposa, Mariel Reyes. 

“O que eu aprendi é que nós somos anões em relação a eles”, diz Horn sobre os signatários de outros países do The Giving Pledge. “O que eles dão em porcentagem é muito maior que qualquer número no Brasil”.

Segundo a lista de bilionários da construção Forbes de 2023, a fortuna de Horn estava estimada em aproximadamente R$ 3,1 bilhões. Já Velez e sua família, de acordo com o ranking divulgado pela revista neste mês, têm uma fortuna estimada em mais de R$ 50 bilhões.

Vale destacar que os únicos quatro brasileiros na lista não nasceram no país. Elie, que também tem nacionalidade brasileira, nasceu na Síria e Suzy, no Chile. David nasceu na Colômbia e Mariel, no Peru. 

‘Piada da vida’ 

Elie Horn conta que aprendeu sobre a importância da caridade com o pai, Raphael Horn, ainda durante a infância. A família vivia das vendas de uma loja de tecido no Líbano, onde morava durante a infância de Elie (o caçula de sete irmãos). Mas eles passaram por uma situação difícil após perderem tudo que tinham na década de 50. 

Viveram então um ano na Itália para, depois, virem para o Brasil. Elie se lembra de ver sua família passando por dificuldades financeiras, mas seu pai, quando conseguiu se reerguer, doou seu dinheiro para caridade. 

A situação difícil da família àquela época em nada se parece com a vida que Elie leva hoje com a esposa, seus 3 filhos e 5 netos. Agora, ao comparar os dois momentos de sua trajetória, ele diz que vê uma “piada da vida”, tomando como exemplo a vontade que sentia de ter um carro quando não tinha dinheiro. 

“É uma piada, uma piada. Um carro custa hoje R$ 60 mil, não sei, que seja. Eu sonhava com uma coisa que nunca tive”, diz. 

“Antes, com pouco dinheiro, podia fazer muito mais. Só que esse pouco dinheiro eu não tinha. Hoje vejo uma gozação da vida, uma piada: você pode, e hoje não interessa. Antes interessava e não podia. Esse é um conflito contínuo que existe.”

‘A empresa da minha vida’ 

Elie começou os trabalhos que dariam origem à Cyrela aos 19 anos. Ele começou atuando com a compra e venda de imóveis, mas operava alavancado (isto é: sem dinheiro, pegava um empréstimo para dar um sinal pelo imóvel e corria para vendê-lo e pagar o restante, em uma corrida contra os juros). Apesar de arriscado, o negócio deu certo, e se tornou a empresa familiar que hoje é uma das maiores do setor imobiliário no país. A Cyrela foi fundada com este nome em 1963.

“Não existe não dar certo para quem trabalha, não existe. Pode ganhar pouco ou muito, mas vai ganhar, é certeza absoluta”, diz Horn. 

“Obviamente que é a empresa da minha vida”, conta o empresário. Atualmente, o fundador faz parte do conselho da Cyrela, mas dedica a maior parte do seu tempo à filantropia. “Não tem duas horas que eu não fale com pessoas sobre (fazer) o bem. Eu gasto quase oito horas por dia de trabalho.”

Os afazeres incluem conhecer projetos que necessitem de ajuda, mas também os esforços de convencimento de mais pessoas com recursos. Um dos trabalhos de filantropia mais conhecidos é o Instituto Liberta, fundado por Horn em 2017 com o objetivo de combater a exploração sexual infantil. Outra iniciativa é o Movimento Bem Maior, que tem como objetivo fomentar a filantropia no Brasil e conta com a participação de empresários, como Eugênio Mattar (Localiza), Jayme Garfinkel (Porto) e Rubens Menin (MRV), entre outros.

Entre as outras instituições que têm o envolvimento do empresário estão a ONG Nosso Olhar, voltada para educação e inclusão de pessoas com deficiência, e o Instituto Cyrela, responsável pelo Investimento Social Privado (ISP) de todo o Grupo Cyrela.

Enquanto isso, dois dos herdeiros de Elie Horn seguem no comando da empresa: seus filhos Efraim e Raphael Horn são co-presidentes.

Apesar de se mostrar cada vez mais satisfeito com a decisão de doar parte de sua fortuna, Elie Horn revela que sente uma “pequena frustração”, em parte, pela percepção de que sua ação não será suficiente diante de tantas necessidades no país. “A minha ambição é maior do que a minha capacidade de fazer acontecer.”